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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Se cada galáxia tem um buraco negro no centro que continua sugando as estrelas ao seu redor, não é possível depois de bilhões de anos apenas buracos negros serão deixados?

 Ora viva. Deixa-me cá puxar de uma cadeira e explicar-te isto como deve ser, porque essa ideia de que os buracos negros são aspiradores cósmicos com fome insaciável é um mito que se espalhou mais depressa que fofoca em dia de feira.

Se estivéssemos ali no Gerês a olhar para o céu, eu diria-te logo: "Calma, que o universo não é assim tão apressado a comer-se a si próprio."

Primeiro, tira da ideia que o buraco negro no centro da Via Láctea — o Sagitário A* — está ali à espera para nos engolir a todos. Um buraco negro não "suga" nada. Ele exerce gravidade, tal como o Sol. Se substituísses o Sol por um buraco negro com a mesmíssima massa, a Terra continuaria a orbitar exatamente no mesmo sítio. Ficávamos às escuras e íamos congelar num instante, é certo, mas não seríamos "sugados".

As estrelas na nossa galáxia estão em órbitas estáveis. Elas movem-se com uma velocidade tal que a força centrífuga equilibra a puxada gravitacional do centro. Para uma estrela ser "comida", ela teria de perder quase todo o seu momento angular; ou seja, teria de levar um encontrão monumental para cair lá para dentro. A maioria das estrelas vai morrer de velhice muito antes de chegar sequer perto do horizonte de eventos.

Dizes que "cada galáxia tem um buraco negro no centro"mas olha que não é bem assim. Embora a maioria das galáxias grandes e espirais os tenham, existem galáxias anãs e irregulares que vivem muito bem sem um "patrão" supermassivo no meio.

Muitas vezes, esses gigantes no centro são o resultado de fusões. Quando duas galáxias chocam (como a Via Láctea vai chocar com Andromeda daqui a uns milhares de milhões de anos), os seus buracos negros centrais acabam por se encontrar e fundir num só, ainda mais massivo. É um baile cósmico de proporções bíblicas, mas mesmo nessas colisões, a maior parte das estrelas nem se toca; o espaço é demasiado vazio para isso.

É preciso entender que nem toda a estrela tem currículo para ser buraco negro. A nossa estrela, o Sol, é um bocado "comum" para essas andanças. Quando o combustível acabar, ele vai inchar, tornar-se uma gigante vermelha e depois encolher até ser uma Anã Branca. Para se tornar um buraco negro, uma estrela precisa de ter uma massa colossal — estamos a falar de pelo menos 20 vezes (embora algumas fontes dizem que apenas 8 vezes é suficiente por motivos muito específicos) a massa do Sol.

Quando estas gigantes morrem, explodem numa supernova e o que sobra é comprimido até que nem a luz consegue escapar.

Se avançarmos o relógio biliões e biliões de anos, o cenário muda. As estrelas grandes morrem rápido. As pequenas, as Anãs Vermelhas, são as poupadas da vizinhança; queimam o seu hidrogénio tão devagarinho que podem durar triliões de anos. Elas serão as últimas luzes acesas no universo.

Eventualmente, sim, as estrelas apagam-se. Ficaremos com um universo de:

•Anãs Negras: Anãs brancas que arrefeceram tanto que já não brilham.

•Estrelas de Neutrões: Cadáveres estelares densíssimos.

•Planetas Órfãos: Rochas geladas a vaguear no vazio sem sol.

•Buracos Negros: Que continuarão lá, silenciosos.

Agora, será que no fim só sobram buracos negros? É uma possibilidade teórica na chamada "Era dos Buracos Negros". Mas há um pormenor: Stephen Hawking propôs que os buracos negros também "evaporam" através da Radiação de Hawking. Demora um tempo que a nossa cabeça nem consegue processar (um 1 seguido de 100 zeros em anos), mas até eles podem desaparecer.

No entanto, nada disto é garantido. Não sabemos se a Energia Escura vai continuar a expandir o universo até rasgar o próprio tecido do espaço (o Big Rip) ou se tudo vai arrefecer até à morte térmica total. O universo é um bicho complexo e nós ainda estamos a tentar ler o prefácio do livro.

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