A equipe estabeleceu o paradoxo analisando um cenário com partículas quânticas entrelaçadas bem separadas, combinadas com um "observador" quântico - um sistema quântico que pode ser manipulado e medido de fora, mas que pode ele mesmo fazer medições em uma partícula.
Quem explica o experimento é professora Nora Tischler.
"Com base nas três hipóteses fundamentais, nós determinamos matematicamente os limites de quais resultados experimentais são possíveis nesse cenário. Mas a teoria quântica, quando aplicada aos observadores, prevê resultados que violam esses limites. Na verdade, nós já fizemos um experimento de prova de conceito usando fótons entrelaçados (partículas de luz). E encontramos uma violação exatamente como a teoria quântica previu.
"Mas nosso 'observador' tinha um cérebro muito pequeno, por assim dizer. Ele tem apenas dois estados de memória, que são implementados como dois caminhos diferentes para um fóton. É por isso que o chamamos de experimento de prova de princípio, não de uma demonstração conclusiva de que um dos três pressupostos fundamentais em nosso paradoxo deve estar errado," ponderou Tischler.
"Para uma implementação mais definitiva do paradoxo, nosso experimento onírico [experimento mental] é aquele em que o observador quântico é um programa de inteligência artificial de nível humano rodando em um computador quântico gigantesco.
"Esse seria um teste bastante convincente para saber se a teoria quântica falha para os observadores ou se uma das três suposições fundamentais é falsa. Mas isso provavelmente está a décadas de distância [de poder ser realizado experimentalmente]", acrescentou o professor Howard Wiseman.
Novo paradoxo quântico revela contradições em nossa visão do Universo
Quando duas ou mais partículas ficam entrelaçadas, tudo o que acontecer a uma imediatamente afetará a outra, independentemente da distância que as separe - o mistério está em como essas influências se espalham pelo espaço-tempo.
Mas o que são algumas poucas décadas de espera para esclarecer questões que vão muito além de um problema estrito de mecânica quântica, alcançando debates feitos há milênios em nossa tradição cultural?
Afinal, quem não se interessa em saber se existem mesmo universos paralelos, com outros "nós" seguindo histórias pessoais totalmente diferentes, e com novas histórias emergindo a cada vez que tomamos uma decisão? Ou se nossa capacidade de influenciar a realidade é tamanha que podemos mudar as coisas por simplesmente observá-las, deixando o efeito borboleta no chinelo? Ou ainda, se nossas decisões se espalham pela realidade instantaneamente, como parece acontecer com as influências instantâneas compartilhadas pelas partículas ligadas pelo entrelaçamento quântico?
"Há muito se reconhece que os computadores quânticos irão revolucionar nossa capacidade de resolver problemas computacionais difíceis.
"O que não percebemos até começarmos esta pesquisa é que eles também podem ajudar a responder complicados problemas filosóficos - a natureza do mundo físico, o mundo mental e seu relacionamento," disse o professor Wiseman.
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