Região não apresenta características marcantes na superfície mas é perfeita para exploração do subsolo. Lançada em 5 de maio, sonda pousará em Marte em 26 de novembro.
Foi escolhido o local de pouso da missão InSight, da NASA, em 26 de novembro, em Marte: Elysium Planitia. Sem características marcantes, a região não oferece uma das visões mais animadoras do Sistema Solar, admite a NASA.
“Se o Elysium Planitia fosse uma salada, ele consistiria de alface e couve – sem tempero”, brincou Bruce Banerdt, principal pesquisador da InSight, no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, em Pasadena, Califórnia. “Se fosse um sorvete, seria baunilha.”
Sim, o local de pouso da próxima missão da NASA em Marte pode muito bem parecer um estacionamento de estádio, mas é assim que o projeto de Exploração do Interior usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor (InSight) gosta.
“Missões anteriores ao Planeta Vermelho investigaram sua superfície estudando seus cânions, vulcões, rochas e solo”, disse Banerdt. “Mas as assinaturas dos processos de formação do planeta só podem ser encontradas por sensoriamento e estudo de evidências enterradas muito abaixo da superfície. É o trabalho da InSight estudar o interior profundo de Marte, tomando os sinais vitais do planeta – seus pulso, temperatura e reflexos.”
Tomar esses sinais vitais ajudará a equipe científica da InSight a relembrar uma época em que os planetas rochosos se formaram. As investigações dependerão de três instrumentos:
Experimento Sísmico para a Estrutura Interior (SEIS): um sismógrafo de seis sensores que registrará ondas sísmicas viajando pela estrutura interior do planeta. Estudar ondas sísmicas dirá aos cientistas o que pode estar criando as ondas. Cientistas suspeitam que os culpados podem ser tremores ou meteoritos atingindo a superfície;
O Pacote de Fluxo de Calor e Propriedades Físicas (HP³): irá escavar mais fundo do que qualquer outra escavadeira, furadeira ou sonda em Marte para medir quanto calor está fluindo para fora do planeta. Suas observações esclarecerão se a Terra e Marte são feitos do mesmo material;
Experimento de Rotação e Estrutura Interna (RISE): usará os rádios da sonda para avaliar a oscilação do eixo de rotação de Marte, fornecendo informações sobre o núcleo do planeta.
Para a InSight fazer seu trabalho, a equipe precisava de um local de pouso que cumprisse vários requisitos – sendo um módulo de três pernas, a InSight permanecerá onde quer que pouse.
Locais de pouso da InSIght e de missões anteiores em mapa topográfico de Marte feito com dados do Altímetro a Laser Orbitador de Marte, da sonda Pesquisador Global de Marte, da NASA; azul escuro representa regiões mais baixas e branco indica regiões mais elevadas; a diferença de elevação entre verde e laranja é de cerca de 4 km (NASA/JPL-Caltech)
“Escolher um bom local de pouso em Marte é muito como escolher um bom lar: é tudo sobre localização, localização, localização”, disse Tom Hoffman, gerente de projetos da InSight no JPL. “E pela primeira vez, a avaliação de um local de pouso em Marte teve que considerar o que ficava abaixo da superfície de Marte. Precisávamos não apenas de um local seguro para aterrissar, mas também de um espaço de trabalho penetrável por nossa sonda de fluxo de calor de 16 pés (5 m).”
O local também precisa ser brilhante o suficiente e aquecido o suficiente para alimentar as células solares, mantendo seus componentes eletrônicos dentro dos limites de temperatura por um ano inteiro de Marte, 26 meses terrestres.
Assim, a equipe concentrou-se em uma faixa ao redor do equador, onde o painel solar da sonda teria luz solar adequada para alimentar seus sistemas o ano todo. Encontrar uma área que seria segura o suficiente para o InSight pousar e depois abrir seus painéis solares e instrumentos sem obstruções demorou um pouco mais.
“O local tem que ter uma altitude baixa o suficiente para ter uma atmosfera suficiente acima do solo para uma aterrissagem segura, porque a espaçonave vai depender primeiro do atrito atmosférico com seu escudo de calor e depois em um paraquedas descendo a atmosfera tênue de Marte por uma grande parte de sua desaceleração”, explicou Hoffman. “E depois que o paraquedas cair e os foguetes de frenagem entrarem [em funcionamento] para a descida final, é preciso haver uma extensão plana para pousar – não muito ondulante e relativamente livre de rochas que poderiam derrubar o módulo de pouso marciano de três pernas.”
Dos 22 locais considerados, apenas Elysium Planitia, Isidis Planitia e Valles Marineris cumpriram as restrições básicas de engenharia. Para classificar os três candidatos restantes, imagens de reconhecimento dos orbitadores marcianos da NASA foram esquadrinhadas e os registros meteorológicos foram pesquisados. Eventualmente, Isidis Planitia e Valles Marineris foram descartados por terem muitas rochas e vento. Isso deixou a elipse de aterrissagem de 130 x 27 km na borda oeste de uma planície lisa de lava.
“Se você fosse um marciano vindo para explorar o interior da Terra como estamos explorando o interior de Marte, não importaria se você pousasse no meio do Kansas ou nas praias de Oahu”, disse Banerdt. “Embora eu esteja ansioso para ver essas primeiras imagens da superfície, estou ainda mais ansioso para ver os primeiros conjuntos de dados revelando o que está acontecendo bem abaixo de nossas pernas de pouso. A beleza desta missão está acontecendo abaixo da superfície. Elysium Planitia é perfeita.”
Elipse de pouso da sonda InSight marcada em imagem de Elysium Planitia do Sistema de Imageamento por Emissões Termais (THEMIS) da sonda Mars Odyssey, da NASA (NASA/JPL-Caltech)
Depois de uma jornada de 205 dias que começou em 5 de maio, a InSight pousará em Elysium Planitia no próximo dia 26, pouco antes das 18h (Horário Brasileiro de Verão). Seus painéis solares se abrirão poucas horas após o pouso. Os engenheiros e cientistas da missão passarão um tempo avaliando seu “espaço de trabalho” antes de liberar o SEIS e o HP³ na superfície – cerca de três meses após o pouso – e começar a exploração científica.
Segundo a NASA, a InSight foi a 12ª seleção na série de missões da classe Discovery, gerenciado pelo Centro de Voo Espacial Marshall, em Huntsville, Alabama. Criado em 1992, o Programa Discovery patrocina missões frequentes de exploração do Sistemas Solar com custo limitado, com objetivos científicos altamente focados.
O JPL gerencia o InSight para a Diretoria de Missões Científicas da NASA. A Lockheed Martin Space, em Denver, Colorado, construiu a espaçonave, incluindo seu estágio de cruzeiro e aterrissagem, e apoia operações da espaçonave para a missão.
Vários parceiros europeus, incluindo o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), da França, e o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), apóiam a missão. O CNES forneceu o SEIS, com contribuições significativas do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar (MPS), na Alemanha, do Instituto Suíço de Tecnologia (ETH), Faculdade Imperial e Universidade de Oxford, no Reino Unido, e JPL. O DLR forneceu o instrumento HP³.
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