O resultado é fruto de uma combinação fantástica (e exaustiva) de observações e simulações baseadas no sistema GW Orionis, um trio de estrelas bem jovens localizado a cerca de 1.300 anos-luz de distância, na constelação de Órion.
Os pesquisadores liderados por Stefan Kraus, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, vêm estudando GW Orionis há 11 anos, a começar pelo estudo das órbitas das estrelas no complexo sistema. O trabalho combinou também novas observações feitas com o VLT, Very Large Telescope, e o conjunto de radiotelescópios Alma, no Chile.
No passado, os pesquisadores achavam que estrelas que não fossem solitárias, como o Sol, teriam dificuldades em formar planetas. Isso porque eles surgem dos discos de gás e poeira que circundam a estrela nascente, e um sistema com duas estrelas poderia perturbar de forma severa os discos, bagunçando-os além da viabilidade de gestar planetas.
Seria péssima notícia se estivesse correto, uma vez que cerca de metade das estrelas vêm pelo menos aos pares. Contudo, a natureza se revelou mais criativa que os astrofísicos. Ao desenvolvermos técnicas cada vez melhores para detectar exoplanetas, vimos, já neste século, que os tais “Tatooines”, planetas ao redor de sóis binários como o de Luke Skywalker em Star Wars, eram bem menos raro do que se imaginava.
O mistério era como isso era possível. O trio de GW Orionis seria um ótimo laboratório. Lá o processo de formação planetária ainda não terminou.
As observações mostraram o disco de gás e poeira que precede o nascimento de planetas de fato todo distorcido e com alguns anéis inclinados. Ou seja: de fato há alguma bagunça gerada pelo sistema triplo. Mas uma nova ordem parece emergir do processo. O anel desalinhado mais interno, próximo às três estrelas, teria massa total de cerca de 30 Terras – o suficiente para que planetas venham a se formar a partir dele.
Eles então simularam em computador a evolução do disco, para entender como ele se encurvou da forma que foi observada. A simulação mostra gradualmente a interação gravitacional distorcendo e criando os anéis desalinhados com relação às estrelas.
Para além da encantadora beleza de conseguir simular em computador um processo tão complicado a ponto de reproduzir as observações desse astro distante, os resultados, publicados na última edição do periódico Science, trazem consigo uma predição: deve haver uma grande população de exoplanetas distantes orbitando ao redor de sistemas de múltiplas estrelas, à moda de Tatooine.
Ou seja, o que foi descoberto até agora é só a ponta do proverbial iceberg. Kraus e seus colegas apostam que, com a próxima geração de telescópios, como o ELT e o GMT, será possível encontrar mais desses “filhotes do caos”.
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