Cometa C/2014 E4 (Jacques) descoberto pelo SONEAR. Imagem de Agosto de 2014 por Gianluca Masi e Pier Luigi Catalano (Itália) |
"...le hasard ne favorise que les esprits préparés".
L. Pasteur (1822-1895)
No passado a descoberta de cometas era fruto do trabalho de astrônomos que não largassem as oculares e que estivessem dispostos a permanecer em vigília incansável, percorrendo vasto setores do céu em uma busca monótona e muitas vezes solitária. O advento de câmeras CCD, o barateamento de processos de inspeção automática de imagem, processadores numéricos e, principalmente, meios de comunicação bastante rápidos mudou as estórias de amadores, porque a busca por cometas e asteroides pôde ser automatizada de uma forma nunca antes imaginada.
O Brasil teve um observador da época pré-CCD que quase chegou a descobrir um cometa. Seu nome foi Vicente F. de Assis Neto (1936-2004, 1). Já na época da internet, destaca-se o trabalho de Paulo Holvorcem, que descobriu vários cometas e recebeu prêmios internacionais (2), com buscas feitas com instrumental fora do Brasil. Uma iniciativa pioneira acontece porém a partir do observatório Phoenix, que é conhecido como SONEAR, ou acrônimo para Southern Observatory for Near Earth Asteroids Research (Observatório austral para pesquisa de asteroides próximos a Terra, 3), instalado na cidade de Oliveira, estado de Minas Gerais. Segundo vários textos da rede (4), trata-se de investimento privado a serviço da busca por corpos próximos à Terra, uma atividade incentivada em várias partes do mundo. É pioneira porque usa equipamentos localizados em território nacional.
Fonte: Observatório SONEAR. |
Como dissemos, a descoberta de um cometa cada vez menos acontece "por acaso", com seu descobridor grudado a ocular do telescópio em uma vigília feita com o olho. Ainda assim, os recursos existentes presentemente podem fazer com que a busca de cometas pareça tarefa fácil. Entretanto, isso está longe de ser verdade. Há que se considerar o estado de competição internacional crescente, inclusive com um número cada vez maior de amadores bem equipados e preparados. Há várias campanhas profissionais bastante competentes, como é o caso da LINEAR (Lincoln Near Earth Asteroid Research), por exemplo, varrendo sistematicamente o céu. Hoje a descoberta se dá muitas vezes de dia, ao se vasculhar dezenas ou milhares de arquivos digitalizados colhidos em noites anteriores. Esses arquivos devem estar previamente calibrados e os telescópios muito bem alinhados para permitir a precisa determinação da posição. Portanto, a descoberta exige muito planejamento antecipado e aplicação de softwares dedicados - o que, naturalmente, requer conhecimento de processamento digital de imagem. Poucos amadores têm condições de compreender esse tipo de necessidade, quiça torná-la realidade operacional - o que aguarda maior automatização e integração da técnica. Mas, o SONEAR implementou esse processo com frutos que não se fizeram esperar: na lista de descobertas contam-se três cometas (C/2014 A4, C/2014 E2 e o C/2015 F4), sendo que o E2 alcançou visibilidade de binóculos, e 12 asteroides próximos à Terra, tudo isso utilizando principalmente um instrumento de 45 cm de diâmetro.
Hodiernamente, o diâmetro do instrumento é muito menos relevante do que a aplicação sistemática da técnica. Portanto, essas descobertas demonstram que alguns amadores avançados no Brasil têm conseguido resultados profícuos na busca por corpos no sistema solar, algo que não recebe a atenção devida dos profissionais desse pais. Isso é importante porque insere o Brasil na comunidade de buscas de corpos potencialmente perigosos e permite a descoberta de cometas, prática que perdeu muito de seu romantismo, mas que continua a ser uma aventura fascinante.
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