Mostrar que há energia de processos radioativos para planetas geologicamente ativos em toda a galáxia, contudo, não pode ser confundido com demonstrar que todos os planetas ricos em tório são geologicamente ativos.
Aliás, entender o que mantém o interior de um planeta “vivo” é ainda um problema a ser resolvido. Certamente se trata de uma questão multifacetada. Ter elementos radioativos capaz de gerar calor interno é um dos fatores, mas está longe de ser o único. Outro igualmente importante é a quantidade inicial de calor armazenada no planeta durante sua formação, em razão do processo violento de colisões que o gera. E é bem possível que o efeito de maré também contribua para “chacoalhar” (e assim manter aquecido) um manto planetário.
Um ótimo exemplo disso é a situação dos quatro planetas rochosos do Sistema Solar: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Ambos se formaram a partir da mesma nebulosa que gerou o Sol, o que nos faz presumir que todos tiveram acesso ao tório presente nela — embora algumas diferenças de concentração possam existir em razão de os planetas terem se originado em diferentes locais do disco de gás e poeira responsável por sua formação ao redor do Sol nascente.
A despeito disso, apenas Mercúrio e a Terra têm campos magnéticos apreciáveis (gerados no núcleo externo, ao que tudo indica), e apenas a Terra segue com tectonismo ativo. Vênus, apesar de ser praticamente do mesmo tamanho da Terra e dar toda pinta de ser geologicamente ativo, não apresenta sinais claros de placas tectônicas. Marte, por sua vez, que é menor, se mostra geologicamente morto. (A propósito, um dos objetivos da sonda InSight, que acabou de pousar por lá, é determinar quanto calor interno ainda existe no planeta.)
Então, não dá para saltar do fato “há tório” para a conclusão “há atividade geológica”. É apenas um indício de que energia fornecida por decaimento radioativo não é uma limitação para planetas geologicamente vivos.
“Se tivéssemos encontrado níveis muito baixos de tório em outras estrelas, isso poderia questionar o potencial de termos planetas rochosos geologicamente ativos na galáxia”, afirma Jorge Melendez, pesquisador do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo) e coautor do trabalho. “Como encontramos níveis aproximadamente similares em todas as estrelas estudadas, isso indica que existe potencial de termos planetas ativos. Lógico que isso não quer dizer que todo planeta rochoso é ativo, mas pelo menos existe potencial para isso.”
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