Escurecimento global é a
designação dada à redução da quantidade de radiação direta global na superfície
terrestre, observada ao longo de várias décadas após o início de medições
sistemáticas na década de 1950. Pensa-se que tenha sido causado por um aumento
da quantidade de aerossóis atmosféricos, como o carbono negro, devido à acção
do Homem. Este efeito variava com a localização, mas sabe-se que a nível
mundial a redução ocorrida foi da ordem dos 4% ao longo das três décadas entre
1960 e 1990. Esta tendência inverteu-se na década de 1990. O escurecimento
global interferiu com o ciclo hidrológico por via da redução da evaporação e
pode ter estado na origem de secas ocorridas em várias regiões. Por outro lado,
o escurecimento global cria um efeito de arrefecimento que poderá ter mascarado
parcialmente os efeitos dos gases do efeito estufa no aquecimento global.
Causas e efeitos
Pensa-se que o escurecimento
global ficou provavelmente a dever-se ao aumento do número de partículas de
aerossóis na atmosfera terrestre, resultado da acção do Homem. Os aerossóis e
outros particulados absorvem a energia solar e reflectem a luz do sol de volta
para o espaço. Os poluentes podem ainda transformar-se em núcleos em volta dos
quais se formam as gotículas que compõem as nuvens. O aumento da poluição
acarreta a produção de maiores quantidades de particulados o que dá origem à
formação de nuvens com um maior número de pequenas gotículas (isto é, a mesma
quantidade de água encontra-se dispersa num maior número de gotículas). As
gotículas mais pequenas tornam as nuvens mais reflectoras, aumentando assim a
quantidade de luz solar que é reflectida de volta para o espaço e diminuindo
aquela que atinge a superfície terrestre.
As nuvens interceptam tanto
o calor proveniente do sol como o calor radiado pela Terra. Os seus efeitos são
complexos e variam com o tempo, localização e altitude. Geralmente, durante o
dia, a intercepção da luz solar é predominante, resultando num efeito de
arrefecimento; durante a noite a re-radiação do calor para a Terra, abranda a
perda de calor desta.
Trabalhos de pesquisa
China Oriental. Dezenas de incêndios ardem na
superfície (pontos vermelhos) e um manto de fumo cobre a área. Imagem do
satélite Aqua da NASA
Em finais da década de 1960,
Mikhail Ivanovich Budyko trabalhou com modelos climáticos simples de equilíbrio
de energia e em duas dimensões enquanto investigava a reflectividade do gelo.
Descobriu que o mecanismo de retorno gelo-albedo, criava um ciclo de retorno
positivo no sistema climático. Quanto mais neve e gelo existem na superfície da
Terra, maior é a quantidade de radiação solar que é reflectida para o espaço,
logo mais fria a Terra se torna e mais neve cai. Outros estudos concluíram que
a poluição ou uma erupção vulcânica podiam conduzir-nos rapidamente a uma era
glacial
Em meados da década de 1980,
Atsumu Ohmura, um investigador em geografia a trabalhar no Instituto Federal
Suíço de Tecnologia, descobriu que a radiação solar que atingia a superfície
terrestre havia diminuído em mais de 10% ao longo das três décadas anteriores.
As suas descobertas encontram-se em aparente contradição com o aquecimento
global - a temperatura global tem vindo a subir de forma continuada. Menos luz
a atingir a Terra deveria resultar no arrefecimento desta. Ohmura publicou as
suas conclusões na obra Secular variation of global radiation in Europe em
1989. A
este trabalho de Ohmura seguir-se-iam em breve outros .Vivii Russak em 1990
publica Trends of solar radiation, cloudiness and atmospheric transparency
during recent decades in Estonia[5] e Beate Liepert em 1994 publica Solar
radiation in Germany - Observed trends and an assessment of their causes. O escurecimento também foi observado em vários locais
um pouco por toda a antiga União Soviética. Gerry Stanhill que publicou vários
estudos sobre este assunto, cunhou a expressão escurecimento global .
Pesquisas independentes em
Israel e nos Países Baixos em finais da década de 1980, mostraram uma redução
aparente na quantidade de luz solar[9], que foi estimada ser em média de 2 a 3%
por década, com a possibilidade de a tendência ter sido invertida no início da
década de 1990. É difícil efectuar uma medição precisa, devido à dificuldade
existente na calibração da instrumentação utilizada e à cobertura espacial
limitada. No entanto, o efeito encontra-se quase de certeza presente.
A redução ocorridda (2 a 3%,
conforme indicado acima) deve-se a mudanças no interior da atmosfera terrestre;
a quantidade de radiação solar nas camadas exteriores da atmosfera variou
apenas uma fracção daquela quantidade.
Ponte Golden Gate com a característica nuvem castanha
da Califórnia em fundo -- um possível contribuinte para o escurecimento global.
Foto CC 2004 de Aaron Logan
O efeito de escurecimento
varia enormemente de local para local na superfície da Terra, mas algumas estimativas
para os valores na superfície são:
5.3% (9 W/m²); no período
1958-85 (Stanhill and Moreshet, 1992
2% por década no período
1964-93 (Gilgen et al, 1998)
2.7% por década (20 W/m² no
total); até 2000 (Stanhill and Cohen, 2001)
4% no período 1961–90
(Liepert, 2002)
Note-se que estes valores
referem-se à superfície terrestre não sendo uma média global. Desconhece-se se
ocorreu escurecimento (ou clareamento) sobre os oceanos apesar de uma medição
específica ter medido os efeitos do escurecimento a aproximadamente 650 km da
Índia sobre o Oceano Índico em direcção às Maldivas. Os efeitos regionais são
provavelmente dominantes mas não estão estritamente confinados a áreas de terra
firme, sendo dependentes da circulação regional de ar. As maiores reduções
foram encontradas nas latitudes médias do Hemisfério Norte. A zona do espectro
de luz mais afectada parece ser a faixa da luz visível e infravermelha .
Dados obtidos com tanques evaporimétricos
Ao longo dos últimos 50
anos, os dados sobre evaporação obtidos por meio de tanques evaporimétricos têm
sido cuidadosamente estudados. Durante décadas, ninguém prestou grande atenção
aos dados obtidos com tanques evaporimétricos. Mas na década de 1990 os
cientistas repararam em algo que na altura foi considerado bastante estranho: a
velocidade de evaporação estava a diminuir apesar de se esperar que aumentasse devido
ao aquecimento global. A mesma tendência foi observada na China ao longo de um
período similar. A diminuição da irradiância solar tem sido apontada como sendo
a força por detrás deste fenómeno. No entanto, ao contrário de outras regiões
do globo, na China a diminuição da irradiância solar não foi sempre acompanhada
por um aumento da nebulosidade e precipitação. Acredita-se que os aerossóis
podem ter um papel decisivo na diminuição da irradiância solar observada na
China.
O produtor da série BBC
horizon, David Sington, crê que muitos cientistas que estudam o clima, vêem os dados
dos tanques evaoporimétricos como a prova mais convincente do escurecimento
solar. As experiências com tanques evaporimétricos são fáceis de reproduzir com
equipamento de baixo custo, existindo inúmeros equipamentos deste tipo
utilizados pela agricultura um pouco por todo o mundo, e em muitos casos
existem registos de dados ao longo de quase meio século. Porém, a evaporação
medida depende de vários factores adicionais, além da radiação solar. Dois
destes factores são o défice de pressão de vapor e a velocidade do vento. Um
tanto surpreendentemente a temperatura ambiente parece ser um factor
negligenciável. Os dados dos tanques evaporimétricos corroboram os dados
obtidos pelos radiômetros e preenchem os espaços em branco existentes nos dados
obtidos com piranómetros. Efectuados os ajustamentos para estes factores, os
dados obtidos com tanques evaporimétricos têm sido comparados com resultados de
simulações climáticas
Causas prováveis
Imagem da NASA mostrando esteiras de condensação
produzidas por aviões e nuvens naturais. O desaparecimento temporário de
esteiras de condensação sobre a América do Norte devido à suspensão dos vôos
após os ataques de 11 de Setembro de 2001, e o aumento da amplitude térmica
diurna que daí resultou, forneceu uma evidência empírica do efeito de finas
nuvens de cristais de gelo na superfície terrestre
A combustão incompleta de
combustíveis fósseis (como o diesel) ou da madeira, liberta carbono negro para
a atmosfera. Apesar do carbono negro, a maior parte do qual é fuligem,
constituir uma fracção extremamente pequena da poluição do ar ao nível do solo,
tem um efeito significativo no aquecimento da atmosfera em altitudes superiores
a 2 000 m. Além disso, escurece a superfície dos oceanos ao absorver radição
solar
Experiências efectuadas nas
Maldivas (comparando a atmosfera sobre as ilhas do norte e do sul do arquipélago)
na década de 1990 mostraram que o efeito dos poluentes macroscópicos presentes
na atmosfera nessa altura (trazidos pelo vento desde a Índia) provocou uma
redução de 10% na quantidade de luz solar que atingiu a superfície terrestre na
zona sob a nuvem de poluentes - uma redução muito maior que a esperada pela presença
das próprias partículas .Antes do início deste estudo, as previsões apontavam
para um efeito de 0.5 a 1% devido à matéria particulada; o desvio relativamente
às previsões poderá ser explicada pela formação de nuvens em que as partículas
funcionam como núcleos à volta dos quais se formam gotículas. As nuvens são
muito eficazes na reflexão de luz para o espaço.
O fenômeno por detrás do
escurecimento global pode ter também efeitos regionais. Enquanto grande parte
da Terra aqueceu, as regiões situadas a sotavento de importantes focos de
poluição aérea (especialmente emissões de dióxido de enxofre) dum modo geral
arrefeceram. A mesma explicação poderá existir para o arrefecimento do leste
dos Estados Unidos relativamente ao oeste que se tornou mais quente.
Alguns cientistas colocam a
hipótese de as esteiras de vapor produzidas por aviões estarem implicadas no
escurecimento global, mas o fluxo constante de tráfego aéreo impedia que esta
hipótese fosse testada. A paragem quase total do tráfego aéreo civil durante os
três dias que se seguiram aos ataques de 11 de Setembro de 2001 ofereceu aos
cientistas uma oportunidade única para observar o clima dos Estados Unidos na
ausência de esteiras de vapor no céu. Durante este período, foi observado um
aumento da amplitude térmica diária em cerca de 1 °C em algumas partes do
Estados Unidos. Por outras palavras, as esteiras de vapor poderão aumentar as
temperaturas nocturnas e/ou baixar as temperaturas diurnas de um modo mais
significativo do que anteriormente se pensava .
As cinzas vulcânicas
dispersas na atmosfera podem reflectir os raios solares para o espaço
arrefecendo o planeta. Foram observadas diminuições na temperatura da Terra
após grandes erupções vulcânicas como as do Monte Gunung Agung, Bali em 1963,
El Chichón, México, 1983, Nevado del Ruiz, Colômbia 1985 e Pinatubo, Filipinas,
1991. No entanto, mesmo no caso de grandes erupções, as nuvens de cinza
dissipam-se passado relativamente pouco tempo.
Inversão recente de tendência
De acordo com estimativas feitas com base em dados de
satélite a quantidade de aerossóis capazes de bloquear a luz solar diminuiu em
todo o mundo (linha vermelha) desde a erupção do Pinatubo em 1991. Créditos:
Michael Mishchenko, NASA
Wild et al., recorrendo a
medições efectuadas sobre terra, registam um clareamento dos céus desde
1990enquanto Pinker et al. apontam para a manutenção do escurecimento (ainda
que reduzido) sobre terra e clareamento sobre os oceanos .Assim, estes dois
grupos de investigadores estão em desacordo relativamente ao escurecimento
sobre terra. Um estudo patrocinado pela NASA feito em 2007 utilizando dados
obtidos por satélites, mostra que a quantidade de luz solar que atinge a
superfície terrestre vinha decrescendo nas últimas décadas, aumentando
repentinamente cerca de 1990. Esta mudança de tendência de "escurecimento
global" para uma de "clareamento global", aconteceu assim que os
níveis de aerossóis na atmosfera começaram a baixar.
É provável que pelo menos
uma parte desta mudança súbita, em particular sobre a Europa, fique a dever-se
a uma diminuição da poluição. A maioria dos governos das nações desenvolvidas
têm feito um esforço de redução dos aerossóis libertados na atmosfera, o que
ajuda a reduzir o escurecimento global.
Os aerossóis de sulfatos
diminuíram significativamente desde 1970 nos Estados Unidos e Europa devido às
regulamentações ambientais adoptadas. Nos Estados Unidos, segundo a EPA, entre
1970 e 2005, o total de emissões dos seis principais poluentes do ar, incluindo
particulados, diminuiu 53 %. Em 1975, os efeitos até então mascarados dos gases
do efeito estufa começaram finalmente a fazer-se sentir e têm dominado desde
então
A Baseline Surface Radiation
Network (uma rede de monitorização de radiações ligada à Organização
Meteorológica Mundial) (BSRN) recolhe dados de medições de superfície desde o
início da década de 1990. A análise de dados recentes revela que a superfície
do planeta ficou mais clara cerca de 4% durante a década passada. Esta
tendência de clareamento é corroborada por outros dados, incluindo as análises
de dados de satélite.
Ciclo hidrológico
Esta figura mostra o nível de acordo entre um modelo
climático composto por cinco variáveis e o registo histórico de temperaturas. A
componente negativa identificada como "sulfate" está associada com as
emissões de aerossóis a que se atribui o escurecimento global
A poluição de origem humana
pode estar a enfraquecer seriamente o ciclo da água na Terra - reduzindo a
precipitação e ameaçando as reservas de água para consumo humano. Um estudo
efectuado por investigadores da Scripps Institution of Oceanography em 2001,
sugere que as minúsculas partículas de fuligem e outros poluentes têm um efeito
importante no ciclo hidrológico. "A energia que faz mover o ciclo
hidrológico vem da luz solar. À medida que o sol aquece os oceanos, a água
escapa para a atmosfera e cai sob a forma de chuva. Assim, uma vez que os
aerossóis diminuem bastante a quantidade de luz solar que atinge a superfície
terrestre, eles podem estar a abrandar o ciclo hidrológico do planeta.",
de acordo com o professor V. Ramanathan.
Mudanças dos padrões
climáticos em grande escala podem também ter sido causadas pelo escurecimento
global. Os modelos climáticos sugerem, de modo algo especulativo, que esta
redução da luz solar à superfície pode ter conduzido à interrupção da monção na
África sub-saariana nas décadas de 1970 e 1980, a que se juntaram várias
situações de fome, como a seca do Sahel, causada pelo arrefecimento do Oceano
Atlântico devido à poluição oriunda do hemisfério norte.
Por esta razão, a cintura de
chuva tropical poderá não ter subido até à sua latitude norte normal,
provocando assim a ausência de chuvas sazonais. Esta afirmação não é
universalmente aceite e é muito difícil de testar.
Conclui-se ainda que o
desequilíbrio entre o escurecimento global e o aquecimento global à superfície
conduz a fluxos turbulentos de calor para atmosfera mais fracos. Isto significa
que uma redução da evaporação a nível global e logo da precipitação, ocorre num
mundo mais escuro e mais quente, o que poderia em último caso conduzir a uma
atmosfra mais húmida que produz menos chuva.
Uma forma natural de
escurecimento em grande escala foi identificada como tendo influenciado a
temporada de furacões do hemisfério norte em 2006. Um estudo da NASA concluiu
que várias tempestades de pó de grandes dimensões ocorridas no Saara nos meses
de Junho e Julho enviaram grandes quantidades de poeiras para o Atlântico, as
quais através de vários efeitos provocaram o arrefecimento das águas -
diminuindo assim a probabilidade de desenvolvimento de furacões.
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