Na telona, recentemente, a Lua quase foi roubada. Ao menos,
foi isso o que planejou o personagem Gru, vilão do filme Meu malvado favorito.
Ainda não assistiu? Pois aposto que quem já viu deve ter se perguntado o que
aconteceria se a Lua fosse mesmo surrupiada! Como seria viver na Terra sem o
nosso único satélite natural?
Quem me ajudou a responder a essa pergunta foi a astrônoma
Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional. “Sem a Lua, além de não termos mais
as lindas noites de lua cheia, não teríamos também as marés”, explicou ela. A
falta que as noites enluaradas fariam é até fácil de entender, mas... E quanto
às marés? O que a Lua tem a ver com as variações de nível das águas do mar?
O satélite natural da Terra está diretamente ligado à
existência das marés. Sem ele, os oceanos ficariam sempre no mesmo nível. Mas
como a Lua faz o mar subir ou descer?
Quando gira em torno da Terra, a Lua atrai o nosso planeta
para si e, com isso, o deforma. Ou seja, muda a sua forma. A Terra acaba
ficando um pouco mais alongada: aumenta um pouco de tamanho. “Essa mudança na
forma do nosso planeta faz com que, nos lugares que ficaram com comprimento maior,
a água escorra, alterando o nível do mar, formando, assim, as marés”, contou a
astrônoma.
Além disso, como a Lua se movimenta, não atrai a Terra
sempre no mesmo ponto, mas em lugares diferentes. Assim, ao se mexer, ela faz a
água escorrer em locais distintos. Com isso, a maré pode estar alta em um ponto
do planeta e baixa em outro.
Mas o que você não pode imaginar é o seguinte: se, na tela
do cinema, o vilão Gru resolveu diminuir a Lua para poder roubá-la, na vida
real, isso, de certa forma, está acontecendo naturalmente. Explico: um estudo
recente publicado na revista americana Science mostrou que o nosso satélite já
perdeu 100 metros de circunferência. Segundo ele, a Lua esfriou com a idade e,
por isso, diminuiu. Mas fique tranquilo! Isso não quer dizer que a Lua vá sumir
de vez. Como garantiu Daniela Lazzaro, “essa variação é tão pequena, que não
chega a causar efeitos na Terra”.
FATOS
1. Hoje, a Lua está a 384 mil quilômetros da Terra. A essa
distância, o satélite exerce grande influência na duração do dia terrestre, com
suas 24 horas, além de atuar no sobe-e-desce das marés oceânicas. Em um longo
espaço de tempo, porém, essa situação vai mudar: a Lua está se afastando de nós
cerca de 3,8 centímetros por ano
2. Daqui a 4,6 bilhões de anos, quando nosso satélite
estiver a cerca de 560 mil quilômetros, a Terra vai ficar inabitável. O
principal efeito do afastamento lunar é que a rotação do planeta ficará mais
lenta. Com isso, os dias passarão a durar 1 152 horas, bagunçando o clima do
planeta e impedindo a vida, como você confere nas cenas que ilustram nosso
infográfico
CHUVA NO LITORAL
A temperatura dos pólos não seria afetada pelos dias e
noites mais longos - tais períodos vão continuar durando seis meses nesses
lugares, como acontece hoje. A diferença é que a temperatura nas áreas
tropicais aumentaria a uma taxa que é impossível prever hoje. O certo é que os
choques das massas de ar frio com as extremamente quentes criariam tempestades
capazes de deixar debaixo d’água cidades litorâneas como Nova York
DESERTO NO INTERIOR
Se a rotação diminui, os ventos no sentido leste-oeste, que
geram boa parte das chuvas no Brasil, perdem intensidade, pois é o giro da
Terra que dá força para eles. Como os ventos norte-sul passariam a predominar,
as tempestades que começam com a evaporação da água do mar teriam dificuldade
para entrar nos continentes. Com isso, regiões interioranas como o Centro-Oeste
brasileiro ficariam muito mais secas
TEMPERATURA
MISTERIOSA
Os cientistas têm duas hipóteses sobre como seria o clima
durante a "noite" de 576 horas. A primeira é que a parte do planeta
que ficar no escuro experimentará temperaturas polares, em torno de -30 ºC. A
segunda é que a evaporação na parte iluminada poderia criar nuvens monstruosas
de até 100 quilômetros de altura. Elas segurariam o calor do Sol, esquentando a
parte escura por efeito estufa. É exatamente o que acontece em Vênus, onde a
noite dura 2 916 horas e a temperatura gira na casa dos 400 ºC..
VIDAS EM PERIGO
Com calor ou frio, chuva ou seca, a vida estaria
praticamente extinta. Nenhum vegetal ou alga, por exemplo, agüentaria 576 horas
(24 dias na rotação de hoje) sem luz solar. Só isso já arrebentaria qualquer
cadeia alimentar. Os únicos seres que certamente agüentariam seriam bactérias e
vermes que já vivem em condições extremas, como no fundo dos oceanos, sob uma
pressão mil vezes maior que a da superfície e sem nunca terem visto o Sol. O
mundo seria só deles!
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