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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Os dilemas éticos da ciência e tecnologia




Ciência que é ciência não vem sem uma boa dose de controvérsia. Toda descoberta que se preze é ou já foi cercada de polêmica ou drama.
Por isso mesmo, o Centro de Ciência, Tecnologia e Valores John J. Reilly da Universidade de Notre Dame (EUA) anunciou sua primeira lista de “dilemas éticos e questões políticas emergentes em ciência e tecnologia” para 2013.
O Centro Reilly explora questões éticas e políticas em que a ciência e a tecnologia divergem da sociedade quanto a perspectivas disciplinares. Seu objetivo é promover o avanço da ciência e da tecnologia para o bem comum.
O Centro quer que cientistas e leigos discutam certos assuntos nos próximos meses e anos, conforme as novas tecnologias se desenvolvem, para que a compreensão geral cresça. Cada uma dessas questões será exposta em seu site a cada mês de 2013, dando aos leitores mais informações, perguntas a fazer e recursos para consultar.
Confira os 12 dilemas éticos e questões políticas escolhidas pelo Centro Reilly:

Testes genéticos personalizados/medicina personalizada

Nos últimos 10 anos, o baixo custo e a rapidez do sequenciamento genético deu acesso direto ao público à tecnologia de sequenciação e análise do genoma, com pouca ou nenhuma orientação de médicos ou conselheiros genéticos sobre como processar e interpretar essa informação.
Quer ter um filho? Teste sua condição genética primeiro
Quais são as questões de privacidade, e como podemos proteger esta informação pessoal? Estamos indo em direção a uma nova era de intervenção terapêutica para aumentar a qualidade de vida, ou uma nova era de eugenia (ou seja, de criação de bebês perfeitos, em que nada menos do que isso será aceito)?

Hackeamento de dispositivos médicos

Dispositivos médicos implantados, como marca-passos, são extremamente suscetíveis a hackers. Barnaby Jack, da fornecedora de segurança IOActive, demonstrou em uma conferência a vulnerabilidade de um marca-passo violando sua segurança a partir de um laptop, e reprogramando-o para dar um choque 830 volts (o que mataria qualquer pessoa que o estivesse usando). Como podemos garantir que estes dispositivos sejam seguros?

Carros totalmente automáticos

Em três estados dos EUA – Nevada, Flórida e Califórnia – já é legal para o Google operar seus carros sem motoristas (Google Driverless Car). O objetivo da empresa é criar um veículo totalmente automatizado que seja mais seguro e mais eficaz do que um veículo operado por humanos. O Google ainda planeja casar essa ideia com o conceito da Zipcar(uma empresa de aluguel e compartilhamento de carros que revolucionou a maneira como muitos dirigem. Seus carros ficam estacionados e espalhados por grandes cidades como Washington, Nova York, Boston, Chicago, San Francisco, Toronto e até Londres, e podem ser alugados e utilizados por dia ou até mesmo por poucas horas, usando apenas um código e um cartão. Tudo feito on-line, sem burocracia e de forma rápida).
A ética da automação e igualdade de acesso para pessoas de diferentes níveis de renda são apenas algumas das difíceis questões éticas, legais e políticas que precisam ser abordadas em torno dessa tecnologia.

Impressão 3D

Os cientistas estão tentando usar impressão 3D para criar qualquer coisa, de modelos de arquitetura a órgãos humanos. No entanto, podemos estar olhando para um futuro em que as pessoas imprimirão medicamentos personalizados ou armas e explosivos em casa – e isso não deve ser muito seguro, certo? Por enquanto, impressão 3D faz parte apenas do reino de artistas e designers (com dinheiro!), mas podemos facilmente imaginar um futuro em que impressoras 3D sejam acessíveis, com uma abundância de produtos benignos e maliciosos sendo feitos em casa, mudando o setor manufatureiro completamente.

Adaptação às alterações climáticas

A diferença de sensibilidade para a mudança climática entre as comunidades ao redor do mundo merece uma discussão ética. Precisamos identificar maneiras eficazes e seguras de ajudar as pessoas a lidar com os efeitos das alterações climáticas, bem como aprender a gerenciar e manipular espécies selvagens, a fim de preservar a biodiversidade e a natureza. Algumas dessas estratégias de adaptação podem ser altamente técnicas (por exemplo, a construção de diques para conter aumento do nível do mar), mas outras são sociais e culturais (por exemplo, mudar práticas agrícolas).

Produtos farmacêuticos de baixa qualidade e falsificados

Até recentemente, a detecção de produtos farmacêuticos de baixa qualidade ou falsificados exigia acesso a equipamentos e testes complexos, muitas vezes indisponíveis em países em desenvolvimento, onde estes problemas abundam. A enorme quantidade de comércio no setor farmacêutico (incluindo empresas intermediárias, ingredientes ativos) levanta uma série de questões, desde técnicas (melhoria das práticas de fabricação e capacidades analíticas) até éticas e legais (por exemplo, a Índia decidiu em favor da fabricação de medicamentos que salvam vidas, mesmo se isso violar a lei de patentes dos EUA).

Sistemas autônomos

Criado robô com cérebro humano
Máquinas (tanto para fins pacíficos quanto bélicos) estão cada vez mais evoluindo da necessidade de controle humano para totalmente automatizadas e autônomas, com a capacidade de agir por conta própria, sem intervenção humana. Como esses sistemas operam sem controle humano e são projetados para funcionar e tomar decisões por conta própria, as implicações éticas, legais, sociais e políticas têm crescido exponencialmente. Quem é responsável pelas ações empreendidas pelos sistemas autônomos? Se a tecnologia robótica puder, potencialmente, reduzir o número de mortes humanas, é a responsabilidade dos cientistas projetar esses sistemas?

Híbridos humano-animais (quimeras)

Até agora, os cientistas têm mantido híbridos humano-animais no nível celular. Segundo alguns especialistas, mesmo as experiências mais modestas que envolveram embriões de animais e células-tronco humanas violam a dignidade humana e “borram” a linha entre as espécies. Seria a pesquisa interespécies a próxima fronteira na compreensão da humanidade e a cura de doenças, ou um terreno escorregadio, cheio de dilemas éticos, para a criação de novas espécies?

Garantir o acesso à tecnologia wireless e ao espectro radioelétrico

A conectividade móvel sem fio tem tido um efeito profundo sobre todos os países do mundo. Essas tecnologias estão transformando completamente a forma como nos comunicamos, fazemos negócios, aprendemos, criamos relacionamentos, navegamos e nos entretemos. Ao mesmo tempo, as agências governamentais dependem cada vez mais do espectro radioelétrico para suas missões críticas. Esta confluência de desenvolvimentos da tecnologia sem fio e necessidades da sociedade apresenta inúmeros desafios e oportunidades para pensarmos no uso mais eficiente do espectro de rádio. Especialistas argumentam que precisamos ter uma conversa política sobre como utilizar eficazmente o espectro de rádio, e dar acesso digital a populações carentes (rurais e de baixa renda, por exemplo).

Coleta de dados e privacidade

privacidade é um grande ponto de discussão na sociedade, especialmente no quesito “online” (onde nada mais parece privado). Enormes quantidades de dados pessoais são coletadas todos os dias por entidades comerciais, quando usamos mídias sociais, cartões de desconto ou encomendamos produtos através da internet, por exemplo. Agora que microprocessadores e memória permanente é tecnologia de baixo custo, precisamos pensar sobre os tipos de informações que devem ser coletadas e mantidas.
Outros pontos a serem discutidos são: devemos criar um implante de insulina que pode notificar o médico ou plano de saúde de um diabético quando ele faz escolhas dietéticas ruins? Essa decisão deve torná-lo inelegível para certos tipos de tratamento médico? Carros devem ser equipados com monitores de velocidade e outras medidas de boa condução, e estes dados devem ser fornecidos a autoridades após um acidente? Estas questões exigem discussões políticas adequadas, a fim de preencher a lacuna entre a coleta de dados e suas consequências significativas.

“Melhorias” humanas

Melhorias farmacêuticas, cirúrgicas, mecânicas e neurológicas já estão disponíveis para fins terapêuticos. Essas mesmas melhorias podem ser utilizadas para ampliar a função biológica humana além da norma social (isso significa que você pode se “melhorar”, mesmo que não esteja precisando de nenhum cuidado de saúde imediato). Mas onde traçar a linha entre a terapia e a melhoria? Como justificar o reforço biológico de uma pessoa quando tantas outras ainda não têm acesso à medicina terapêutica básica?
E você? Conhece algum outro dilema da ciência e tecnologia que causa boas discussões na sociedade? Compartilhe!

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