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terça-feira, 29 de maio de 2018

O que são planetas órfãos?


Com temperaturas próximas do zero absoluto, esses planetas não são muito atrativos para morar

São corpos celestes com massa planetária que não orbitam uma estrela e se encontram soltos na galáxia. Também chamados de errantes, interestelares e nômades, estes planetas se formam como os demais: dentro de discos protoplanetários de poeira e gás que se aglutinam e resultam, posteriormente, em planetas estáveis. Porém, como os discos – que sempre se formam em torno de uma estrela – apresentam colisões constantes entre os planetoides recém-formados, estes podem ser arrancados da órbita estelar e ganhar o status de órfãos. É importante frisar, contudo, que esses planetas ainda orbitam o centro da galáxia, como os demais astros.  

A localização desse tipo de corpo ainda é difícil, portanto sua incidência na galáxia é incerta: até o momento, os pesquisadores encontraram apenas 16 astros confirmados como planetas órfãos ou candidatos à posição. Os cinco maiores (em termos de massa) são, nessa ordem: UGPS J072227.51-054031.2, WISE J1741-464, OTS 44 e Cha 110913-773444. Mas vale dizer que nenhum desses cinco tem a existência confirmada ainda.  E, caso você esteja pensando em se mudar para algum planeta órfão, pode esquecer. Como não possuem uma estrela que forneça luz, eles se encontram em eterna escuridão, apresentando temperaturas que se aproximam do zero absoluto (-273 ºC).

O universo de Philip Roth, segundo seus tradutores no Brasil

O escritor americano Philip Roth, em Nova York

De 1959, ano do lançamento de “Adeus, Columbus”, até meados de 2010, com “Nêmesis”, Philip Roth escreveu quase 30 romances, além de ensaios e textos críticos. Considerado por muitos o maior escritor americano em atividade, Roth morreu na noite de terça-feira (22), vítima de insuficiência cardíaca. Sua prosa criou personagens icônicos e retratou tipos que simbolizam a sociedade americana do século 20, em suas idiossincrasias e fobias. Sexo e culpa, identidade e ruptura, a vida provinciana e o desejo de se descolar dela são elementos fundadores da obra de Roth, que decidiu parar de escrever em 2010, considerando ter feito o melhor que pôde. Sobre a própria obra, escreveu: “[John] Updike e [Saul] Bellow seguram suas lanternas no mundo, revelam o mundo como ele é agora. Eu cavo um buraco e miro minha lanterna para o buraco”. Boa parte da obra de Philip Roth editada no Brasil foi vertida para o português por dois cariocas, Paulo Henriques Britto e Jorio Dauster. No total, Britto traduziu nove livros do autor – o primeiro deles foi “A Marca Humana”, em 2002, tido por muitos como o ponto alto da carreira do americano. Jorio Dauster começou a trabalhar com a obra de Roth em “Indignação”, de 2009, e foi responsável por outras cinco traduções, entre elas a de “Patrimônio” (romance de tom autobiográfico, onde o escritor narra a conflituosa relação com o próprio pai). O Nexo formulou seis perguntas sobre Roth e lançou-as aos dois tradutores. Abaixo, as reflexões de Britto e Dauster sobre o traço inconfundível da obra de Philip Roth.  Qual o lugar de Roth na literatura do século 20? PAULO HENRIQUES BRITTO Roth é um dos maiores nomes da ficção em língua inglesa. Ele se situa basicamente no campo do realismo, mas se permite algumas incursões pelo fantástico. JORIO DAUSTER Muitas vezes comparado a Saul Bellow, John Updike e Norman Mailer, Roth certamente está entre os maiores autores americanos da segunda metade do século 20, mesmo que coloquemos nessa lista meus preferidos, J.D. Salinger e Vladimir Nabokov. Com exceção do Bellow, nenhum dos citados, assim como Roth, recebeu o prêmio Nobel de Literatura, mas agora se sabe que havia algo de podre no reino da... Noruega. Qual a marca literária de Roth? PAULO HENRIQUES BRITTO O que sobressai na obra de Roth é sem dúvida a intensidade de sua prosa. Ele não tem medo de surtar. Mesmo dentro da chave realista, ele envereda para o insólito, o que o liga de certa forma a um Dostoiévski. Outros autores dessa linhagem realista, como John Updike, acabam falando sobre vidas que não saem muito daquele mesmo lugar. Ele se permite excessos de todos os tipos, levando a narrativa realista às raias do fantástico, e vez por outra rompe com esses limites. Talvez por ter uma filiação ao que quase poderia se chamar de ‘escola judaica’ de escrita, que formou tantos escritores americanos, ele faz uso mais lúdico e destemido da linguagem. JORIO DAUSTER Ao contrário de um [Vladimir] Nabokov, mestre em ourivesaria verbal, Roth tem um estilo forte mas escorreito. Nos seus últimos livros, a linguagem é mais contida e a própria narrativa é mais compacta, talvez porque ele já não se sentisse capaz de enfrentar a “humilhação” que significava produzir uma obra, tal era a intensidade com que escrevia. Como o autor explora a identidade judaica? PAULO HENRIQUES BRITTO Mais especificamente, a identidade de um judeu norte-americano de sua época, sem nenhuma intenção de chegar a nenhuma essência judaica. Dentro da melhor tradição realista, ele trabalha com o meio e o tempo em que viveu, mas consegue extrapolar daí para o plano do universalmente humano, como todo escritor realmente grande. JORIO DAUSTER Não creio que Roth seja relevante para entender a identidade judaica no mundo. Seu foco - e seu problema existencial - estava na sociedade americana e em como a terceira geração dos imigrantes judeus poderia alcançar a aculturação plena. A partir dos avós que chegaram na metade do século 19 e foram viver nos guetos aceitando salários miseráveis, ele tinha visto como a segunda geração já era capaz de funcionar relativamente bem no seu país de nascimento por falar inglês e conhecer os costumes locais, embora frequentemente falasse iídiche em casa e o comparecimento à sinagoga fosse compulsório. No entanto, os judeus continuavam a viver em comunidades fechadas e, como aconteceu com seu pai, por mais que se esforçassem, os homens jamais puderam galgar os escalões mais altos das empresas em que trabalhavam porque esses estavam reservados aos góis. A história pessoal e a obra literária de Roth são o testemunho do que lhe custou escapar desse confinamento físico e mental. O tom crítico sobre os EUA: que país ele retratou? PAULO HENRIQUES BRITTO Roth nunca foi de esquerda: é um americano liberal que se orgulha das realizações do seu país e se envergonha do que há de mal resolvido na cultura americana, em particular a institucionalização do racismo, como fica claro em “A Marca Humana” e “Complô contra a América”. No primeiro, ele entra na pele de um negro para mostrar o racismo institucional, muito antes de problematizarmos ‘lugar de fala’. No último, ele fala de um país que concentra a maior parte dos judeus do mundo e onde, ao mesmo tempo, sobrevive um antissemitismo forte, nem sempre mascarado. Os Estados Unidos demoraram para entrar na Segunda Guerra Mundial, um pouco em função desse preconceito. JORIO DAUSTER Ele retratou um país ainda castigado pela recessão, logo depois torturado pelas guerras, e em que sua raça era vítima de um forte preconceito. Mais tarde, o que ele viu foi o desmoronar do “American dream” (sonho americano), de onde brota um sentimento nostálgico com relação ao passado, e felizmente ainda teve tempo de chamar publicamente Trump de bufão! Não obstante, sempre sentiu imenso orgulho de ser um cidadão dos Estados Unidos. Qual a inovação nas descrições que ele fez do sexo e da velhice? PAULO HENRIQUES BRITTO Está no fato de ele não ter medo do excesso, do exagero, da caricatura, de levar um estereótipo até as raias da loucura. Seus últimos quatro livros são curtos e compõem uma safra concisa sobre a velhice. Nem são tão bons assim, o que é até permitido para um autor como Roth, que produziu outros tantos livros bons. Essas obras sobre a velhice são livros de velho para velho, com uma obsessão pelo sexo nessa idade e na ideia de finitude. Em “Fantasma sai de cena”, ele confunde realidade e fantasia, a ponto de o leitor não saber discernir ambas, ao final do romance. JORIO DAUSTER Em matéria sexual, a única coisa realmente inovadora para mim foi uma peça de fígado, comprada no açougue para uso da família no jantar, ser usada a caminho de casa para a prática do onanismo. De resto, como se pode ver em “O professor do desejo”, o que existe é uma forte obsessão que ele extravasa inclusive através de seu alter ego, David Kepesh, e envolve as tradicionais ménages à trois, sadomasoquismo etc. Quanto à velhice, que ele definia como um “massacre”, não encontrei nada de revolucionariamente original, mas sim páginas antológicas onde ele retrata toda a angústia do ser humano diante da deterioração física e da morte. Traduzi muitas passagens de “O patrimônio”, onde ele relata a enfermidade fatal do pai, com lágrimas nos olhos. As acusações de misoginia: questão geracional? PAULO HENRIQUES BRITTO Sua obra reflete os preconceitos e limitações de um homem de sua geração e com a sua formação. A misoginia está lá, mas a abordagem dele é impiedosa com tudo e com todos. Ele não poupa ninguém nem nada, muito menos ele próprio, como homem, branco, judeu e americano. JORIO DAUSTER Ele fez tudo para se livrar de uma típica mãe judia, para quem a limpeza era uma graça divina, e caiu nos braços de uma megera branca, anglo-saxã e protestante que infernizou sua vida durante muitos anos e com quem só se casou quando ela trouxe uma prova falsa de que estava grávida. Mais tarde, viveu com a grande atriz Claire Bloom, o que deve ter alimentado uma guerra de egos que só fez se agravar quando ele passou a viver na Inglaterra a fim de passar mais tempo com ela. Mas, em “Quando ela era boa”, Roth aproveita elementos da vida da primeira esposa para – no único livro em que a protagonista principal é uma mulher e onde não aparece um só judeu – fazer um retrato devastador de uma família pequeno-burguesa do Centro-Oeste e de uma moralista  americana que se destrói ao tentar reformar os homens ao seu redor. As mulheres sem dúvida não saem bem em suas fotos, mas será por misoginia ou simplesmente por vingança existencial?

Brilha, brilha, estrelinha

Nesta concepção artística de Amanda Smith, é possível comparar os tamanhos de Júpiter, Saturno, TRAPPIST-1 e a estrela recém-descoberta.

Qual é a diferença entre um planeta gigante e uma estrela pequenina? Qualquer criança pode dizer que a estrela brilha, mas a gente não sabe muito além disso.
Quem já teve aulas de astronomia do sistema solar já deve ter ouvido falar naquela história de que se Júpiter fosse um pouco maior, viveríamos num sistema binário. Agora, essa história precisa ser corrigida. Uma equipe de astrônomos da Suíça, Áustria, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, México e EUA coordenada pela Universidade de Cambridge estava caçando exoplanetas mas acabou descobrindo a menor estrela já registrada.

Ao revisar dados registrados pelos telescópios TRAPPIST e Euler, os pesquisadores encontraram uma estrela situada a cerca de 600 anos-luz do nosso sistema solar. O astro, batizado de EBLM J0555-57Ab, é parte de um sistema binário e foi detectado ao passar diante de sua compnheira bem maior numa órbita com um período de 7,8 dias. Esse método, o de trânsito, é o mesmo usado para encontrar a maioria dos exoplanetas descobertos.

A estrelinha é descrita em artigo assinado por Alexander von Boetticher et. al. a ser publicado na revista Astronomy & Astrophysics, mas já disponível em pré-print. Como acontece com planetas, a massa e o tamanho de EBLM J0555-57Ab puderam ser determinados a partir dessas primeiras observações.

As medições indicam uma massa 4 vezes superior à de Júpiter — similar à de TRAPPIST-1 — mas compactada num raio menor. Na prática, a estrelinha recém-descoberta é apenas ligeiramente maior do que Saturno e, portanto, menor do que Júpiter, o maior de nossos vizinhos planetários. Estima-se que a gravidade em sua superfície é apenas 300 vezes maior do que a que sentimos na Terra.

No entanto, ainda é cedo para saber como ou quando essa pequenina estrela se formou. Embora sejam os sóis mais comuns do Universo, estrelas como TRAPPIST-1 e EBLM J0555-57Ab ainda são pouco compreendidas. Como são bem pequenas e têm um brilho fraco, é difícil encontrá-las e estudá-las. Na verdade, é mais fácil detectar exoplanetas do que essas estrelinhas. Milhares de exoplanetas foram encontrados nos últimos anos, mas mini-estrelas como essas continuam raras nos catálogos astronômicos. Brilhem, brilhem, estrelinhas!

Resenha: A História da Astronomia

A História da Astronomia

A obra tem 208 páginas ricamente ilustradas e percorre o tempo reconstruindo nossa compreensão do universo que nos rodeia, recheada de curiosidades e quadros explicativos. Mas um de seus maiores méritos talvez seja a atualidade com que trata cada pedacinho da história. Quando ainda estamos nas primeiras ferramentas utilizadas pelos antigos astrônomos, por exemplo, a autora nos brinda com a Anticítera, um famoso “computador mecânico” datado do século I a.C., mas que somente recentemente teve seu mecanismo decifrado. A reclassificação de Plutão em 2006, o meteorito que explodiu sobre a Rússia em 2013 e a caçada aos planetas extrasolares – verdadeiro “Santo Graal” da Astronomia moderna – também estão presentes, mostrando a preocupação em mostrar uma história viva, que se constrói a todo o momento. Geralmente não se recomendam livros de história para quem está iniciando num tema como a Astronomia, que tem caráter de hobby e, portanto, busca a prática. Mas “A História da Astronomia” de Anne Rooney quebra brilhantemente esse tabu. Dizem que a verdadeira divulgação científica é aquela que não apenas informa, mas inspira. Então, após a leitura desse livro, o leitor certamente irá querer buscar saber mais sobre a ciência dos astros. E vai poder fazer isso conectando esse imenso espaço estrelado acima de nossas cabeças com a vastidão do tempo que levamos para compreendê-lo até aqui. Ir além será tão inevitável quanto sonhar. 



Memória Fotográfica: Adolphe Neyt Jr.


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Um político e antiquário belga é hoje lembrado por suas imagens microscópicas e astronômicas, bastante precisas para sua época.

Nascido em 1830 numa família belga enriquecida por negócios como o refino de açúcar e a fabricação de linho, Adolphe Neyt Jr. seguiu os passos do pai e do tio na política, tornando-se membro da Câmara Municipal de Ghent e, mais tarde, foi eleito para o Conselho Provincial (1865-69), equivalente à Câmara dos Deputados. De inclinações liberais, teve pouca ambição política e hoje seria apenas uma nota de rodapé na História da Bélgica, não fosse seu envolvimento com ciência, cultura e fotografia.
Retrato de Adolphe Neyt Jr. por Liévin De Winne.
Retrato de Adolphe Neyt Jr. por Liévin De Winne.
Formado na Universidade de Ghent, seus verdadeiros interesses estavam em coisas como antiguidades e bibliotecas. Como político e ativista, Adolphe Jr. fez parte do comitê de apoio às bibliotecas públicas. A riqueza de sua família lhe permitiu acumular uma grande coleção de armas antigas e porcelanas, mais tarde legadas ao Museu de História e Antiguidades de Ghent, do qual foi membro fundador. Quem o levou para o mundo da fotografia foi um cunhado famoso.
Em meados dos anos 1850, Neyt foi treinado em fotografia por ninguém menos que Friedrich Kekulé [1829-1896], aquele químico alemão que sonhava com cobras. Rapidamente Junior percebeu que a fotografia seria uma ferramenta de extrema importância na pesquisa científica.
Diatomáceas (c. 1868)
Diatomáceas (c. 1868)
Vindo de uma cultura que havia sido pioneira na microscopia, não é surpresa que ele tenha começado a experimentar a aplicação da fotografia à observação de cristais e micro-organismos a partir de 1857. Cinco anos mais tarde, ele apresentou uma série de imagens estereoscópicas destes temas à Academia Real de Ciências da Bélgica, onde não foi bem recebido. O reconhecimento só veio depois de mais cinco anos, quando recebeu uma medalha de prata na Exposição Mundial de Paris de 1867.
Uma das chapas do Atlas photographique de la lune (1869)
Uma das chapas do Atlas photographique de la lune (1869)
Talvez por isso seu trabalho seguinte tenha sido mais ambicioso. Bem mais ambicioso, trocando o micro pelo macro. Com acesso a um telescópio de reflexão da família, Adolphe Jr. resolveu tirar fotos da Lua. Hoje isso pode parecer banal mas há um século e meio era uma empreitada difícil e arriscada. Ele conseguiu apenas 12 fotografias lunares, mas nelas a Lua era apresentada com um brilho e nitidez jamais vistos. O resultado foi publicado no Atlas photographique de la lune. Essai de cartes photographies de la lune (1869).
Fotomicrografia de um ácaro por A. Neyt Jr. (c. 1865)
Fotomicrografia de um ácaro por A. Neyt Jr. (c. 1865)
Depois disso, Neyt voltou ao mundo microscópico e fez uma longa colaboração com o biólogo Edouard van Beneden, que pesquisava parasitas. Por isso, ao longo de vários anos, Adolphe Jr. tirou nada menos que 200 fotomicrografias do verme Ascaris megalocephalis. Esse trabalho só foi publicado em 1887.
No começo dos anos 1880, ele também colaborou com o professor de física Joseph Plateau [1801-1883] no registro fotográfico de superfícies formadas por sabão. Basicamente, eram bolhas montadas sobre estruturas geométricas, como a imagem a seguir. Esse trabalho ajudou Plateau a calcular a espessura e as tensões moleculares do filme de “líquido glicérico”.
sabão1880


Nos anos seguintes, Adolphe Neyt Jr. adoeceu e veio a falecer em Ostende, em 1892, aos 62 anos. Casado com Elise Drory, filantropa de origem britânica e também liberal, ele não deixou filhos, o que causou um imbroglio jurídico quanto à sua herança, resolvido apenas em 1921. Elise não deu muita importância às suas obras fotográficas e, pouco depois da morte do marido, doou muitas de suas fotos e seu equipamento à Universidade de Ghent, que no entanto digitalizou poucas dessas imagens. Fotos de sua coleção de armas antigas podem ser vistas aqui.

O planeta que veio para jantar e os planetas que viraram jantar

Nesta impressão artística do suposto Planeta Nove divulgada pelo Observatório Espacial Europeu (ESO), a órbita de Netuno é o círculo dourado ao redor do Sol.


Nesta impressão artística do suposto Planeta Nove divulgada pelo Observatório Espacial Europeu (ESO), a órbita de Netuno é o círculo dourado ao redor do Sol.

Essa é uma história com alguns planetas, três estrelas e suas respectivas interações gravitacionais. Às vezes, essas atrações são fatais
Desde que Plutão deixou de ser planeta, há rumores de que haveria outro mundo oculto para lá da órbita plutoniana. Vários candidatos surgiram — Haumea (que tem até anéis recém-descobertos), Éris, Quaoar, Sedna —, mas nenhum se enquadrou na nova definição de planeta. Junto com Plutão, eles ficaram classificados como planetas-anões, a série B do sistema solar. Mas talvez ainda haja alguém na rabeira da primeira divisão. Um mundo bem grande, bem escuro e muito distante. Apelidado de Planeta 9, ele vem sendo caçado nos últimos anos e parece ter deixado alguns rastros.

Entre os caçadores do Nove, estão o astrofísico Konstantin Batygin e o astrônomo Mike Brown, ambos do Caltech, o Instituto Tecnológico da Califórnia. Para Batygin, existem pelo menos cinco evidências indiretas da existência do Nove. Se esse mundo não existir, disse ele ao Science Daily, “então você gera mais problemas do que resolve. De repente, você tem cinco enigmas diferentes e tem de criar cinco teorias diferentes para explicá-los.”

Batygin e Brown descreveram as três primeiras evidências a favor do 9 num paper publicado no Astronomical Journal em janeiro do ano passado. Segundo eles, existem três objetos nos cafundós do cinturão de Kuiper cujas órbitas elípticas estão todas voltadas para a mesma direção. Outra pista é a inclinação dessas órbitas, de cerca de 30 graus “abaixo” do plano da elíptica — o plano formado pelas órbitas dos planetas conhecidos. A terceira pegada também estaria na existência de órbitas inclinadas – no caso, de pelo menos cinco objetos que estão quase na perpendicular em relação ao nosso plano.

Na verdade, a própria eclíptica teria sido entortada pelo Nove. Essa é a conclusão do estudo feito por Elizabeth Bailey, orientada de Batygin. Há anos sabe-se que a eclíptica tem 6o. de inclinação em relação ao equador solar. Para o grupo de Batygin e Brown, o culpado por tamanhas perturbações seria o Planeta Nove.

Se for assim, o 9 deve ser nosso primo maior: uma super-Terra, um mundo rochoso com tamanho situado entre a Terra e Netuno. Super-Terras são comuns e têm sido descobertas em muitos sistemas solares. Só falta um detalhe: encontrar esse mundo grandalhão e tímido. Para isso, os pesquisadores do Caltech estão usando o Telescópio Subaru do Observatório Mauna Kea, no Havaí. Se for encontrado — e talvez seja —, o Nono Planeta será bem-vindo à família do Sol e certamente será recebido com um banquete por seus descobridores.

Kronos & Krios


Não que planetas tenham fome — mas alguns sóis têm. Esse parece ser o caso da estrela HD 240430, que parece ter ingerido o equivalente a quinze massas terrestres segundo astrofísicos da Universidade Princeton. Situado a 326 anos-luz de distância, esse astro faminto faz parte de um sistema binário com HD 240429. Separadas por dois anos-luz de distância entre si, essas estrelas se orbitam lentamente, com uma volta a cada 10 mil anos. Ambas são estrelas amarelas do tipo G, como o nosso Sol, mas um pouco mais novas: têm só 4 bilhões de anos.

Estrelas binárias assim existem aos montes, mas o que torna esse sistema extraordinário é a diferença na composição química de seus membros. Como costumam ter a mesma origem, estrelas binárias são quimicamente parecidas. Era isso que a equipe do astrônomo Semyeong Oh e seus colegas de Princeton esperava encontrar.

No entanto, ao fazer a espectroscopia do par, eles descobriram que HD 240430 tem um perfil bastante incomum e distinto da vizinha e irmã. Essa é uma estrela rica em magnésio, alumínio, silício, crômio e ítrio — elementos pesados, formadores de rochas e minerais. Os elementos mais leves, como oxigênio, carbono, nitrogênio e potássio não aparecem na mesma proporção que HD 240429.

Ao perceber isso, Oh deve ter soltado uma exclamação — Oh! — antes de buscar uma explicação. Não foi muito difícil encontrá-la. Para Oh, HD 240430 engoliu seus planetas terrestres durante uma aproximação com outra estrela, ainda não identificada. Essa é a conclusão do artigo que ele e seus colaboradores publicaram no arXiv.org, plataforma de divulgação aberta de resultados preliminares.

“Interações gravitacionais com a estrela passante distorceram as órbitas dos planetas mais externos de Kronos, que acabaram deslocados para o sistema planetário interno”, explicaram os cientistas em comunicado à Sci-News. Por sua vez, os planetas maiores empurraram os menores e mais rochosos para dentro, transformando-os em jantar de sua estrela. Por isso, os pesquisadores acabaram apelidando a estrela comilona de Kronos e sua gêmea de Krios. Segundo Oh, Kronos é o “caso mais dramático de estrela do tipo solar devorando seus próprios planetas”.

Como no caso do nosso Planeta Nove, falta um detalhe importante: observar evidências mais diretas desse fenômeno. Oh e sua equipe esperam conseguir observar planetas ao redor de Kronos — se é que sobrou algum — e de Krios — se existirem, os mundos ao redor de Krios não teriam sido afetados de modo tão dramático. Assim é a gravidade entre os planetas: às vezes ela nos leva para jantar com a família e outras nos traz para ser jantado pela família.

It's a trap !

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Modelos computacionais indicam uma composição extraordinariamente úmida para os planetas do sistema TRAPPIST-1. É (mais) um balde de água fria nas esperanças de encontrar ali um ambiente habitável.

Quando sete planetas de tamanho parecido com o nosso foram encontrados ao redor da zona habitável de uma anã-vermelha chamada TRAPPIST-1, houve uma tempestade midiática embalada pela esperança de que encontraríamos ali um mundo em condição de habitabilidade. Não demorou muito para as pesquisas mostrarem que o sistema formado pelos planetas bcdef e g seria pouco amigável graças à instabilidade de seu astro-rei pequeno, avermelhado e hiperativo.
Mesmo que tenham campos magnéticos capazes de protegê-los das tempestades solares de TRAPPIST-1, os planetas daquele sistema situado a 39 anos-luz daqui têm outro problema: sua composição. Observações feitas pelo método de trânsito determinaram seus diâmetros e suas massas. Com base nessas informações, cientistas das Universidades do Estado do Arizona (ASU) e Vanderbilt (VU), ambas nos EUA, fizeram modelagens computacionais para estimar do que seriam formados os famosos sete planetinhas.
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Em termos de escala, TRAPPIST-1 situa-se entre o sistema jupiteriano (acima) e a órbita de Mercúrio (abaixo). Do que seriam feitos os sete planetas de um sistema tão compacto?
Embora tenham sido classificados como rochosos e tenham mais ou menos o tamanho da Terra, isso não significa que aqueles mundos sejam como o nosso. Eles poderiam ser bolas de gelo e água, parecidos com Europa, a lua de Júpiter (que também é alvo de muitas especulações sobre sua habitabilidade). Parece ser esse o caso dos planetas que cercam TRAPPIST-1, segundo a pesquisa publicada em 19/03 na Nature Astronomy — o artigo foi assinado por Cayman T. Unterborn, Steven J. Desch, Alejandro Lorenzo (ASU) e Natalie R. Hinkel (VU).
Na verdade, esses planetas estariam mais para super-Europas. De acordo com os modelos de Unterborn et. al., tais mundos teriam água em sua composição. Dependendo do planeta, de 10% a 50% em massa seria somente água. Por comparação, o nosso Planeta Água tem meros 0,2% de H2O em relação à massa total. É muita, muita, muita água, equivalente a centenas de oceanos terrestres.
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Perfil da crosta de Trappist-1f, que dá indícios de ter um oceano raso sobre duas camadas de gelo duro feito rocha. Abaixo da massa aquosa, ficaria um material semelhante ao manto e um núcleo de ferro líquido, uma configuração interna parecida com a da Terra.

Choque de gelo

Se você achou que isso seria uma boa notícia para a habitabilidade de TRAPPIST-1, achou errado, otário. Há tanta água naqueles planetas que nem sobra espaço pra terra. Tamanha massa aquosa seria capaz de formar duas camadas diferentes de gelo sob um mar raso — gelos do tipo VI e VII, formados por compressão. Com milhares de quilômetros de espessura, essa imensa camada congelada impede a formação de rochas como as terrestres. Sem rochas expostas, não tem como ocorrer as reações geoquímicas que facilitam o surgimento da vida (ao menos da vida como a conhecemos).
Além de afogar quaisquer possibilidades de vida, todo esse gelo e água também são indícios de como nasceram os planetas do sistema TRAPPIST-1. Apesar de estarem todos dentro da chamada linha de neve — a zona dentro da qual podem se formar água e gelo —, o grau de umidade desses planetas varia bastante. Segundo os modelos desenvolvidos, os planetas mais ricos em água — f e g — teriam se formado além da linha de neve, migrando posteriormente para suas atuais posições.
As implicações dessas descobertas podem ser profundas, especialmente se forem confirmadas em outros sistemas semelhantes. Se esses mecanismos de formação e a composição química forem tão comuns quanto as anãs-vermelhas, cai bastante a possibilidade de que seja frequente o surgimento de vidas em outros sistemas planetários.


Mundos de outro mundo

Imagem em raio-x da lente gravitacional de RXJ 1131-1231. Ao centro, a galáxia que serve como lente. Os quatro pontos ao seu redor formam o quasar pesquisado, que apresenta fortes indícios da existência de planetas em seu interior. [Imagem: Universidade de Oklahoma/divulgação]

Imagem em raio-x da lente gravitacional de RXJ 1131-1231. Ao centro, a galáxia que serve como lente. Os quatro pontos ao seu redor formam o quasar pesquisado, que apresenta fortes indícios da existência de planetas em seu interior. [Imagem: Universidade de Oklahoma/divulgação]

Usando uma galáxia inteira como lente, cientistas observam pela primeira vez indícios da existência de planetas situados fora da Via-Láctea

Quando apontou um conjunto de lentes alinhadas num tubo — um telescópio — para corpos celestes como a Lua e Júpiter, Galileu Galilei deu início à astronomia moderna e abriu o caminho que nos situaria em nosso lugar no Cosmos. Quatro séculos mais tarde, telescópio situados ao redor da Terra encontram novos planetas quase todo dia. Embora variem em aspectos como distância, massa, tamanho e período rotacional, todos os exoplanetas conhecidos têm algo em comum: estão todos dentro da nossa galáxia, a Via-Láctea.
Para um astrônomo de cem anos atrás isso não seria surpresa. Naquela época, pensava-se que a Via-Láctea era a única galáxia do Universo. Poucos anos depois, graças às pesquisas iniciadas por Edwin Hubble, o número de galáxias conhecidas passou de uma para bilhões e bilhões. Hoje em dia, algo semelhante acontece com o número de planetas.
Embora o estudo de outras galáxias seja um campo relativamente recente, já aprendemos o bastante para saber algumas coisinhas. Primeiro: galáxias são grandes, muito muito grandes e distantes. Tão grandes e distantes que, segundo Albert Einstein, seriam capazes de distorcer a luz de objetos ainda mais afastados. Quando uma galáxia se interpõe entre nós e outra galáxia, gera um efeito de ampliação muito parecido com o de uma lupa ou telescópio. Conhecido como lente gravitacional, esse efeito tem sido usado para nos mostrar o que há nos rincões mais afastados do Universo.
Em segundo lugar, descobrimos que as galáxias, por mais variáveis que possam ser em termos de composição química e forma, são formadas por basicamente a mesma matéria da Via-Láctea: estrelas, nuvens de poeira, buracos-negros. Como cada estrela pode (e muitas vezes é) um sol na Via-Láctea, nada impede a existência de planetas situados em outras galáxias. Mas como estudar esses mundos de outro mundo?
“Não há a menor chance de observar esses planetas diretamente, nem mesmo com os melhores telescópios que alguém pode imaginar num cenário de ficção-científica”, explica ao ScienceDaily Eduardo Guerras, pós-doutorando em Física e Astronomia da Universidade de Oklahoma (EUA). Já que não dá pra usar nenhum telescópio humanamente possível, que tal recorrer aos montados pelo próprio Universo?
Orientado pelo professor Xinyu Dai, Guerras analisou dados do Observatório Chandra, um telescópio espacial da NASA especializado em raios-X. O objetivo da pesquisa era encontrar uma lente gravitacional capaz de indicar a presença de algum planeta fora de nossa galáxia. Guerras e Dai encontraram um tipo especial de lupa cósmica: uma microlente, formada quando um quasar (um conjunto de estrelas ou um núcleo galáctico muito massivo, muito energético e muito distante) é focado por uma galáxia interposta.
Nas 38 imagens registradas pelo telescópio ao longo dos últimos dez anos e analisadas pelos dois pesquisadores, encontra-se em foco um quasar conhecido como RXJ 1131-1231. De forma elíptica e situado a 3,8 bilhões de anos-luz de distância, RXJ 1131-1231 é grande o suficiente para abrigar trilhões de planetas. Com o auxílio de um supercomputador da Universidade do Oklahoma, Guerras e Dai foram capazes de aprofundar sua análise e encontrar indícios de exoplanetas situados em RXJ 1131-1231.
Evidentemente, tais indícios foram descobertos de maneira indireta, de modo tanto gravitacional quanto espectroscópico. Acontece que há um desvio nas emissões de Ferro e Potássio nesse quasar. Inicialmente, os pesquisadores consideraram que isso seria um sinal de um número de estrelas maior do que o esperado. Só que mesmo aumentando o número de estrelas até determinado limite nos cálculos, ainda faltava alguma coisa.
Foi então que Guerras e Dai começaram a trabalhar com a hipótese da existência de objetos de massa planetária em RXJ 1131-1231. Como é muito difícil estimar o número de planetas por estrela sem poder observar as estrelas diretamente, os dois pesquisadores partiram da suposição que RXJ 1131-1231 também teria alguma quantidade de planetas solitários, mundos órfãos que vagam pelo espaço.
Publicados no Astrophysical Journal, os resultados dessa análise apontam para a existência de milhares de corpos de escala planetária, situados entre os tamanhos da Lua (!!!) e de Júpiter. Análises estatísticas das três melhores imagens disponíveis resultaram em valores de confiança de 4,5 a 6,4 sigma (quanto maior o índice sigma de uma descoberta, mais certeza se tem de que ela realmente existe). É uma descoberta inédita e extraordinária: a primeira vez que observamos planetas que estão além da nossa galáxia. São, portanto, descritos pelos cientistas como “exoplanetas extragalácticos”.
Ao repetir o gesto de Galileu com uma galáxia inteira como lente, Guerras e Dai revolucionam o campo da astronomia planetária, que agora se expande para além da Via-Láctea. Tal como Galileu, os dois astrônomos americanos não devem conseguir enxergar sua descoberta com grandes detalhes. É possível que levemos séculos até conhecer a aparência desses mundos de outro mundo — mas um dia alguém será capaz de escalar nos ombros de gigantes como Galileu, Einstein, Hubble e talvez Guerras e Dai para nos mostrar como são esses e outros planetas situados nos rincões do Universo.

Galáxias distantes estão se movendo mais rápido que a luz


Uma das primeiras coisas que aprendemos nas aulas de ciência é que nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz. Essa é uma regra fundamental proposta por Albert Einstein em sua Teoria da Relatividade. Mas os físicos acreditam agora que pelo menos uma coisa pode quebrar esta regra, ou pelo menos parece quebrar – o próprio universo. Os astrônomos acreditam que há galáxias se afastando da nossa a uma velocidade maior que a velocidade da luz. Como resultado, provavelmente nunca conseguiremos vê-las.

Há 13,78 bilhões de anos, nosso universo, que se concentrava em um ponto muito pequeno e denso, explodiu em um evento que chamamos de Big Bang. Após a explosão, o universo expandiu a uma taxa de 10¹⁶ em uma fração de segundo, durante um período de inflação que ocorreu a uma velocidade maior que a da luz. Depois disso, seria de se imaginar que o universo se expandiria a uma taxa constante ou mesmo diminuiria sua velocidade. Se a velocidade diminuísse, poderíamos ver até o limite, pois não haveria nenhum lugar que fosse muito longe para a luz viajar.

Em vez disso, a taxa de expansão do universo tem acelerado. E há lugares no universo que estão tão distantes que os fótons nunca chegarão lá. Como resultado, as bordas do nosso cosmos permanecem na sombra. O que está além delas é um mistério que talvez nunca possamos resolver.

Essa expansão ainda está ocorrendo, a uma taxa cada vez maior. E não é apenas a matéria, mas o tecido do próprio universo. Além disso, as galáxias mais distantes parecem estar se movendo mais rápido do que as que estão mais perto de nós. Pode até haver algumas se movendo mais rápido que a luz – e se for esse o caso, dificilmente as detectaríamos.

A taxa de expansão universal é de 68 quilômetros por segundo por megaparsec. Um parsec é 3,26 milhões de anos-luz, enquanto um megaparsec contêm um milhão de parsecs. A cada parsec mais longe uma galáxia está da nossa, é preciso adicionar 68 km / s à sua velocidade.

Quando chegam a cerca de 4.200 megaparsecs de distância, as galáxias viajam mais rápido que a luz – só por curiosidade, 4.200 megaresecs é igual a 130.000.000.000.000.000.000.000 km. Os astrônomos conseguem calcular a que distância uma galáxia está pela distância que ela percorreu e pelo tempo necessário para percorrer essa distância, observando cuidadosamente a luz que vem dela.

Galáxias vermelhas

Podemos dizer a que distância uma galáxia se encontra por algo chamado desvio para o vermelho e pela mudança para o azul. Quando uma galáxia se afasta, a luz demora mais para chegar até nós. Todo esse espaço entre a galáxia e nós força o comprimento de onda da luz a se alongar, movendo-a em direção à parte vermelha do espectro. Isso é conhecido como desvio para o vermelho. Esses objetos que se afastam de nós parecem vermelhos enquanto aqueles que se movem em nossa direção, cujos comprimentos de onda encurtam, parecem azuis.

A coisa mais distante que podemos detectar é o fundo cósmico de microondas (CMB), um resíduo do que sobrou do Big Bang. Criado há 13,7 bilhões de anos, ele agora se estende homogeneamente 46 bilhões de anos-luz de distância em todas as direções.

De acordo com Paul Sutter, astrofísico da Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, e cientista-chefe do Centro de Ciências COSI, a noção de que a velocidade da luz é a velocidade máxima para a matéria (ou para dados) vem da relatividade especial de Einstein. Mas isso é parte do que ele chama de “física local”. Pode e, de fato, deve ser aplicado às coisas próximas.

Longe, nas profundezas do espaço, no entanto, a relatividade geral se aplica, mas a relatividade especial não, e isso faz com a luz não seja mais exatamente o parâmetro, à medida que a velocidade mais alta se torna menos certa. A implicação de um universo em constante aceleração é uma morte cósmica melancólica. Ao longo de bilhões de anos, acredita-se que as galáxias se expandirão tão longe umas das outras que os gases que se reúnem para formar estrelas não conseguirão se unir.

A luz de outras galáxias também não poderá nos alcançar. E sem novas estrelas se formando, elas não serão nada para substituir as que se esgotaram. Isso significa um desvanecimento lento de toda a luz no universo e, em seu lugar, um cosmo para sempre envolto em trevas geladas. O universo vai literalmente apagar, a menos que outras forças possam neutralizar esse fenômeno. 

Hubble detecta hélio na atmosfera de um exoplaneta pela primeira vez



Astrônomos usando o Telescópio Espacial Hubble da NASA detectaram hélio na atmosfera do exoplaneta WASP-107b. Esta é a primeira vez que este elemento foi detectado na atmosfera de um planeta fora do sistema solar. A descoberta demonstra a capacidade de usar espectros de infravermelho para estudar atmosferas estendidas de exoplanetas.
A equipe internacional de astrônomos, liderada por Jessica Spake, estudante de doutorado na Universidade de Exeter, no Reino Unido, usou a Wide Field Camera 3 do Hubble para descobrir o hélio na atmosfera do exoplaneta WASP-107b. Esta é a primeira detecção desse tipo.
Spake explicou a importância da descoberta: "O hélio é o segundo elemento mais comum no universo após o hidrogênio. É também um dos principais constituintes dos planetas Júpiter e Saturno em nosso sistema solar. No entanto, até agora o hélio não foi detectado em exoplanetas - apesar das buscas por ele. "
A equipe fez a detecção analisando o espectro infravermelho da atmosfera do WASP-107b. Detecções prévias de atmosferas de exoplanetas estendidas foram feitas através do estudo do espectro em comprimentos de onda ultravioleta e óptica; Essa detecção, portanto, demonstra que as atmosferas de exoplanetas também podem ser estudadas em comprimentos de onda maiores.
A medição da atmosfera de um exoplaneta é realizada quando o planeta passa na frente de sua estrela hospedeira. Uma pequena porção da luz da estrela passa pela atmosfera do exoplaneta, deixando impressões digitais detectáveis ​​no espectro da estrela. Quanto maior a quantidade de um elemento presente na atmosfera, mais fácil será a detecção.
"O forte sinal do hélio que medimos demonstra uma nova técnica para estudar camadas superiores de atmosferas de exoplanetas em uma ampla gama de planetas", disse Spake. "Os métodos atuais, que usam luz ultravioleta, são limitados aos exoplanetas mais próximos. Sabemos que há hélio na alta atmosfera da Terra e essa nova técnica pode nos ajudar a detectar atmosferas em torno de exoplanetas do tamanho da Terra - o que é muito difícil com a tecnologia atual. "
O WASP-107b é um dos planetas de densidade mais baixa conhecido: enquanto o planeta é aproximadamente do mesmo tamanho que Júpiter, ele possui apenas 12% da massa de Júpiter. O exoplaneta é de cerca de 200 anos-luz da Terra e leva menos de seis dias para orbitar sua estrela hospedeira.
A quantidade de hélio detectada na atmosfera do WASP-107b é tão grande que sua atmosfera superior deve se estender por dezenas de milhares de quilômetros até o espaço. Isso também torna a primeira vez que uma atmosfera estendida foi descoberta em comprimentos de onda infravermelhos.
Como sua atmosfera é tão extensa, o planeta está perdendo uma quantidade significativa de seus gases atmosféricos no espaço - entre cerca de 0,1% a 4% da massa total da atmosfera a cada bilhão de anos.
A radiação estelar tem um efeito significativo na taxa em que a atmosfera de um planeta escapa. A estrela WASP-107 é altamente ativa, suportando a perda atmosférica. À medida que a atmosfera absorve a radiação, ela se aquece, de modo que o gás se expande rapidamente e escapa mais rapidamente para o espaço.
Já em 2000, previa-se que o hélio seria um dos gases mais facilmente detectáveis ​​em exoplanetas gigantes, mas até agora as buscas não tiveram sucesso.
David Sing, co-autor do estudo também da Universidade de Exeter, concluiu: "Nosso novo método, juntamente com futuros telescópios como o Telescópio Espacial James Webb da NASA, nos permitirá analisar atmosferas de exoplanetas com muito mais detalhes do que nunca "
O estudo da equipe aparece em 2 de maio de 2018, na edição online da revista científica Nature .

Saiba tudo sobre a sonda InSight


A nave da Nasa não está atrás de vida ou água: vai investigar os terremotos do planeta vermelho – e aprender mais sobre sua história de 4,5 bilhões de anos

Nasa está de malas prontas de novo. Já foi da Califórnia na manhã do próximo sábado (5) a sonda InSight, projetada para detectar e analisar os terremotos de Marte. Os dados sismográficos servirão para investigar a crosta, o manto e o núcleo do planeta vermelho – e descobrir no que seu recheio é ou não parecido com o da Terra.
Se tudo der certo, a InSight decolará às 8h15 da manhã (horário de Brasília) a bordo de um foguete Atlas V-401 da base aérea de Vandenberg, no meio do caminho entre São Francisco e Los Angeles, e levará seis meses para chegar a Marte. Será o primeiro lançamento interplanetário na costa oeste dos EUA – boa parte das missões não-tripuladas da Nasa saíram de Cabo Canaveral, na Flórida.
O nome InSight é um trocadilho com a palavra inglesa insight, que não tem uma tradução ideal em português, mas significa algo como “sacada” ou “percepção”. Na verdade, as letras formam o interminável acrônimo Interior Exploration Using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport (exploração do interior, usando investigação sísmica, geodésica e transporte de calor).
Bruce Banerdt, cientista-chefe da missão, afirmou ao New York Times que a sonda pousará em uma região chamada Elysium Planitia – o pedaço mais monótono da superfície de Marte: “Nós escolhemos o mais próximo de um estacionamento de 100 quilômetros que deu para encontrar”. É provável que não haja montanhas ou sequer pedras no campo de visão do veículo.
O isolamento geográfico é proposital: ao contrário de boa parte dos jipinhos enviados ao planeta vermelho até agora, a InSight não vai lá procurar indícios de água ou vida microscópica. Na verdade, ela não vai procurar nada, porque não tem rodas: a sonda de 625 kg passará toda a duração da missão – um ano marciano, o equivalente a 728 dias terrestres – em um ponto fixo da superfície, analisando o solo. Nesse caso, a prioridade é garantir um local de pouso seguro e estável. E quanto mais lisa a pista, melhor.
As informações da InSight não servirão só para munir os astronautas do futuro com informações sobre prováveis “martemotos” (marsquakes) – como foram apelidados os tremores de terra do nosso vizinho cósmico. A análise de abalos sísmicos nos dará informações sobre a história geológica de Marte desde sua formação, há 4,5 bilhões de anos. Em última instância, isso significa entender melhor a juventude conturbada do Sistema Solar.
A sonda carregará vários instrumentos científicos, que, assim como ela, foram batizados com siglas. Dois têm funções bem simples: o HP3, de fabricação alemã, é basicamente um termômetro enterrado, capaz de medir quanto calor o interior do planeta emana para a superfície sem interferência das variações climáticas lá fora. Ele tem alguns truques, porém – como emitir seus próprios pulsos de calor para ver como eles se distribuem pelo solo. Já o SEIS, de origem francesa, é responsável por captar vibrações sutis na superfície – tanto as causadas por fenômenos no interior de Marte quanto as motivadas por choques de meteoritos ou tempestades.
A InSight terá companhia na viagem: em sua cola irão dois satélites de comunicação chamados Mars Cube One, ou MarCO. Anexos a parte, elas têm o tamanho aproximado de maletas de executivo – as típicas de desenhos animado – e vão intermediar o envio das informações do solo marciano para o solo terráqueo. Essas duas anteninhas escudeiras não são essenciais para a missão, mas servirão como um teste valioso para a implantação, em um futuro ainda distante, de uma rede de telecomunicações interplanetária.
Boa viagem, InSight. Não vá ficar entediada com a paisagem.

ESA e NASA em averiguações para trazer solo MARCIANO para a TERRA




O nosso planeta vizinho, Marte, em 2016. Algumas características proeminentes do planeta são claramente visíveis: o antigo e inativo vulcão Syrtis Major; a brilhante e oval bacia Hellas Planitia; a região Arabia Terra no centro; as características escuras de Sinus Sabaeous e Sinus Meridiani ao longo do equador; e a pequena calote polar sul.Crédito: NASA, ESA e Equipa de Legado do Hubble (STScI/AURA), J. Bell (ASU) e M. Wolf (SSI)

A ESA e a NASA assinaram no passado dia 27 de abril uma declaração de intenções para explorar conceitos para missões, de modo a trazer amostras de solo marciano para a Terra.  As naves espaciais em órbita e na superfície de Marte fizeram muitas descobertas emocionantes, transformando a nossa compreensão do planeta e revelando pistas para a formação do nosso Sistema Solar, bem como nos ajudam a compreender o nosso planeta natal. O próximo passo é trazer amostras para a Terra para análises detalhadas em laboratórios sofisticados, onde os resultados podem ser verificados de forma independente, e as amostras podem ser reanalisadas, à medida que as técnicas de laboratório continuam a melhorar.

Marte na Terra

Trazer Marte à Terra não é um empreendimento simples - seria necessário, pelo menos, três missões a partir da Terra e uma, nunca-antes realizada, para o lançamento de um foguetão a partir de Marte. Uma primeira missão, a Mars Rover 2020 da NASA, deverá recolher amostras da superfície em latas do tamanho de uma caneta, enquanto explora o Planeta Vermelho. Até 31 caixas serão preenchidas e preparadas para uma coleta posterior - geocaching interplanetário.

No mesmo período, o ExoMars da ESA, que também deverá aterrar em Marte em 2021, irá perfurar até dois metros abaixo da superfície, para procurar evidências de vida. Uma segunda missão, com um pequeno rover, aterraria nas proximidades e recuperaria as amostras numa operação marciana de busca-e-resgate. Este rover traria as amostras de volta ao seu módulo e as colocá-las-ia num MAV (Mars Ascent Vehicle, Veículo de subida de Marte em português) - um pequeno foguetão para lançar um contentor do tamanho de uma bola de futebol para a órbita de Marte.

Um terceiro lançamento, a partir da Terra, forneceria uma aeronave enviada para orbitar Marte e reunir-se com os contentores de amostras. Assim que as amostras estivessem recolhidas e carregadas de forma segura num veículo de entrada na Terra, a aeronave retornaria à Terra, libertando o veículo para aterrar nos Estados Unidos, onde as amostras seriam recuperadas e colocadas em quarentena para análise detalhada por uma equipa de cientistas internacionais.

Estudar os conceitos

O comunicado assinado no ILA Berlim pelo Diretor de Exploração Humana e Robótica da ESA, David Parker, e pelo Administrador Associado da NASA para a Diretoria da Missão Científica, Thomas Zurbuchen, descreve os potenciais papéis que cada agência espacial poderia executar e como podem oferecer apoio mútuo.  David diz: "Uma missão de retorno de amostras de Marte é uma visão tentadora, mas realizável, que se encontra na interseção de muitas boas razões para explorar o espaço.

"Não há dúvida de que, para um cientista planetário, a oportunidade de trazer amostras primitivas e cuidadosamente escolhidas do Planeta Vermelho de volta à Terra para examinar, utilizando as melhores instalações, é uma perspetiva de dar água na boca. Reconstruir a história de Marte e responder a perguntas do passado são apenas duas áreas de descoberta que avançarão dramaticamente devido esta missão.

"Os desafios de ir a Marte e voltar exigem que estes sejam abordados por uma parceria internacional e comercial - os melhores dos melhores. Na ESA, com os nossos 22 estados membros e outros parceiros colaboradores, a cooperação internacional faz parte do nosso ADN. "

"Missões anteriores a Marte revelaram antigos riachos e a química certa que poderia ter apoiado a vida microbiana no Planeta Vermelho, " disse Thomas, "uma amostra forneceria um salto crítico na nossa compreensão do potencial de Marte para albergar vida.

"Estou ansioso para conectar e colaborar com parceiros internacionais e comerciais para enfrentar os excitantes desafios tecnológicos pela frente - que nos permitiriam levar para casa uma amostra de Marte.  Os resultados dos estudos sobre a missão serão apresentados no conselho da ESA, a nível ministerial, em 2019, para uma decisão de continuar a desenvolver estas missões.

Infraestrutura em posição

A sonda ExoMars da ESA já está a circundar Marte para investigar a sua atmosfera. A semana passada transmitiu dados do rover Curiosity da NASA para a Terra, provando, também, o seu valor como um satélite de retransmissão. Esta colaboração demonstra uma boa cooperação com a NASA e fornece uma infraestrutura essencial de comunicação em torno do Planeta Vermelho. As descobertas da missão ExoMars podem ajudar a decidir quais as amostras a armazenar e a trazer para a Terra durante a missão de retorno de amostras de Marte.