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domingo, 5 de janeiro de 2025

Destino existe?

 


Se o Destino existe então nascemos com o dia da nossa morte predestinado, e logo não temos livre arbitrio, pois se nossa vida já tem um histórico pronto, como poderíamos mudar algo? É um paradoxo. Então Destino existe?

Não, não há paradoxo. Até porque ou o Destino existe, ou não existe, ou então não é algo absoluto, e temos de repensar a nossa definição da palavra.

Vou tentar explicar-te porque não há paradoxo, sem entrar demasiado em conceitos abstratos que não se conseguem provar minimamente. Que conceitos? O sobrenatural, por exemplo.

Dentro das diversas teorias sobre o que o universo realmente é, existe uma chamada "Teoria do Bloco do Universo" ou "Universo em Bloco".

Nesta teoria, tal como existem leis universais bem definidas que determinam aspetos básicos, mas essenciais para tudo o que existe no universo (ex.: massa de partículas subatómicas e as três forças que regem o universo), também todos os eventos no universo já estão preestabelecidos.

E sim, preestabelecidos, e não predeterminados. Isto porque, na Teoria do Bloco do Universo, o tempo não existe. E, como tal, o universo é, para todos os efeitos, uma espécie de livro multidimensional.


Num livro, já está tudo preestabelecido. Leres a história não muda a história. Tudo o que tem de acontecer já aconteceu, em termos da história contida nas páginas do livro. As personagens não podem alterar isso.

E a Teoria do Bloco do Universo defende essa possibilidade para o universo: que não há tempo nem acaso. Tudo é como já foi estabelecido para ser. E, como tal, não há livre-arbítrio.

Quando vês uma série de televisão ou até uma telenovela, achas que as personagens podem simplesmente mudar as suas ações do nada? Não, não podem. Da mesma forma, se considerássemos essas personagens como existindo numa realidade ou dimensão alternativa, mas ligada à nossa, essas personagens não saberiam que são personagens criadas por nós.

Isso pode aplicar-se a nós.

Podemos ser nada mais do que personagens numa grande história criada por algo, e tudo o que fazemos, assim como tudo o que nos acontece, não é fruto da nossa decisão, do acaso ou do destino, mas sim da vontade desse algo.

E, neste caso, não há paradoxo, porque não há acaso, não há livre-arbítrio e não há escolha real em nada.

Não há como termos consciência disso, a menos que quem criou o universo decida permitir que saibamos.

Isto é apenas um exemplo. Mas e se o universo estivesse mais próximo da Teoria do Big Bang? Poderíamos dizer que há livre-arbítrio? Não, não poderíamos.

O universo em que acreditamos viver tem leis — ou regras, se preferires. Sem essas regras, não haveria nada de concreto neste universo. Não haveria estrelas, nem galáxias, nem planetas e, como tal, não haveria vida.

Essas regras são, portanto, essenciais para que possamos existir.

No entanto, essas mesmas regras também limitam as escolhas que podes fazer em qualquer momento da tua vida.

Vamos examinar alguns casos práticos que todos nós já enfrentámos de uma forma ou de outra:

 Tens de ir de tua casa para outro local. Existe um verdadeiro livre-arbítrio sobre como chegas a esse local? Não, não existe. Há apenas um número limitado de opções que podes tomar, e, a cada decisão que tomas, eliminas alternativas.

Se escolhes um caminho e, nesse caminho, há um engarrafamento, não podes voltar atrás nessa decisão. Ela foi tomada, e as outras opções já não estão disponíveis.

Mas se houvesse verdadeiro livre-arbítrio, poderias mudar a tua situação a qualquer momento, simplesmente por quereres. Mas não podes.

É-te apresentado um número limitado de opções que, por si só, restringem a tua capacidade de tomar decisões. Ao seguires uma escolha, entras numa trajetória com variantes fora do teu controlo, que não escolhes nem determinas.

O engarrafamento é uma escolha tua? Não. É uma consequência coletiva de várias decisões. Mas, como existe, é a realidade da escolha que tomaste. Assim, as escolhas das outras pessoas também determinam as tuas escolhas.

E isso mina a ideia de livre-arbítrio, porque este está constantemente a ser influenciado por fatores externos. Como pode ser "livre" no sentido em que tu estás a tomar todas as escolhas, quando não estás?

 Traição.

És traída pelo teu namorado, marido ou companheiro. Não podes desfazer essa traição. Não escolheste que ele te traísse, mas tens de lidar com as consequências.

Podes pensar que és tu quem decide como reagir. Mas isso não é totalmente verdade. A forma como reages também está influenciada por toda a tua experiência de vida até aquele momento.

Desde a infância até ao presente, acontecimentos moldaram a tua visão do mundo, de ti mesma e da forma como pensas e ages.

Se és introvertida, há razões para isso. Se és extrovertida, o mesmo se aplica. Decisões anteriores e as suas consequências moldaram essas características.

O teu passado influencia quase sempre o teu presente. Esse passado pesa nas tuas decisões.

Se dás uma segunda oportunidade, uma terceira ou nenhuma, essa decisão está, em parte, condicionada pelo teu passado. Como tal, como podes ter livre-arbítrio? Não podes, não realmente. Existem opções, mas essas opções estão condicionadas.

E aqui também não há paradoxos. Mesmo porque não és realmente livre para tomar qualquer decisão que queiras tomar.

Mesmo considerando a possibilidade de uma autoridade superior a esta realidade ter concedido livre-arbítrio, surgem problemas.

Por exemplo, essa autoridade não criou uma realidade completamente maleável, onde tudo fosse possível. Pelo contrário. Essa autoridade criou regras, tal como nós criamos labirintos para ratos.

Para que houvesse verdadeiro livre-arbítrio, as pessoas não poderiam nascer já condicionadas. Mas nascem.

Não escolhes os teus pais, nem escolhes quando nasces. Isso, por si só, já impõe limitações ao livre-arbítrio, tornando-o tudo menos "livre".

Podemos ainda considerar a ideia de que cada alma escolhe quando e onde nasce. Contudo, isso é difícil de acreditar. Afinal, que alma escolheria nascer num ambiente tóxico e abusivo? Seriam almas desprovidas de emoção e inteligência?

Mesmo os deuses das diversas crenças tendem a estabelecer regras. O deus abraâmico, por exemplo, em todas as suas versões, coloca regras: se as seguires, vais para o Céu; se não, vais para o Inferno.

Isso não é livre-arbítrio. É tão livre como viver num regime totalitário. Não escolhes. Nasces nele ou encontras-te a viver nele por causa da cobardia e estupidez coletiva de uma nação.

Se o deus abraâmico tivesse dado verdadeiro livre-arbítrio, não teria estabelecido leis. Teria criado e deixado que as coisas acontecessem como tivessem de acontecer.

E aqui também não há um paradoxo real, mas sim a ideia de que há um paradoxo. Como a ideia de Deus é cheia de falhas, sendo uma criação humana, vais sempre encontrar contradições. Mas o mundo, como podes verificar, não admite paradoxos. Não podes receber algo pelo qual não fizeste absolutamente nada para merecer.

Com isto, abordas os aspectos mais importantes do livre arbitrio, e como não há paradoxos nesse sentido. Apenas um conflito de noções e percepções.

Para o livre-arbítrio realmente existir, seria necessário poder escolher sem influências ou condicionantes. Se isso não acontece, então não há livre-arbítrio, e, assim, também não há paradoxo.

Para haver um paradoxo, seria necessário provar que ao mesmo tempo que és totalmente livre de tomar qualquer escolha, também não és completamente livre.

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