Radiação solar é a
designação dada à energia radiante emitida pelo Sol, em particular aquela que é
transmitida sob a forma de radiação electromagnética. Cerca de metade desta
energia é emitida como luz visível na parte de frequência mais alta do espectro
electromagnético e o restante na do infravermelho próximo e como radiação ultravioleta.
A radiação solar fornece anualmente para a atmosfera terrestre 1,5 x 1018 kWh
de energia, a qual, para além de suportar a vasta maioria das cadeias tróficas,
sendo assim o verdadeiro sustentáculo da vida na Terra, é a principal
responsável pela dinâmica da atmosfera terrestre e pelas características
climáticas do planeta.
Densidade média do Fluxo Energético
A densidade média do fluxo
energético proveniente da radiação solar é de 1367 W/m2, quando medida num
plano perpendicular à direcção da propagação dos raios solares no topo da
atmosfera terrestre. Aquele valor médio, designado por constante solar, foi
adoptado como padrão pela Organização Meteorológica Mundial, isto apesar de
flutuar umas tantas partes por mil de dia para dia e de variar com a constante
alteração da distância da Terra ao Sol que resulta da elipticidade da órbita
terrestre e das alterações na superfície do Sol (cromosfera e coroa solar), as
quais apresentam pontos quentes e frios em constante mutação, para além das
erupções cromosféricas e todos os outros fenómenos que se traduzem na formação
das manchas solares e na complexa dinâmica dos ciclos solares.
A quantidade total de
energia recebida pela Terra é determinada pela projecção da sua superfície
sobre um plano perpendicular à propagação da radiação (π R2, onde R é o raio da
Terra). Como o planeta roda em torno do seu eixo, esta energia é distribuída,
embora de forma desigual, sobre toda a sua superfície (4 π R2). Daí que a
radiação solar média recebida sobre a terra, designada por insolação seja 342
W/m 2, valor correspondente a 1/4 da constante solar. O valor real recebido à
superfície do planeta depende, para além dos factores astronómicos ditados pela
latitude e pela época do ano (em função da posição da Terra ao longo da
eclíptica), do estado de transparência da atmosfera sobre o lugar, em
particular da nebulosidade.
A radiação solar é
geralmente medida com um piranómetro ou com um piréliometro, ou mais
recentemente com recurso a radiómetros capazes de registar a composição
espectral e a energia recebida.
Composição espectral
Espectro da irradiância
solar acima da atmosfera (azul) e à superfície terrestre (amarelo).
A radiação solar que atinge
o topo da atmosfera terrestre provém da região da fotosfera solar, uma camada
ténue de plasma com aproximadamente 300 km de espessura e com uma temperatura
superficial da ordem de 5800 K.
Dada a dependência entre a
composição espectral e a temperatura, traduzida na chamada lei de Planck, a
composição espectral da luz solar corresponde aproximadamente àquela que seria
de esperar na radiação de um corpo negro aquecido a cerca de 6000°C, embora
apresentando uma clara assimetria resultante da maior absorção da radiação de
comprimento de onda mais curto pelas camadas exteriores do Sol (veja figura à
direita).
Em termos de comprimentos de
onda, a radiação solar ocupa a faixa espectral de 100 nm a 3000 nm (3 μm),
tendo uma máxima densidade espectral em torno dos 550 nm, comprimento de onda
que corresponde sensivelmente à luz verde-amarelada.
A parte mais alongada do
espectro (para a direita na imagem ao lado), tem a sua máxima intensidade na
banda dos infravermelhos próximos, decaindo lentamente com a diminuição da
frequência.
No que respeita à radiação
mais energética, isto é de comprimento de onde mais curto, apesar da maior
parte ser absorvida pela atmosfera, a radiação ultravioleta que atinge a
superfície da Terra é ainda suficiente para provocar o bronzeado da pele (e as
queimaduras solares a quem se exponha excessivamente).
Interação com a Terra
A energia solar incidente
sobre a atmosfera e a superfície terrestre segue um de três destinos: ser
reflectida, absorvida ou transmitida.
A energia refletida e o albedo
Parte substancial da energia
recebida sobre a superfície terrestre é reenviada para o espaço sob a forma de
energia reflectida. As nuvens, as massas de gelo e neve e a própria superfície
terrestre são razoáveis reflectores, reenviando para o espaço entre 30 e 40% da
radiação recebida (enquanto a Lua reflecte sob a forma de luar apenas 7 a 12%
da radiação incidente). A esta razão entre a radiação reflectida e incidente
chama-se albedo.
Absorção atmosférica
Conforme pode ser observado
na imagem ao lado, entre a irradiância do Sol medida fora da atmosfera (linha
azul) e a energia que atinge a superfície da Terra (linha amarela) existem
diferenças substanciais resultantes da absorção atmosférica. Esta é selectiva,
atingindo o seu máximo em torno dos pontos centrais dos espectros de absorção
dos gases atmosféricos (indicados na imagem).
Repare-se a elevada absorção
do ozónio (O3) atmosférica na banda dos ultravioleta e no efeito do vapor de
água (H2O) e do dióxido de carbono (CO2), estes actuando essencialmente sobre
os comprimentos de onda maiores.
Esta absorção selectiva está
na origem do efeito de estufa, devido ao facto da radiação terrestre,
resultante do retorno para o espaço da radiação solar por via do aquecimento da
Terra, ser feita essencialmente na banda dos infravermelhos longos, radiação
para a qual o CO2 tem grande capacidade de absorção.
A parcela absorvida dá
origem, conforme o meio, aos processos de fotoconversão e termoconversão. Na
fotoconversão, a energia absorvida é remetida, embora em geral com frequência
diferente, sendo os novos fotões em geral sujeitos a novas absorções, num
efeito em cascata que em geral termina numa termoconversão, a qual consiste na
captura da energia e a sua conversão em calor, passando o material aquecido a
emitir radiação com um espectro correspondente à sua temperatura, o que, no
caso da Terra, corresponde à radiação infravermelha que forma o grosso da
radiação terrestre.
Transmissão
De toda a radiação solar que
chega às camadas superiores da atmosfera, apenas uma fracção atinge a
superfície terrestre, devido à reflexão e absorção dos raios solares pela
atmosfera. Esta fracção que atinge o solo é constituída por uma componente
directa (ou de feixe) e por uma componente difusa.
Para além das duas
componentes atrás referidas, se a superfície receptora estiver inclinada com
relação à horizontal, haverá uma terceira componente reflectida pelo ambiente
circundante (nuvens, solo, vegetação, obstáculos, terreno).
Antes de atingir o solo, as
características da radiação solar (intensidade, distribuição espectral e
angular) são afectadas por interacções com a atmosfera devido aos efeitos de
absorção e espalhamento. Essas modificações são dependentes da espessura da
camada atmosférica atravessada (a qual depende do ângulo de incidência do Sol,
sendo maior ao nascer e pôr-do-sol, daí a diferente coloração do céu nesses
momentos). Este efeito é em geral medido por um coeficiente designado por
Coeficiente de Massa de Ar (AM), o qual é complementado por um factor que
reflete as condições atmosféricas e meteorológicas existente no momento.
O equilíbrio energético no planeta
Em média, da radiação solar
incidente (sobre o sistema Terra/atmosfera):
* 19 % é perdida por absorção
pelas moléculas de oxigénio e ozónio da radiação ultravioleta (de alta energia)
na estratosfera (onde a temperatura cresce com a altitude);
* 6% é perdida por difusão
da luz solar de menor comprimento de onda - azuis e violetas - (o que faz com
que o céu seja azul);
* 24% é perdida por reflexão
- 20% nas nuvens e 4% na superfície. (O albedo do planeta é de 30% (6%
difusão+24% reflexão).
* 51% é absorvida pela
superfície. (Note que os valores apresentados são valores médios. Por exemplo,
nos pólos a reflexão da radiação solar incidente é geralmente maior do que 24%
e nos oceanos menor do que 24%.)
A energia radiada pela
superfície da Terra, na gama dos infravermelhos, corresponde a cerca de 117% do
total de radiação solar incidente (sobre o sistema Terra/atmosfera). Dessa
energia, apenas 6% é emitida directamente para o espaço (emissão terrestre) e
111% é absorvida pelos gases de estufa da atmosfera, que reemite depois, de
volta para a superfície, uma energia correspondendo a 96% da radiação solar
incidente. Finalmente, uma energia correspondendo a 64% da radiação solar
incidente é emitida pela atmosfera para o espaço (emissão atmosférica).
Note que estes números
traduzem um equilíbrio no sistema Terra/atmosfera: a radiação emitida para o
espaço é igual à radiação solar incidente [24% (reflexão) + 6% (difusão) + 64%
(emissão atmosférica) + 6% (emissão terrestre) = 100%].
No entanto, em média, a
superfície absorve mais radiação da que emite e a atmosfera radia mais energia
do que a que absorve. Em ambos os casos, o excedente de energia é de cerca de
30% da energia da radiação solar incidente no sistema Terra/atmosfera:
superfície - energia absorvida:
147% (51% do Sol + 96% da atmosfera); energia emitida: 117%
atmosfera - energia
absorvida: 130% (19% ultravioleta. + 111% emissão terrestre); emitida: 160%
(64% para o espaço + 96% para a superfície)
A partir desta constatação
pareceria que a superfície deveria ir aquecendo e a atmosfera arrefecendo. Isso
não acontece porque existem outros meios de transferência de energia da
superfície para a atmosfera que representam, no seu conjunto, uma transferência
líquida de 30% do total de radiação solar incidente que equilibra o orçamento
de energia no planeta.
O ar quente que se eleva na
atmosfera a partir da superfície transfere calor para a atmosfera. Essa
transferência de calor (o fluxo de calor sensível) corresponde a um valor de
energia que é 7% do total de radiação solar incidente.
A evaporação da água na
superfície do planeta corresponde a uma extracção de calor que acaba por ser
libertado durante o processo de condensação na atmosfera (que dá origem à
formação das nuvens). Essa transferência de calor (o fluxo de calor latente)
corresponde a um valor de energia que é 23% do total de radiação solar
incidente.
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