Climas do outro mundo
O clima dos planetas que fazem parte do sistema solar.
Um consolo para quem se queixa de que na Terra chove demais
ou de menos, ou faz calor demais ou de menos: nos outros planetas, o tempo é
muito pior.
Prever se na Terra vai chover ou fazer sol é difícil - os
erros que a Metereologia comete todos os dias estão aí para provar. Mas isso
não é nada perto do quebra-cabeça que é a tentativa de deduzir temperatura,
velocidade dos ventos, tempestades - enfim, o clima dos outros oito planetas do
sistema solar. Mesmo com auxílio de cálculos complexos, observações através de
potentíssimos telescópios e radiotelescópios , sem falar nos satélites e sondas
espaciais, dá para perceber os problemas enfrentados pelos astrônomos para
conhecer o clima de outros mundos. As dificuldades começam na atmosfera dos
planetas. Mercúrio, o menor de todos e o mais próximo do Sol, por exemplo, nem
mesmo atmosfera tem, devido à sua própria força gravitacional, que é baixíssima
. Por isso, sem a proteção de nuvens ou correntes de vento, o planeta está
diretamente exposto à radiação solar. Durante o interminável dia de Mercúrio,
que dura nada menos que 58 dias e 5 horas terrestres, o calor pode chegar a 430
graus centígrados, para cair a 170 graus negativos quando o Sol se põe.
Seria lógico supor que esse planeta, por ser o mais próximo
do Sol , fosse também o mais quente. Mas isso não acontece. Embora duas vezes
mais longe do Sol do que Mercúrio, o recordista de altas temperaturas é Vênus ,
com 500 graus no seu lado iluminado. Vários veículos espaciais soviéticos e
americanos já tentaram entrar na densa atmosfera de Vênus. O máximo que dois
deles conseguiram foi funcionar por uma hora na superfície. A pressão em Vênus
é 90 vezes a da atmosfera terrestre. Além disso, a atmosfera venusiana é
composta de 96 por cento de dióxido de carbono. Esse indigesto gás permite a
passagem da luz, mas não a do calor. Ao atingir o solo de Vênus, a luz se
transforma parcialmente em calor, que não consegue sair do planeta, tornando a
superfície muito quente. É o chamado efeito estufa que aqui na Terra resulta do
aumento da poluição.
Para completar esse clima nada agradável, descobriu-se que
Vênus está rodeado também por uma eterna neblina formada por gotinhas de ácido
sulfúrico concentrado. O dióxido de enxofre (SO2) que circula acima das nuvens
é transformado pela luz ultravioleta do Sol e recombinado com o vapor de água
da atmosfera para formar o ácido. Este, ao atingir altitudes menores, se
transforma novamente em SO2 e água. É por isso que, embora sempre chova ácido
sulfúrico no planeta, nenhuma gota chega a atingir o chão. Em Vênus, os
relâmpagos são tão constantes e de tamanha intensidade que a superfície parece
quase sempre iluminada, mesmo quando a luz do Sol não está presente. O dia
venusiano dura 243 dias terrestres, devido à sua rotação lenta. Por causa do
dióxido de carbono, o céu visto de Vênus é cor-de-rosa.
Comparado com o de Vênus, o clima de Marte é bem mais ameno.
Como acontece com a Terra, seu eixo de rotação está ligeiramente inclinado
enquanto se dá o movimento de translação em torno do Sol. Isso significa
estações diferenciadas. As temperaturas, que no verão marciano podem
ultrapassar a barreira de zero grau centígrado, no inverno chegam a 140 graus
negativos. Como sua atmosfera também é composta principalmente de dióxido de
carbono, os cientistas chegaram a levantar a hipótese de que em Marte ocorre o
mesmo efeito estufa de Vênus. Mas logo verificaram que, como sua densidade é
muito menor, o dióxido de carbono apenas retém o calor parcialmente refletido
pela superfície do planeta, sem influir no nível da temperatura.
Em compensação, o planeta vermeIho exibe outros fenômenos
climáticos curiosos. Por exemplo, nele pode até nevar. No inverno, quando o
vento sopra levemente sobre a superfície, levanta pequenos grãos de areia que
se misturam ao dióxido de carbono condensado e caem como se fossem flocos de
gelo seco. O vento pode causar eventos dramáticos. Ao alcançar velocidades de
mais de 200 quilômetros por hora, desencadeia imensas tempestades de areia que
chegam a esconder parcialmente durante meses a superfície do planeta.
Nos chamados planetas exteriores, de Júpiter a Plutão, o
clima é ainda mais peculiar. Por causa da massa, Júpiter e Saturno são quase
estrelas. Se fossem mais maciços, teriam reações termonucleares e começariam a
brilhar com luz própria. Mesmo não sendo, suas temperaturas interiores são tão
elevadas que liberam duas vezes mais calor do que recebem diretamente do Sol.
Mas nas agitadas camadas superiores da atmosfera desses planetas predominam
temperaturas de 150 a 180 graus abaixo de zero. Quanto maior a proximidade do
centro, mais aumentam as temperaturas.
Em Júpiter, o calor alcança fantásticos 400 milhões de
graus, 10 vezes mais que no interior do Sol. Só que um imaginário explorador de
Júpiter não teria tempo de perceber essas realidades climáticas. A imensa força
gravitacional do planeta o esmagaria contra o solo, isto é, se existir solo.
Pois Júpiter, abaixo da imensa atmosfera carregada de nuvens e tempestades, é
um oceano de hidrogênio líquido que envolve um núcleo de hidrogênio sólido
metálico. Nas proximidades de seu interior, as pressões são descomunais: cerca
de 3 milhões de vezes a pressão atmosférica na superfície da Terra. Bem no
centro de Júpiterespeculam os astrônomos deve haver uma massa informe de rocha
e ferro escondida embaixo do metal sólido.
Como é de esperar, a atmosfera de Júpiter também é composta
principalmente de hidrogênio. Ventos de mais de 500 quilômetros por hora
provocam turbulências eternas sobre a superfície. Para formar uma idéia, um
tufão devastador na Terra é o resultado de ventos de mais de 90 quilômetros por
hora. A chamada Mancha Vermelha do planeta, que se avista ao telescópio, é um
furacão de hidrogênio de 40 mil quilômetros de extensão que rodopia há pelo
menos três centenas de anos. Demora seis dias terrestresou dois dias e cinco
horas jupiterianospara que as massas gasosas que fazem parte da atmosfera do
planeta contornem o furacão.
Da mesma forma que Júpiter, Saturno é de meteorologia
instável basicamente uma bola de gás em torno de um núcleo metálico. Ao estudar
as nuvens que fazem parte de sua atmosfera, composta de hélio e hidrogênio, os
cientistas descobriram ventos de até 1 400 quilômetros horários. Esses ventos,
por sua vez, provocam violentas tempestades magnéticas, com relâmpagos e tudo.
Em agosto de 1981, a nave Voyager 2 descobriu uma nuvem de
gases em torno do planeta, muitas vezes mais quentes que as camadas externas do
Sol. A maior parte das informações sobre Júpiter e Saturno foram coletadas
pelas sondas Voyager 1 e 2 , que passaram a milhares de quilômetros dos dois
planetas.
Foram elas que mostraram, por exemplo, que os famosos anéis
de Saturno são, na verdade, um labirinto de círculos concêntricos de
fragmentos, provavelmente de gelo e rochas. A NASA pretendia que a sonda
Galileu, cujo lançamento estava programado para este ano, transportasse
aparelhos de medição para serem jogados de pára-quedas sobre Júpiter. A
experiência foi adiada para 1995, quando se espera que a missão seja retomada,
depois da interrupção do programa espacial americano devido ao desastre da
Challenger.
Sobre o clima de Urano se sabe muito pouco. Nas altas
camadas da atmosfera, composta por um coquetel de gases, como hidrogênio,
metano, amoníaco, hélio e talvez ainda vapor de água, as temperaturas chegam a
200 graus abaixo de zero. Em janeiro de 1986, a Voyager 2 mandou para a Terra
cerca de 6 mil fotografias desse terceiro maior planeta do sistema solar e
sétimo em distância do Sol. A maioria delas mostra claramente seus satélites
sem atmosfera, mas as imagens do próprio Urano não dizem muita coisa. Sua
atmosfera, percorrida por ventos às vezes violentos, é coberta por nuvens
verde-azuladas. Essa cor se explica provavelmente pelas alterações que o metano
sofre em presença da radiação solar.
Aparentemente, o calor do Sol tem pouca influência sobre o
clima de Urano. O planeta leva 84 anos terrestres para circular em volta do
astro. Esse movimento é executado de lado, de tal forma que um dos pólos fica
exposto diretamente à luz solar durante 42 anos, enquanto o outro permanece na
sombra. Ou seja, o que é o equador na Terra em Urano é um pólo. Mas não existem
diferenças significativas de temperatura entre as diversas regiões do planeta.
No dia 25 de agosto de 1989, a sonda Voyager 2, lançada em 1977, estará
enviando à Terra suas mais importantes observações sobre Netuno . O planeta
está tão longe que é impossível ver qualquer coisa debaixo da camada de nuvens
que o rodeia.
Tudo o que se diz de Netuno são apenas suposições. Entre
1975 e 1976, por exemplo, houve uma mudança na radiação emitida pelo planeta,
captada na faixa do infravermelho do espectro de luz. Isso indica mudanças
climáticas associadas à movimentacão de nuvens. Acredita-se que Netuno seja
parecido com Urano, isto é, coberto por uma camada de hidrogênio e hélio. Além
disso, como Urano, Netuno tem cor esverdeada, provavelmente também devido à
absorção de luz vermelha pelo gás metano contido em sua atmosfera.
O mais remoto dos planetas conhecidos do sistema solar,
Plutão é também o mais misterioso. Só recentemente se comprovou que possui uma
atmosfera, que compartilha com o seu satélite Caronte. A temperatura máxima do
planeta não vai além de cerca de 200 graus negativos. É quando os raios do Sol
provocam a evaporação da neve de metano que recobre sua superfície, criando uma
camada atmosférica muito fina. As moléculas de metano se aceleram a uma
velocidade supersônica e atravessam a distância de 19 mil quilômetros que
separa Plutão e Caronte (a distância entre a Terra e a Lua é vinte vezes
maior). Isso cria a nuvem de metano que envolve os dois astros. Quando eles se
afastam do Sol, em sua órbita alongada, a atmosfera volta a congelar-se, caindo
como neve na superfície escura do planeta.
Em nenhum planeta existem condições climáticas confortáveis
para os habitantes da Terra. O homem não suporta o calor e o frio extremos de
Mercúrio, nem pode respirar o venenoso ar de Marte e Vênus, onde, além do mais,
a atmosfera é muito ácida e densa. Todos os outros planetas são terrivelmente
inóspitos, não só pela atmosfera mortal mas também pela incrível gravidade, no
caso dos planetas gigantes, e pelo frio insuportável. Quanto mais afastado do
Sol mais gelado e monótono é o clima de um planeta. Assim, mesmo quando a
Voyager 2 passar perto de Netuno e Plutão, não se deve esperar que emita
boletins meteorológicos espetaculares. Sob tais climas, é virtualmente
impossível que haja vida em qualquer desses planeta sao menos, vida como é
conhecida aqui na Terra.
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