A melhor forma de buscar vida fora da Terra pode não ser usando os seres do nosso planeta como base. Ao menos é o que propõe uma equipe de cientistas liderada por Dylan Gagler, da Arizona State University, em um novo estudo no qual identificaram padrões universais na química dos seres vivos, que não parecem depender de moléculas específicas. Na prática, isso oferece uma nova oportunidade de prever características de seres com bioquímica diferente daquelas dos seres terrestres.
Na Terra, a vida é formada a partir de centenas de compostos e reações químicas. Alguns destes compostos e reações estão presentes em todos os organismos — ou seja, há uma bioquímica universalmente compartilhada entre todos os seres do nosso planeta. Entretanto, essa universalidade funciona somente para a bioquímica que conhecemos. Ou seja: não pode ser aplicada para previsões sobre exemplos que ainda não foram observados.
Representação de exoplanetas na zona habitável, onde a água pode ocorrer em estado líquido, em comparação com a Terra (Imagem: Reprodução/NASA/Ames/JPL-Caltech)
É aqui que entra o novo estudo. “Queremos novas ferramentas para identificar e até prever as formações da vida como não conhecemos”, explicou Sara Walker, coautora do estudo. “Para isso, queremos identificar as leis universais que devem se aplicar a qualquer sistema bioquímico”, disse. Isso inclui o desenvolvimento de teorias quantitativas para explicar as origens da vida, e utilizá-la junto da estatística para direcionar a busca por vida em outros planetas.
Então, Gagler e Walker decidiram utilizar enzimas, por serem as impulsionadoras funcionais da bioquímica. Através do banco de dados Integrated Microbial Genomes and Microbiomes, eles e os demais autores conseguiram investigar a composição enzimática de seres dos três domínios biológicos: as bactérias, organismos archaea (aqueles que, geralmente, não têm membrana nuclear) e eukarya (seres unicelulares, que possuem núcleo com membrana nuclear).
Através desta iniciativa, a equipe conseguiu identificar padrões estatísticos no funcionamento bioquímico das enzimas compartilhadas ao longo da árvore da vida e, assim, descobriram um novo tipo de universalidade bioquímica. Com isso, os autores verificaram que os padrões estatísticos vinham de princípios funcionais, os quais não podem ser explicados pelo conjunto comum de funções enzimáticas nos seres vivos conhecidos.
Segundo Hyunju Kim, coautor do estudo, o novo tipo de universalidade bioquímica identificada pode ser generalizada para formas de vida desconhecidas, em comparação com aquelas tradicionais, descritas pelas moléculas e reações comuns para a vida na Terra.
“Esta descoberta permite desenvolvermos uma nova teoria para as regras gerais da vida, que pode nos guiar na busca por novos exemplos de seres vivos”, disse. Para os autores, é possível que os resultados sejam se mantenham em qualquer local do universo.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences; Via: Arizona State University
Nenhum comentário:
Postar um comentário