Entre os mais de 5 mil exoplanetas descobertos até hoje, pelo menos três deles foram reclassificados. Imagem: NASA/JPL-Caltech
Já faz três décadas que a astronomia descobriu que existem mundos além do nosso sistema solar. Desde então, mais de 5 mil exoplanetas foram confirmados em outros sistemas de Via Láctea, e os cientistas detectaram quase a mesma quantidade de “candidatos” – objetos que podem ser planetas, mas ainda não foram confirmados como tais.
Em um estudo publicado no Astronomical Journal, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) relatam que três (ou, provavelmente, quatro) planetas que foram originalmente descobertos pelo Telescópio Espacial Kepler, da Nasa, são de fato classificados erroneamente. Na verdade, eles têm mais chances de serem pequenas estrelas.
Segundo a equipe, foram usadas medições atualizadas das estrelas que hospedam os planetas para verificar novamente o tamanho dos corpos, e identificou-se que três deles são simplesmente grandes demais para serem planetas. Com novas e melhores estimativas de propriedades estelares, os pesquisadores descobriram que os três objetos, conhecidos como Kepler-854b, Kepler-840b e Kepler-699b, agora são estimados entre duas e quatro vezes o tamanho de Júpiter.
Exoplanetas devem ter, no máximo, o tamanho de Júpiter
“A maioria dos exoplanetas são do tamanho de Júpiter ou muito menores. Duas vezes [o tamanho de] Júpiter já é suspeito. Maior do que isso não pode ser um planeta, que foi o que encontramos”, diz o primeiro autor do estudo, Prajwal Niraula, estudante de pós-graduação do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT.
Um quarto planeta, Kepler-747b, tem cerca de 1,8 vezes o tamanho de Júpiter, o que é comparável aos maiores planetas confirmados. No entanto, ele está relativamente longe de sua estrela, e a quantidade de luz que recebe é muito pequena para sustentar um planeta de seu tamanho. O status planetário do Kepler-747b, conclui a equipe, é suspeito, mas não totalmente implausível.
“No geral, esse estudo torna a lista atual de planetas mais completa”, declarou um dos coautores, Avi Shporer, cientista pesquisador do Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT. “As pessoas confiam nesta lista para estudar a população de planetas como um todo. Se você usar uma amostra com alguns intrusos, seus resultados podem ser imprecisos. Portanto, é importante que a lista de planetas não seja contaminada”. Outros coautores do estudo são Ian Wong, bolsista do programa de pós-doutorado da Nasa no Goddard Space Flight Center, e Julien de Wit, professor assistente do MIT.
O objetivo inicial da pesquisa não era a reclassificação desses corpos. Niraula, originalmente, pretendia procurar sistemas com sinais de distorção de maré. “Se você tiver dois objetos próximos um do outro, a atração gravitacional de um fará com que o outro fique em forma de ovo, ou elipsoidal, o que lhe dá uma ideia de quão grande é o companheiro”, explica o astrônomo. “Então, você pode determinar se é um sistema estrela-estrela ou estrela-planeta, apenas com base nessa força de maré”.
Ao vasculhar o catálogo do Kepler, ele encontrou um sinal do Kepler-854b que parecia grande demais para ser verdade. “De repente, tivemos um sistema onde vimos este sinal elipsoidal que era enorme, e imediatamente soubemos que não poderia ser de um planeta”, diz Shporer. “Então, pensamos, algo não bate”.
Tal como acontece com todos os planetas revelados pelo Kepler, o Kepler-854b foi identificado através de uma detecção de trânsito – uma queda periódica na luz das estrelas que sinaliza um possível planeta passando na sua frente.
A profundidade do sombreamento representa a razão entre o tamanho do planeta e o de sua estrela. Os astrônomos podem calcular o tamanho do planeta com base no que sabem sobre o tamanho da estrela. Mas, como o Kepler-854b foi descoberto em 2016, seu tamanho foi baseado em estimativas estelares que eram menos precisas do que são hoje.
Medições estão mais precisas nos dias atuais
Atualmente, as medições mais precisas de estrelas vêm da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), um observatório espacial projetado para medir e mapear com precisão as propriedades das estrelas na Via Láctea.
Em 2016, as medições do Kepler-854 de Gaia ainda não eram acessíveis. Dadas as informações estelares disponíveis, o objeto parecia ser um planeta de tamanho plausível. Niraula descobriu, no entanto, que com as estimativas aprimoradas de Gaia, Kepler-854b acabou sendo muito maior, com três vezes o tamanho de Júpiter. “Não há como o universo fazer um planeta desse tamanho”, diz Shporer. “Isso simplesmente não existe”.
Quando a equipe confirmou que Kepler-854b era um “falso positivo” planetário — não um planeta, mas uma pequena estrela orbitando uma estrela hospedeira maior — eles se perguntaram se poderia haver mais casos como esse.
Niraula analisou os mais de 2 mil planetas do catálogo Kepler, desta vez procurando por atualizações significativas do tamanho das estrelas detectadas por Gaia. Então, ele finalmente descobriu três estrelas cujos tamanhos mudaram significativamente com base nas medições aprimoradas de Gaia.
A partir dessas estimativas, a equipe recalculou o tamanho dos planetas que orbitam cada estrela e descobriu que eles tinham cerca de duas a quatro vezes o tamanho de Júpiter. “Essa foi uma bandeira muito grande”, diz Niraula. “Temos três objetos que agora não são planetas, e o quarto provavelmente também não é”.
Fonte: Olhar Digital
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