Um grupo de cientistas franceses e russos, incluindo três especialistas do MIPT , descobriu uma nova peculiaridade da atmosfera marciana. Os cientistas analisaram dados obtidos por satélite e concluiram que as partículas de poeira na atmosfera do planeta podem ser de dois tipos. O artigo científico que apresenta os resultados da pesquisa em detalhe foi publicado na revista Icarus.
Os colaboradores da Rússia para a investigação, Anna Fedorova, Alexander Rodin e Oleg Korablev, são os especialistas do MIPT e SRI (IKI) RAS . Estes cientistas e seus colegas franceses do Observatório de Paris e do laboratório de pesquisa Latmos têm realizado uma análise simultânea do ultravioleta e de infravermelho de extinções atmosféricas com o SPICAM , o espectrômetro na placa da estação orbital Mars Express.
Os resultados foram recebidos durante as ocultações solares no início do verão do Norte em Marte. Antes de o Sol estar completamente eclipsado pelo disco planetário, seus raios perfuraram através da atmosfera e, em seguida, foram “apanhados” pelo detector do espectrômetro.
Tendo passado através da atmosfera, os raios solares mostraram um espectro diferente com as mudanças insinuando a composição da atmosfera, a quantidade de diversos aerossóis e o tamanho de suas partículas. Este método foi aplicado a fim de compreender a forma como as partículas são distribuídas na atmosfera.
Os pesquisadores descobriram que as partículas de poeira na atmosfera marciana não são homogêneas, mas podem ser agrupadas em dois modos. O primeiro modo – mais grosseiro – é representado pelos grãos de gelo H2O com raio médio de 1,2 μm e pelas partículas de pó ligeiramente menores (R = 0,7 μm).
O segundo modo é muito mais sutil, é um aerossol que consiste de partículas muito menores, com um raio de 0,04-0,07 μm. Curiosamente, o número de densidade de ambos os modos não é tão alto. Mesmo nas camadas mais “empoeiradas” da atmosfera do planeta, em altitudes de 20-30 km, existem cerca de 3.000 partículas do modo mais sutil por 1 cm³, e não mais do que duas partículas do modo mais grosseiro para 1 cm³.
Se comparado com o que é considerado comum na Terra, o ar com poeira nessa densidade é bastante limpo (quartos são geralmente um tanto empoeiradis), e ainda os aerossóis são importantes porque, de acordo com os cientistas, têm um papel fundamental na formação do clima do planeta.
Por causa das partículas de poeira finas nas camadas superiores da atmosfera, “embriões” de gelo são formados mais rapidamente, o que, por sua vez, influencia na acumulação de nuvens. As nuvens são responsáveis pela precipitação e condições de temperatura na superfície do planeta. Analisar a forma como a poeira se espalha na atmosfera do planeta em relação à altitude e coordenadas geográficas é fundamental para a formação de uma imagem completa do que está acontecendo em Marte.
Além disso, os modos de poeira que os cientistas descobriram confirmam que as tempestades de poeira marcianas (“diabos de poeira”) são capazes de levantar grandes quantidades de substância da superfície do planeta.
Os pesquisadores apontam que o fato da presença de poeira fina na atmosfera pode contradizer os dados anteriormente obtidos sobre a existência de vapor supersaturado na mesma altitude.
Com as partículas estranhas presentes teria sido natural para o vapor supersaturado ficar ainda mais condensado e formar nuvens. A chave para a solução desta contradição é, presumivelmente, que há muito baixas temperaturas de cerca de -110 °C. A tais temperaturas baixas o crescimento de grãos de gelo diminui substancialmente.
Estudar o acúmulo de nuvens nas camadas mais altas da atmosfera é importante não só para entender o que é típico para Marte, mas também para saber mais da Terra, porque processos semelhantes podem estar ocorrendo aqui também.
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