Para a ciência, a concordândia entre evidências diretas, não relacionadas entre si, forma uma nova evidência. Ora a primeira evidência indireta (mas nem por isso menos válida) do movimento da Terra é a concordância entre todas as medidas obtidas para os efeitos de paralaxe, aberração da luz, bem como aberração diurna e o movimento do pêndulo de Foucault, o que só pode acontecer porque justamente a Terra é a origem única do movimento. Em suma: os dados colhidos de todos esses fenômenos têm causa óbvia e trivial no movimento da Terra, além do próprio Sol, que também se move carregando junto a Terra e todo o sistema solar.
Um dos argumentos usados por possíveis geocentristas modernos é que "tanto faz" usar o helicentrismo como o geocentrismo. Embora a descrição cinemática dos movimentos possa ser feita em qualquer referencial - no sentido de que a posição e a velocidade das partículas (planetas, cometas, asteróides etc) é descrita com grande precisão por um observador fixo ou em movimento em relação a um referencial dado - isso não implica na "equivalência dinâmica" entre referenciais. Funções matemáticas contêm o ferramental que permite mudar de um referencial a outro e, de fato, quando astrônomos calculam a posição dos planetas no céu eles o fazem por meio de transformações entre sistemas em que o último é o chamado "referencial geocêntrico" (porque é o referêncial final cômodo para observadores na Terra). Entretanto, como afirmado, trata-se apenas de uma descrição puramente cinemática. Os sistemas referenciais nada tem a ver com "visões do mundo" ou "imagens do universo". Como vimos no caso das fases de Vênus, as posições concordam dentro de certa margem de erro desde que os planetas sejam descritos como meras partículas - sem se importar com o aspecto que eles se mostram ao telescópio.
Fig. 7 Ilustração tirada do site malinc.se que demonstra a diferença entre as imagens "helicêntrica" (à esquerda) e "geocêntrica" (à direita) para um observador que se situasse "fixo" sobre o sol e sobre a Terra, respectivamente. Embora as descrições sejam equivalentes cinematicamente (precisão garantida na posição pelos dois sistemas referenciais, onde os planetas são meras partículas), elas não são equivalentes dinamicamente. Newton unificou a visão da física ao demonstrar que o movimento se deve apenas à ação de uma força que liga o sol aos planetas (a chamada "força da gravidade"). Se força ou impulso forem usados na descrição geocêntrica, vemos planetas a se moverem por meio de forças complexas e inexplicáveis, que não têm origem causal definida. |
Assim, toda a mecânica provê uma prova indireta ligada ao conhecimento ou à existência forças simples que explicam, unificam e prevêem esses e outros fenômenos: o movimento e variação aparente de tamanho de cometas, o brilho dos planetas e outros corpos celestes, a precessão e nutação da esfera celeste com o passar dos anos, a posição de asteróides e cometas e, finalmente, o complexo movimento de sondas espaciais e satélites artificiais. Distanciando-se da visão puramente cinemática, o telescópio demonstrou inúmeros outros fenômenos e aspectos dos planetas que só podem ser explicados pelo Helicentrismo. Todos esses fatos formam um rico "concerto" de fenômenos a evidenciar o movimento da Terra e tal evidência não é menos importante que as provas diretas.
Na verdade, a mecânica celeste não advoga que todos os planetas giram em torno do sol, mas sim em torno de um centro comum - o chamado "baricentro do sistema solar" [14] - em torno do qual o próprio sol inclusive gira! Entretanto, o raio da órbita solar é tão pequeno - porque a massa do sol é muito grande em comparação com todos os planetas juntos - que seu movimento pode ser desprezado.
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