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quarta-feira, 16 de março de 2022

Sobre o Heliocentrismo




É evidente que jamais teremos uma "prova sensível, democrática e popular" do movimento da Terra - tal como as provas da existência e comportamento de coisas e objetos da vida comum que nos alcançam pelos sentidos ordinários. Para isso, todos nós teríamos que sair da Terra e permanecer imóvel em algum referencial distante dos planetas em pleno vácuo e ver com nossos próprios olhos esse movimento, o que é impossível. Assim, não é difícil avaliar porque as provas discutidas aqui são  tão importantes e mais que suficientes para convencer sobre a realidade do movimento da Terra. De resto, um curso inteiro de física ou astronomia é necessário para se avaliar inúmeras outras evidências que não foram apresentados aqui.

Apresentou-se aqui uma compilação de conjunto mínimo de provas que demonstram a realidade do movimento da Terra. É bem provável que esteja certa a crença de que Galileu, Copérnico e Kepler não puderam dar "provas definitivas" como exigidas pela Igreja para movimento da Terra. Entretanto,  isso é irrevante: a visão do mundo mudou em direção ao Heliocentrismo ainda em pleno Sec. XVII mais na cabeça dos físicos depois de aprenderam a nova mecânica de Newton, do que na daqueles astrônomos a quem essas teorias devem ter faltado.

Alguns historiadores, no afã de apresentar um quadro mais favorável à Igreja no famoso julgamento de Galileu e no que aconteceu após descoberta do telescópio, podem afirmar que "provas" do movimento da Terra só seriam "definitivas" no Séc. XIX. Tal descrição não é inteiramente justa, pois a física Newtoniana, fornecendo explicações para inúmeros fenômenos, exigia que a Terra se movesse. Mesmo assim, na virada de 1699 para 1700, Flamsteed já dispunha de dados - interpretados incorretamente é verdade - da aberração da luz e que demonstravam o movimento da Terra. Como a mecânica de Newton representa um dos grandes triunfos da ciência - pela explicação unificada de milhares de fenômenos  - é claro que tal visão se consolidou. Apenas pessoas alienadas no Sec. XXI podem imaginar ser possível desbancar, com simples retórica e análise histórica mal feita, a física Newtoniana - no contexto dos fenômenos que ela pretende explicar [15], o que inclui o movimento dos planetas, a Terra inclusive. E pur si muove.

A mudança ou "golpe" heliocêntrico representou uma revolução irreversível no pensamento humano. Se antes o Universo era visto como fechado e limitado por esferas de cristal que sustentavam os planetas, no heliocentrismo, o Universo tornou-se ilimitado e governado por forças unificadoras do movimento. Conceitos como força, impulso, centros de massa etc não existiam na física Aristotélica. A visão se alargou de fato quando foram desenvolvido métodos mais sensíveis para se medir inúmeros fenômenos, como é o caso do paralaxe estelar no Sec. XVIII, o que era inacessível aos antigos da era pré-telescópica, Brahe inclusive. Provavelmente, os antigos eram pessoas tão inteligentes e perspicazes quanto os cientistas modernos, porém, a eles faltavam os meios de medida e as teorias apropriadas.

Cinematicamente, nos sistemas "heliocêntricos" e "geocêntricos" - onde planetas devem ser descritos como meros pontos de luz - podem ser usados de forma intercambiável por meio de transformações entre sistemas de referência. Há que se distinguir entre sistemas de referência e "visões do mundo" - como teorias cosmológicas feitas para se explicar imagens de Universo. Mas, mesmo os sistemas de referência não são equivalentes dinamicamente. A relatividade especial demonstrou a equivalência das descrições cinemáticas e dinâmicas entre referências inerciais, mas não para referenciais como a Terra, que se movem com aceleração. Assim, o movimento da Terra pode ser diretamente acessado por meio de dispositivos que mostram a ação de acelerações adicionais que só aparecem na superfície da Terra porque essa se move. O fato de existir componentes de aceleração não gravitacional (que são 0,35% da aceleração da gravidade) indica que a Terra se move como demonstrado pelo pêndulo de Foucault. Assim como há aceleração devido ao movimento de rotação (que causa o giro das "estrelas fixas"), também há aceleração devido à translação do planeta em torno do sol (que é de muito menor intensidade, mas que pode ser detectada como, por exemplo, nas órbitas de satélites artificiais da Terra). Ao contrário do que diz OdC (pelas citações transcritas do vídeo), a relatividade de Einstein sepultou para sempre a ideia de Terra fixa, e não demonstrou qualquer intenção de tornar "relativas" as descrições helicêntricas e geocêntricas como o nome "relatividade" pode levar a se supor.

Como as acelerações devido ao movimento da Terra são muito pequenas, os seres humanos não conseguem senti-las, diferentemente da aceleração da gravidade, que é a componente mais intensa. Dispositivos especiais e sensíveis são assim necessários para se medir essas componentes de acelerações.

O desenvolvimento científico não só aguarda pelo surgimento de teorias corretas, mas também pelo desenvolvimento de meios de detecção apropriados sem os quais é impossível validar tais teorias. Nossa visão se expande pela ampliação de nossa capacidade de observação levada a cabo por tais instrumentos, que são a base fundamental de toda ciênca hodierna.

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