O satélite Tess, mais novo caçador de exoplanetas da Nasa, descobriu seu primeiro planeta do tamanho da Terra e na zona habitável de sua estrela-mãe.
Ele está a cerca de 100 anos-luz de distância, orbitando uma estrela designada TOI 700, na constelação Dorado, do céu do hemisfério Sul. (TOI é a sigla inglesa para “Objeto de Interesse do Tess”, caso você esteja se perguntando.)
O resultado foi divulgado nesta segunda-feira (6), durante reunião da Sociedade Astronômica Americana (AAS), em Honolulu (EUA).
O Tess descobre planetas observando estrelas em busca de reduções momentâneas de brilho que possam significar a passagem de um planeta à frente delas. Para confirmar a presença de um planeta, é importante detectar pelo menos três trânsitos consecutivos. A missão está fazendo uma varredura de céu inteiro, permanecendo 27 dias em cada pedaço de céu.
Felizmente, alguns dos campos de observação se sobrepõem, próximo os polos celestes, permitindo cobertura maior dessas áreas — e a descoberta de planetas com período orbital mais longo. É o caso do mundo potencialmente habitável de TOI 700. Ele dá uma volta ao redor de sua estrela a cada 37 dias.
No total, o satélite identificou três planetas cruzando à frente do astro, uma anã vermelha com 40% da massa do Sol. O mais interno deles, TOI 700 b, tem quase exatamente o tamanho da Terra e completa uma volta a cada 10 dias. O do meio, TOI 700 c, está na categoria das superterras/mininetunos, com diâmetro 2,6 vezes maior que o terrestre, e completa uma volta a cada 16 dias. O terceiro, TOI 700 d, é o que está na zona habitável, região do sistema em que um planeta, a exemplo da Terra, pode manter água em estado líquido na superfície — condição essencial para a vida como a conhecemos.
Por estarem bem mais perto de sua estrela que a Terra do Sol, é muito provável que todos os três estejam “gravitacionalmente travados”, ou seja, mantenham sempre a mesma face voltada para TOI 700. Isso significa que, mesmo para o planeta d, que está na zona habitável, podemos esperar condições significativamente diferentes das da Terra. Se ele é de fato habitável ou não, só saberemos com futuras observações.
Por sinal, esse é o principal objetivo do Tess: buscar exoplanetas em torno de estrelas relativamente próximas, que poderão ter suas atmosferas investigadas pela próxima geração de telescópios — em particular o Telescópio Espacial James Webb, que deve ser lançado ao espaço em 2021.
OUTRAS DESCOBERTAS
Durante a reunião da AAS, outras descobertas do Tess também foram apresentadas. Dentre elas, a primeira detecção por este satélite de um planeta circumbinário, ou seja, que orbita um sistema com duas estrelas centrais (pense em Tatooine, de Star Wars, com seus dois sóis).
O achado, feito com a ajuda do aluno de ensino médio Wolf Cukier, realizando um estágio no Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Greenbelt, vem de uma estrela a 1.300 anos-luz de distância. O planeta TOI 1338 tem 6,9 vezes o diâmetro da Terra (maior que Netuno e Urano, menor que Saturno) e completa uma volta a cada 93 a 95 dias. A periodicidade varia por conta do movimento dinâmico das estrelas internas. Sim, fazer um calendário regular que faça sentido por lá deve ser um inferno.
O Tess também revelou que uma estrela binária famosa, bastante estudada e visível a olho nu, Alfa Draconis, sofre eclipses periódicos. Já era sabido que se tratava de um sistema binário, mas ninguém imaginava que o alinhamento era tal que uma passava à frente da outra com relação à Terra, o que os astrônomos chamam de um sistema binário eclipsante.
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