Colonização espacial é a
hipotética habitação permanente, autônoma e sustentada de seres humanos em
outros locais que não o planeta Terra. É um dos principais temas da ficção
científica, assim como o objetivo a longo prazo de vários programas espaciais,
como a NASA e a ESA.
Enquanto a maioria das
pessoas tende a pensar em colônias humanas em Marte ou na Lua, alguns
argumentam que as primeiras colônias extraterrestres serão em órbita (como na
Estação Espacial Internacional). A NASA e outras agências espaciais consideram
seriamente a possibilidade de uma colônia orbital. Foi determinado que a Lua e
asteróides próximos contém amplos recursos para a construção de colônias. Da
mesma forma, o vácuo espacial permite a captação de grandes quantidades de
energia solar, sem os empecilhos refratários da atmosfera terrestre.
Entusiastas da colonização espacial sustentam que nenhuma grande descoberta
científica é necessária para colocar esses projetos em ação, embora um elevado
dispêndio de tecnologia e engenharia seja inevitável.
Métodos
A construção de colônias no
espaço irá exigir pessoal, alimentos, materiais de construção, energia,
transporte, comunicação, sistemas de suporte de vida, gravidade simulada (com a
utilização de dispositivos rotatórios) e proteção contra radiação. Colônias
precisarão ser construídas com essas necessidades em mente.
Materiais
Colônias na Lua ou em Marte
poderão utilizar materiais locais, embora a Lua seja pobre em materiais
voláteis, como hidrogênio, carbono e nitrogênio, possui uma grande quantidade
de oxigênio, silício e metais como ferro, alumínio e titânio. Como o transporte
de materiais da Terra para a Lua seria muito dispendioso, materiais de
construção deveriam vir da própria Lua ou de asteróides em órbita da Terra. Os
satélites de Marte, Fobos e Deimos, também seriam fontes rentáveis de material,
uma vez que sua baixa gravidade permitiria facilidade de transporte e, sendo
corpos celestes mortos, não possuem uma biosfera que possa ser danificada.
Outros asteróides, como os
que circundam Júpiter, são provavelmente ricos em água e materiais voláteis.
Energia
A energia solar é abundante
em órbita, sendo comumente utilizada para energizar satélites artificiais. Uma
vez que não existe noite no espaço, nem nuvens ou atmosfera para bloquear sua
emissão, essa energia é também muito confiável. A energia solar disponível, em
watts por metro quadrado, a qualquer distância, d, a partir do Sol, pode ser
calculada pela fórmula matemática E=1366/d2, onde d é medido em unidades
astronômicas.
Nas condições desprovidas de
gravidade encontradas no espaço, a luz do sol pode ser utilizada diretamente,
com o uso de grandes painéis solares feito de material metálico leve capaz de
gerar milhares de graus Celsius de calor sem custo algum. A luz direta também
pode insidir sobre cultivos de plantas para estimular a fotossíntese.
As estruturas utilizadas
para converter a luz solar em quantidades significativas de energia deverão ser
grandes. Como comparação, o consumo de energia per-capita na Terra é de cerca
de 1 kW por pessoa anualmente.
A energia poderia ser usada
como moeda de troca entre colônias espaciais, talvez utilizando microondas para
transportá-la da Terra à Lua.
A Lua tem noites
equivalentes a duas semanas de tempo terrestre. Marte possui noites,
tempestades de poeira constantes, e está mais distante do Sol que a Terra,
reduzindo a energia solar disponível para esses corpos por um fator de 1/2-1/3
aproximadamente. Essas condições tornam a energia nuclear uma opção mais
atrativa para essas colônias.
Uma dificuldade tanto para
energia solar quanto para energia nuclear em ambientes desprovidos de ar como a
Lua ou o espaço (e mesmo Marte, devido a sua atmosfera fina) é a dispersão do
calor gerado. O calor, contudo, poderia ser usado para derreter o gelo nos
pólos de Marte, gerando água.
Acesso ao espaço
O acesso à órbita terrestre
é um fator limitante para os projetos espaciais. Atualmente, o custo para se
lançar um foguete em óribta é proibitivo - US$5.000,00 a US$30.000,00 por quilo
de material transportado da superfície da Terra até a órbita geoestacionária.
Se a colonização espacial for pretendida, veículos de lançamento melhores e
mais baratos precisarão ser desenvolvidos, assim como alguma forma de evitar o
dano ecológico causado à atmosfera pelo lançamento de milhares (ou milhões) de
veículos necessários à colonização espacial. A NASA e outras agências possuem
projetos de pesquisa voltados ao desenvolvimento de tais naves. Também existem
propostas para a construção de projetos de larga escala, como um elevador
espacial ou um acelerador de massas.
Viagem entre corpos celestes
O transporte de vastas
quantidades de materiais a partir da Lua, Fobos, Deimos e de asteróides
próximos será necessário para a construção de uma colônia orbital.
Transportar recursos de um
corpo celeste para outro através de foguetes convencionais seria bem menos
custoso que transportar recursos a partir da Terra, já que o gasto de
combustível para colocar um foguete em órbita é bem maior que o utilizado para
propelir uma nave em espaço aberto.
Comunicação
Comparada a outras
necessidades, a comunicação é um fator relativamente simples para colônias
espaciais. Comunicação com a Lua ou colônias orbitais a partir da superfície
terrestre podem ocorrer em tempo real. Comunicação com colônias em Marte ou
Vênus sofreriam atrasos devido à distância entre os planetas, atrasos que
seriam entre 7 e 44 minutos dependendo da posição dos planetas em relação à
Terra. Embora os atrasos não sejam consideráveis, seriam o suficiente para
tornar a comunicação em tempo real impraticável. Outros sistemas, como e-mail
ou correio de voz, poderiam ser utilizados normalmente.
Suporte de vida
Colonizadores espaciais
precisariam de ar, água, alimentos, gravidade e temperaturas compatíveis para
implementar a colonização. Isso poderia ser obtido através de pequenos sistemas
ecológicos fechados que fossem capazes de reciclar esses recursos sem o risco
de escassez.
Na Terra, o sistema de
suporte de vida dos submarinos nuclerares é o mais próximo de um sistema de
reciclagem de recursos vitais em um ambiente fechado, e sua tecnologia básica
poderia ser adaptada para operações espaciais. Entretanto, os submarinos tipicamente
dispensam gás carbônico, reciclando apenas oxigênio.
Um projeto mais atrativo de
suporte de vida seria a Biosfera 2, localizado no estado do Arizona, nos
Estados Unidos. O projeto demonstrou que um pequeno ambiente fechado pode
sustentar um grupo de oito pessoas por pelo menos um ano, com a utilização de
plantas recicladoras de atmosfera e geradoras de alimento.
O relacionamento entre
organismos vivos em um ambiente de colonização espacial pode ser aplicado
através de:
Um habitat totalmente
isolado do ambiente exterior, com os organismos interagindo dinamicamente para
produzir ar, água e alimentos;
Alteração radical do
ambiente para torná-lo amigável à vida terrestre (vide Terraformação);
Alteração radical de
organismos terrestres para se adptarem às condições espaciais (vide Engenharia
genética, Transumanismo);
Uma combinação de todas
essas tecnologias.
Proteção contra radiação
Raios cósmicos e tempestades
solares emitem doses letais de radiação no espaço. A vida na Terra é protegida
da radiação pelo Cinturão de Van Allen, mas acima do cinturão essa proteção
termina. Para proteger a vida, as colônias deverão ser cercadas por material
suficiente para absorver ou refletir a radiação. Algo entre 5 e 10 toneladas de
material por metro quadrado seriam o bastante. Esse material poderia ser obtido
de forma simples e barata reaproveitando o lixo gerado pelo processmento de
mineração de asteróides.
Localização
A localização de um futuro
assentamento é um ponto de discussão entre os entusiastas da colonização
espacial.
A localização de um
assentamento poderia ser em:
Um planeta, satélite
natural, ou asteróide;
Em órbita ao redor da Terra,
do Sol, em ponto Lagrange ou outro objeto.
Locações planetárias
Entusiastas da colonização
planetária indicam os seguintes planetas como locações potenciais:
Marte
Marte é um tópico frequente
de discussão. A maior parte de sua superfície é muito similar aos desertos
terrestres, o planeta pode possuir vastas reservas de água, e possui carbono
sob a forma de dióxido de carbono suspenso na atmosfera.
Marte, provavelmente, passou
por processos geológicos e hidrológicos similares aos experimentados pela Terra
e deve conter minérios valiosos, embora isso seja discutível. Já existem
equipamentos capazes de extrair recursos naturais do solo e atmosfera
marcianos. Existe um forte interesse científico em colonizar Marte devido à
possibilidade de que a vida já tenha existido em algum ponto da história
marciana, e que talvez ainda exista em algumas partes do planeta.
Contudo, sua atmosfera é
muito fina (cerca de 800 Pa, ou cerca de 0,8% da pressão atmosférica terrestre
ao nível do mar); logo, a pressão atmosférica de habitações humanas em Marte
deveria ser similar a exigida por habitações no espaço. O clima marciano é
consideravelmente mais frio que o terrestre. Sua gravidade é de apenas um terço
a da Terra; é desconhecido se isso seria o suficiente para sustentar seres
humanos por longos períodos de tempo, já que todas as experiências de longa
duração dos astronautas com gravidades diferentes da terrestre foi em ambiente
de zero-G.
A pequena espessura da
atmosfera marciana, combinada com a falta de um campo magnético, torna a
radiação solar na superfície marciana particularmente intensa, e proteção
contra tempestades solares deve ser considerada.
Marte é o tópico favorito
nas discussões sobre terraformação, com o objetivo de tornar todo o planeta, ou
ao menos uma porção considerável dele, habitável aos seres humanos.
Veja também: Colonização de
Marte, Exploração de Marte, Terraformação de Marte
Mercúrio
Teoriza-se que Mercúrio
poderia ser colonizado utilizando-se a mesma tecnologia usada em uma eventual
colonização da Lua. Tais colônias estariam, com certeza, restritas às regiões
polares devido à altíssima temperatura que o planeta atinge durante o dia.
Vênus
Enquanto a superfície de
Vênus é tremendamente quente e sua pressão atmosférica atinge 90 vezes a da
Terra ao nível do mar, as camadas mais altas de sua densa atmosfera oferecem a
possibilidade de uma colônia. A uma altura de aproximadamente 50 quilômetros, a
pressão se reduz a poucas atmosferas, e a temperatura cai a 40-100°C. Essa
parte da atmosfera é, provavelmente, enriquecida por densas nuvens de ácido sulfúrico.
Isso representaria certos benefícios para a colonização, pois tornaria possível
a extração de água.
Gigantes gasosos
Os três gigantes gasosos
externos do sistema solar (Saturno, Urano e Netuno) são passíveis de
colonização através do uso de cidades flutuantes em suas atmosferas. Por meio
de balões de hidrogênio, grandes massas podem ser suspensas na densa atmosfera
desses planetas. Júpiter, talvez, seja contra-indicado para esse tipo de
colonização devido à sua altíssima gravidade, alta velocidade de escape e
intensa radiação. Tais colônias poderiam processar e exportar gás hélio para
utilização em reatores de fusão se algum dia estes se tornarem práticos.
Lua
Devido à sua proximidade e
relativa familiaridade, a Lua é um tema frequente de discussão como alvo para
uma futura colonização. Apresenta os benefícios de ser muito próxima da Terra e
ter uma baixa velocidade de escape, permitindo que bens e serviços sejam
transitados facilmente. A maior desvantagem em colonizar a Lua é sua escassez
em materiais voláteis necessários à vida, como hidrogênio e carbono. Depósitos
de água congelada devem existir em crateras polares e poderiam servir como
fontes desses materiais. Uma solução alternativa seria trazer hidorgênio da
Terra e combiná-lo com oxigênio extraído das rochas lunares.
A baixa gravidade na
superfície da Lua também é uma preocupação. É desconhecido se gravidade tão
baixa (1/6 da terrestre) seria viável para habitação humana de longo prazo.
Europa
Uma iniciativa privada
americana, o Projeto Artemis, desenvolveu um plano para colonizar Europa, uma
das luas de Júpiter. Cientistas poderiam habitar iglús e escavar a crosta de
gelo de Europa, explorando o hipotético oceano subterrâneo do satélite. Esse
plano também discute a possibilidade do uso de "bolsões de ar" para
habitação humana.
Fobos e Deimos
As luas de Marte podem ser
um alvo promissor para colonização espacial. A baixa velocidade de escape de
Fobos e Deimos permitiria facilidade no trânsito entre os satélites e a Lua da
Terra, assim como no trânsito para a superfície marciana. Fobos e Deimos
poderiam ser habitadas com métodos similares aos utilizados para colonizar
asteróides.
Titã
Titã, maior lua de Saturno,
tem sido sugerida como um alvo potencial para colonização devido ao fato de ser
a única lua do sistema solar a possuir atmosfera densa, e por ser rica em
carbono.
Habitação espacial
Locações de espaço profundo,
ou seja, sem corpos planetários ou lunares próximos, obrigatoriamente
necessitariam de uma habitação espacial, na prática, uma estação espacial que
seria habitada permanentemente, ao contrário das atuais. Tais habitações seriam
literais "cidades" no espaço, onde pessoas pudessem viver, trabalhar
e constituir família. Muitas proposições de engenharia já foram feitas sobre
como construir tais habitações, variando largamente em seu grau de realismo.
Uma habitação espacial
também serviria como campo de testes para a construção de uma nave de gerações,
verificando a viabilidade de se ter centenas (ou milhares) de pessoas vivendo
permanentemente no espaço. Tal habitação poderia ser isolada do resto da
humanidade por um século, mas perto o suficiente da Terra caso auxílio se faça
necessário.
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