“Chi non conosce la verità è sciocco,
ma chi pur conoscendola la chiama menzogna è un criminale.”
Galileo Galilei
De tempos em tempos, surgem revoltas em comunidades inteiras, hoje em dia grandemente aumentadas pela internet, vídeos do youtube e outras mídias sociais. Grupos imensos, desprovidos do tempo necessário para aprender corretamente a ciência e sedentos de conhecimento, são tomados de assalto por supostos especialistas que, na ânsia de verem seus pontos de vista aceitos, acabam por polemizar em torno de assuntos sobre os quais nada sabem. Muitos desses assuntos são temas que já foram resolvidos cientificamente faz tempo. Um caso recente é o do Sr. Olavo de Carvalho (OdC) que, em um video diponível do youtube afirma [1]:
"O fato é que, no confronto entre geocentrismo e heliocentrismo, não existe nenhuma prova definitiva nem de um lado nem do outro; e você pode usar um sistema de referência como pode usar o outro."
Como evidência, OdC cita uma certa carta de Alexander von Humboldt (1769-1859) que, segundo OdC teria escrito o seguinte [1]:
"Olha, nós todos sabemos que não existe a menor prova do sistema Copernicano, do sistema Heliocêntrico, todos nós sabemos disso, mas eu não quero ser o primeiro que diz isso em público; então, se aparecer algum cientista corajoso e disser isso, eu também vou apoiá-lo, mas eu serei o segundo no comando e não o primeiro, porque eu não quero levar todos os tomates."
Não obstante a possível afirmação de Humboldt [2], o "Astronomia Prática" traz aqui um resumo didático das provas do helicentrismo, seguindo essa nomenclatura de debate caduco, de forma a improvisar alguns desses tomates que nos parecem bem merecidos.
Explicar sobre qual "sistema do mundo" estaria certo em pleno Séc. XXI é um interessante exercício educacional. Mas isso não se dá por impulso de um fenômeno exclusivamente brasileiro. Em uma peça de propaganda apressada, o filme "The Principle" [2b] busca resgatar a tradição de imaginar que a Terra é um planeta especial, o que anima a esperança, entre ignorantes pretenciosos [2c], de resgatar o Geocentrismo do "erro histórico" de ter sido abandonado. Como é muito mais fácil acreditar que a verdade se acha facilmente em um filme do que na dura e lenta labuta do trabalho científico, multidões são assim facilmente alienadas internacionalmente.
As provas do heliocentrismo
Parte do problema é que muitas das provas a favor do heliocentrismo hoje em dia são consideradas tão simples e óbvias (para estudantes de Astronomia ou Física), que elas sequer são consideradas como tal. Chegamos a esse estado de coisa em parte por falha no próprio sistema de ensino que não tem interesse ou ímpeto em explicitar essas evidências, pelo menos não em termos de debate caduco "Helicentrismo x Geocentrismo", já que o movimento da Terra é assunto resolvido entre os que ensinam ciências.
Em ciência, podemos resumidamente classificar o que se chamama de "provas" em dois tipos:
- Provas diretas: aquelas que podem ser investigadas experimentalmente, com base nos sentidos propriamente ditos ou em instrumentos, que nada mais são do que dispositivos ou ferramentas que amplificam os sentidos humanos;
- Provas indiretas: de caráter epistemológico - ou seja, ligados ao conhecimento - são evidências colhidas a partir de dados científicos não diretamente ligados ao fenômeno a ser observado, mas que só podem ser entendidas se determinada teoria ou paradigma científico estiver correto. Em outras palavras, as provas indiretas justificam indiretamente esses paradigmas.
Há determinados assuntos em ciência que só podem apresentar provas indiretas (como é o caso da cosmologia - não temos acesso direto ao começo do universo). No caso do helicentrismo, as provas são dos dois tipos.
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