Estrelas escondidas
Uma equipe internacional de astrônomos, incluindo brasileiros, descobriu dois novos tipos de corpos celestes, objetos misteriosos incluindo um novo tipo de estrela gigante muito antiga, apelidada de "velha fumante", e uma série de estrelas recém-nascidas muito "barulhentas".
Impressão artística de uma nuvem de fumaça e poeira sendo lançada por uma estrela gigante vermelha. Vista da esquerda, a estrela permanece brilhante, mas fica praticamente invisível se vista da direita. [Imagem: P. W. Lucas et al. - 10.1093/mnras/stad3929]
Os objetos misteriosos estão no coração da nossa galáxia, a Via Láctea, e podem permanecer quietos por décadas, ficando praticamente invisíveis aos nossos instrumentos, até que repentinamente começam a expelir nuvens de fumaça.
A primeira descoberta são "estrelas ocultas", escondidas da vista na luz visível por grandes quantidades de poeira e gás. Mas sua luz infravermelha consegue passar, permitindo que elas fossem vistas pela primeira vez usando um telescópio instalado no Chile, chamado VISTA, sigla em inglês para telescópio de pesquisa visível e infravermelho.
"O nosso principal objetivo era encontrar estrelas recém-nascidas raramente vistas, também chamadas protoestrelas, enquanto estão passando por uma grande explosão que pode durar meses, anos ou mesmo décadas. Essas explosões acontecem no disco de matéria que gira lentamente e que está formando um novo sistema solar. Elas ajudam a estrela recém-nascida no meio a crescer, mas dificultam a formação de planetas. Ainda não entendemos por que os discos ficam instáveis desta forma," explicou o professor Zhen Guo, da Universidade de Valparaiso, no Chile.
A equipe descobriu 32 protoestrelas em erupção, cujo brilho aumentou pelo menos 40 vezes e, em alguns casos, mais de 300 vezes. A maioria das erupções ainda está em curso, permitindo aos astrônomos, pela primeira vez, analisar um grande lote desses eventos misteriosos ao longo da sua evolução - desde o estado inicial de repouso, passando pelo pico de brilho, até à fase de declínio.
"Essas estrelas idosas permanecem quietas durante anos ou décadas e depois expelem nuvens de fumaça de uma forma totalmente inesperada. Elas parecem muito escuras e vermelhas por vários anos, a tal ponto que às vezes nem conseguimos vê-las," disse o professor Dante Minniti, da Universidade Andrés Bello, no Chile.
As explosivas "estrelas ocultas" ficam na parte mais interna da Via Láctea, conhecida como Disco Nuclear. [Imagem: Philip Lucas/University of Hertfordshire]
Velha fumante
O rastreio também revelou algo completamente inesperado: 21 estrelas gigantes vermelhas com mudanças ambíguas no brilho durante os 10 anos cobertos pela pesquisa. E análises dos espectros de emissão de cada uma delas mostrou que pelo menos sete são na verdade um novo tipo de estrela gigante vermelha.
Essas "velhas fumantes" são estrelas que ejetam quantidades enormes de poeira no espaço. É tanto fumaça que as estrelas ficam virtualmente invisíveis se forem observadas de um ponto de vista no qual a poeira fique à sua frente em relação ao observador.
Uma pista adicional sobre estas estrelas emissoras de fumaça está em sua localização: Elas estão fortemente concentradas na parte mais interna da Via Láctea, conhecida como Disco Nuclear, uma região onde as estrelas tendem a ser mais ricas em elementos pesados do que em qualquer outro lugar. Isso deve tornar mais fácil a condensação de partículas de poeira a partir do gás nas camadas externas relativamente frias das estrelas gigantes vermelhas. No entanto, como isso leva à ejeção de nuvens de fumaça densa que a equipe observou permanece um mistério.
Os astrônomos afirmam que suas descobertas - as estrelas antigas escondidas e as "velhas fumantes" - podem mudar o que sabemos sobre a forma como os elementos químicos são distribuídos no espaço.
"A matéria ejetada de estrelas antigas desempenha um papel fundamental no ciclo de vida dos elementos, ajudando a formar a próxima geração de estrelas e planetas," explicou o professor Philip Lucas, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido. "Acreditava-se que isso ocorria principalmente em um tipo de estrela bem estudado chamado variável Mira. No entanto, a descoberta de um novo tipo de estrela que emite matéria pode ter um significado mais amplo para a disseminação de elementos pesados no Disco Nuclear e nas regiões ricas em metal de outras galáxias."
O professor Roberto Saito, da Universidade Federal de Santa Catarina, participou da pesquisa.
Fonte: Inovação Tecnológica
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