Essa é uma história com alguns planetas, três estrelas e suas respectivas interações gravitacionais. Às vezes, essas atrações são fatais
Desde que Plutão deixou de ser planeta, há rumores de que haveria outro mundo oculto para lá da órbita plutoniana. Vários candidatos surgiram — Haumea (que tem até anéis recém-descobertos), Éris, Quaoar, Sedna —, mas nenhum se enquadrou na nova definição de planeta. Junto com Plutão, eles ficaram classificados como planetas-anões, a série B do sistema solar. Mas talvez ainda haja alguém na rabeira da primeira divisão. Um mundo bem grande, bem escuro e muito distante. Apelidado de Planeta 9, ele vem sendo caçado nos últimos anos e parece ter deixado alguns rastros.
Entre os caçadores do Nove, estão o astrofísico Konstantin Batygin e o astrônomo Mike Brown, ambos do Caltech, o Instituto Tecnológico da Califórnia. Para Batygin, existem pelo menos cinco evidências indiretas da existência do Nove. Se esse mundo não existir, disse ele ao Science Daily, “então você gera mais problemas do que resolve. De repente, você tem cinco enigmas diferentes e tem de criar cinco teorias diferentes para explicá-los.”
Batygin e Brown descreveram as três primeiras evidências a favor do 9 num paper publicado no Astronomical Journal em janeiro do ano passado. Segundo eles, existem três objetos nos cafundós do cinturão de Kuiper cujas órbitas elípticas estão todas voltadas para a mesma direção. Outra pista é a inclinação dessas órbitas, de cerca de 30 graus “abaixo” do plano da elíptica — o plano formado pelas órbitas dos planetas conhecidos. A terceira pegada também estaria na existência de órbitas inclinadas – no caso, de pelo menos cinco objetos que estão quase na perpendicular em relação ao nosso plano.
Na verdade, a própria eclíptica teria sido entortada pelo Nove. Essa é a conclusão do estudo feito por Elizabeth Bailey, orientada de Batygin. Há anos sabe-se que a eclíptica tem 6o. de inclinação em relação ao equador solar. Para o grupo de Batygin e Brown, o culpado por tamanhas perturbações seria o Planeta Nove.
Se for assim, o 9 deve ser nosso primo maior: uma super-Terra, um mundo rochoso com tamanho situado entre a Terra e Netuno. Super-Terras são comuns e têm sido descobertas em muitos sistemas solares. Só falta um detalhe: encontrar esse mundo grandalhão e tímido. Para isso, os pesquisadores do Caltech estão usando o Telescópio Subaru do Observatório Mauna Kea, no Havaí. Se for encontrado — e talvez seja —, o Nono Planeta será bem-vindo à família do Sol e certamente será recebido com um banquete por seus descobridores.
Kronos & Krios
Não que planetas tenham fome — mas alguns sóis têm. Esse parece ser o caso da estrela HD 240430, que parece ter ingerido o equivalente a quinze massas terrestres segundo astrofísicos da Universidade Princeton. Situado a 326 anos-luz de distância, esse astro faminto faz parte de um sistema binário com HD 240429. Separadas por dois anos-luz de distância entre si, essas estrelas se orbitam lentamente, com uma volta a cada 10 mil anos. Ambas são estrelas amarelas do tipo G, como o nosso Sol, mas um pouco mais novas: têm só 4 bilhões de anos.
Estrelas binárias assim existem aos montes, mas o que torna esse sistema extraordinário é a diferença na composição química de seus membros. Como costumam ter a mesma origem, estrelas binárias são quimicamente parecidas. Era isso que a equipe do astrônomo Semyeong Oh e seus colegas de Princeton esperava encontrar.
No entanto, ao fazer a espectroscopia do par, eles descobriram que HD 240430 tem um perfil bastante incomum e distinto da vizinha e irmã. Essa é uma estrela rica em magnésio, alumínio, silício, crômio e ítrio — elementos pesados, formadores de rochas e minerais. Os elementos mais leves, como oxigênio, carbono, nitrogênio e potássio não aparecem na mesma proporção que HD 240429.
Ao perceber isso, Oh deve ter soltado uma exclamação — Oh! — antes de buscar uma explicação. Não foi muito difícil encontrá-la. Para Oh, HD 240430 engoliu seus planetas terrestres durante uma aproximação com outra estrela, ainda não identificada. Essa é a conclusão do artigo que ele e seus colaboradores publicaram no arXiv.org, plataforma de divulgação aberta de resultados preliminares.
“Interações gravitacionais com a estrela passante distorceram as órbitas dos planetas mais externos de Kronos, que acabaram deslocados para o sistema planetário interno”, explicaram os cientistas em comunicado à Sci-News. Por sua vez, os planetas maiores empurraram os menores e mais rochosos para dentro, transformando-os em jantar de sua estrela. Por isso, os pesquisadores acabaram apelidando a estrela comilona de Kronos e sua gêmea de Krios. Segundo Oh, Kronos é o “caso mais dramático de estrela do tipo solar devorando seus próprios planetas”.
Como no caso do nosso Planeta Nove, falta um detalhe importante: observar evidências mais diretas desse fenômeno. Oh e sua equipe esperam conseguir observar planetas ao redor de Kronos — se é que sobrou algum — e de Krios — se existirem, os mundos ao redor de Krios não teriam sido afetados de modo tão dramático. Assim é a gravidade entre os planetas: às vezes ela nos leva para jantar com a família e outras nos traz para ser jantado pela família.
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