O Tess (Transiting Exoplanet Survey Satellite), novo telescópio espacial da Nasa destinado a caçar planetas fora do Sistema Solar, já concluiu sua sequência inicial de observações, e começam a pipocar as primeiras descobertas, inaugurando uma espécie de “corrida pelos planetas do Tess”.
Por ora são só dois novos mundos, achados a partir de dados preliminares, disponíveis num sistema de alerta criado pela própria equipe responsável pelo telescópio espacial para disparar avisos de interesse para a comunidade astronômica quando o satélite detecta algo relevante.
Nessa largada, dois grupos independentes chegaram quase juntos ao mesmo achado, o planeta Pi Mensae c. Trata-se de uma superterra numa órbita extremamente curta ao redor dessa estrela do tipo G, similar ao Sol, localizada a 60 anos-luz de distância na constelação austral da Meseta (Mensa). O consensual entre os dois grupos é que o planeta é incapaz de abrigar vida — quente demais e gasoso demais. Mas é quase só isso em que eles concordam com exatidão absoluta.
O primeiro artigo, submetido no dia 16 como uma AAS Letter (serviço de notificação da Sociedade Astronômica Americana), tem participação da equipe responsável pelo satélite e sugere que o planeta tem período orbital de 6,27 dias, diâmetro 2,14 vezes maior que o da Terra. Complementando o achado do Tess com dados espectrográficos de arquivo colhidos por telescópios em solo, os pesquisadores concluíram que a massa do planeta gira ao redor de 4,8 vezes a terrestre.
O segundo artigo, submetido apenas quatro dias depois ao periódico Astronomy & Astrophysics, vem de um grupo independente. Eles também confirmam a existência do planeta, pelos mesmos métodos, mas chegam a parâmetros ligeiramente diferentes: órbita de 6,25 dias, diâmetro 1,83 vez maior que o da Terra, e massa de 4,51 vezes a terrestre.
Todo mundo na comunidade de exoplanetas sabe que essas estimativas são mesmo variáveis, porque dependem de parâmetros que não estão precisamente estabelecidos. Por exemplo, ao detectar um trânsito planetário — a pequena redução de brilho da estrela conforme um mundo ao seu redor passa à frente dela com relação a observadores na Terra –, os astrônomos podem estimar o tamanho do planeta comparado ao tamanho da estrela. Mas se o tamanho da estrela não é precisamente conhecido, é difícil precisar o tamanho do planeta. Daí pequenas variações no tamanho.
Com relação à massa, há a mesma incerteza, dessa vez ligada à massa da estrela-mãe, em contraposição à do planeta.
Então, na prática, o jeito certo de ler esses artigos é interpretá-los como uma corroboração aproximada um do outro. É muito improvável que não haja um planeta Pi Mensae c com período de aproximadamente 6,2 dias, diâmetro entre 1,8 e 2,2 do terrestre e massa entre 4,5 e 5 da terrestre.
Esses números sugerem que se trata de um planeta menos denso que a Terra, provavelmente com um grande invólucro gasoso, mais como um mininetuno do que como uma superterra.
O curioso sobre esse sistema é que já havia um planeta conhecido ao redor dele, um gigante gasoso com uma órbita altamente excêntrica (oval) de 5,7 anos. Então agora são dois os planetas conhecidos por lá, e suas órbitas sugerem que a formação do sistema foi cheia de encontros, desencontros e migrações planetárias.
O OUTRO ACHADO
Por fim, a segunda descoberta veio mais uma vez da equipe do MIT responsável pelo satélite e foi submetida no dia 19 ao Astrophysical Journal Letters. Trata-se de um planeta ao redor da estrela anã vermelha LHS 3844, localizada a 49 anos-luz de distância.
Esse sim tem parâmetros um pouco mais comparáveis ao da Terra, com diâmetro 1,32 vez o terrestre, mas também não ajuda muito em termos da busca por vida: completando uma volta em torno da estrela a cada 11 horas, ele com certeza é um inferno escaldante.
PARA ONDE AGORA?
O aspecto mais especial dessas primeiras descobertas — e de outras que virão com o TESS — é o fato de que ambos estão orbitando estrelas próximas e relativamente brilhantes (Pi Mensae é até visível a olho nu, no limite da acuidade visual, em locais sem poluição luminosa), o que permitirá que a próxima geração de telescópios no espaço e em solo seja capaz de sondar sua atmosfera por espectroscopia, determinando a composição de seu invólucro de gases.
Com isso, abre-se uma grande janela para caracterizarmos esses planetas com maior precisão e entendermos em que circunstâncias pode surgir um mundo capaz de abrigar vida, como o nosso.
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