Missão conta com lander e rover. Ano que vem, outra missão trará amostras – as primeiras em quatro décadas.
A China está prestes a fazer história no espaço. Em dezembro, o país lançará a primeira espaçonave a pousar no lado distante da Lua. Outra nave, prevista para decolar em 2019, será a primeira a trazer as rochas lunares de volta à Terra desde 1976.
Essas duas missões – as mais recentes da série de exploração lunar da China, batizada em homenagem à deusa chinesa da lua, Chang’e – estão na vanguarda do interesse renovado em explorar nosso corpo celeste mais próximo. A Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO), bem como empresas privadas sediadas em Israel e na Alemanha, também esperam missões lunares robóticas em 2019. E os Estados Unidos pretendem ter astronautas orbitando a Lua a partir de 2023 e pousar astronautas na superfície lunar no final dos anos 2020.
Apesar de décadas de estudo, o único satélite natural da Terra ainda guarda mistérios sobre sua formação, bem como pistas para a história do Sistema Solar. “Há muitas coisas que não sabemos”, disse o cientista planetário Long Xiao, da Universidade de Geociências da China, em Wuhan, coautor de dois estudos publicados em junho e julho no Journal of Geophysical Research: Planets, descrevendo os locais de pouso das novas missões chinesas, Chang’e-4 e -5.
Para descobrir que segredos a Lua ainda pode estar escondendo, os cientistas estão animados para colocar suas mãos em novas amostras de rochas. A Chang’e-5 “sem dúvida terá tipos adicionais de rocha que ainda não foram amostrados”, disse o cientista planetário David Blewett, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland. “Se você viesse para a Terra e pousasse na Grã-Bretanha e tirasse todas as suas conclusões sobre a Terra do que você visse … você realmente não teria a visão completa.”
Lado escuro A Chang’e-4 inclui um lander e um rover que foram originalmente construídos como reservas para a Chang’e-3, de 2013, que marcou a primeira alunissagem chinesa e a primeira alunissagem desde a década de 1970. A dupla lander-rover da Chang’e-3 pousou em uma vasta planície de lava no norte chamada Mare Imbrium, onde mediu a composição e espessura do solo lunar e descobriu o que poderia ser um novo tipo de basalto, rocha à base de lava.
Desta vez, a China tem suas vistas em regiões lunares nunca antes exploradas. A Chang’e-4 está apontando para a maior, mais profunda e possivelmente mais antiga característica conhecida da Lua criada por um impacto, a bacia do Pólo Sul-Aitken, no lado distante da Lua (sempre está voltado para longe da Terra). A bacia, de 2.500 km de largura e até 8,2 km de profundidade, é grande demais para o rover explorar completamente. Então, a Chang’e-4 está mirando na cratera Von Kármán, de 186 km, dentro da bacia maior.
Bacia Pólo Sul-Aitiken em azul em imagem feita com dados de elevação colhidos pelo Orbitador de Reconhecimento Lunar, da NASA (GSFC/NASA, Univ. of Arizona)
Acredita-se que o enorme impacto que formou a bacia do Polo Sul-Aitken tenha escavado partes do manto lunar, a camada de rocha mais densa que fica abaixo da crosta. Explorar a cratera poderia abrir uma janela para o interior da lua.
“Há uma grande discussão sobre a composição do manto lunar”, disse Xiao. Por exemplo, o manto é “úmido”, cheio de minerais hidratados, ou seco? Se for “úmido”, como a água sobreviveu ao impacto colossal que se acredita ter formado a lua? A Chang’e-4 não resolve esses mistérios, mas suas medições podem ajudar a calibrar futuras observações remotas.
Três câmeras, um espectrômetro de infravermelho e dois radares de penetração de solo, como os usados na Chang’e-3, serão usado pela Chang’e-4 para investigar a cratera Von Kármán. A Chang’e-4 também carrega um instrumento sueco para estudar como partículas carregadas do sol interagem com a superfície lunar, um instrumento alemão para medir os níveis de radiação e um recipiente com sementes e ovos de insetos para testar se plantas e insetos, se eclodirem, podem crescer juntos na Lua.
Como a Lua sempre mostra a mesma face para a Terra, não será possível comunicar-se diretamente com a sonda. Por isso, em maio, a China lançou um satélite de transmissão a um ponto além da Lua para enviar dados e sinais de comunicação entre a superfície lunar e a Terra. O satélite, chamado Queqiao, foi batizado em homenagem à ponte mítica de pegas que atravessa a Via Láctea, uma vez por ano, para permitir um encontro entre dois amantes.
Geologia Em 2019, a Chang’e-5 irá uma região do lado visível da Lua nunca visitada antes e dará a cientistas algo que eles não tiveram em mais de quatro décadas – novas amostras de rochas lunares.
Até agora, os cientistas estudaram rochas de campos de lava formados no início da história da Lua, cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, foram trazidas para a Terra pelas missões Apollo, da NASA, que terminaram em 1972, e as missões soviéticas Luna, que terminaram em 1976. Juntas, elas missões trouxeram de volta mais de 380 kg de material lunar.
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