Um quarteto de cientistas nos EUA reanalisou dados de uma antiga espaçonave americana dedicada ao estudo do planeta vizinho e diz ter encontrado evidências de moléculas em desequilíbrio químico nas nuvens de média altitude venusianas, dentre elas a bendita fosfina.
Cabe uma recapitulação, para quem chegou de Marte ontem. Em setembro de 2020, um grupo liderado por Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, indicou ter detectado 20 partes por bilhão de fosfina na atmosfera venusiana, a partir de dados colhidos pelo Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, e pelo conjunto Alma, no Chile.
De acordo com os pesquisadores, a quantidade identificada não seria explicada por qualquer processo conhecido em Vênus. E, aqui na Terra, a fosfina é majoritariamente produto de metabolismo de microrganismos. Greaves e seus colegas jamais chegaram a soletrar “vida venusiana”, mas a implicação era clara.
Como acontece na ciência, qualquer descoberta anunciada passa pelo escrutínio do resto da comunidade. E aí começou a série de embaraços. O grupo de Cardiff recebeu críticas de todo lado, desde terem feito um processamento “maleável” dos dados para se encaixar à detecção até terem confundido o sinal do comum dióxido de enxofre com o da fosfina.
Para piorar tudo, descobriu-se que os dados do Alma passaram por um processamento errôneo (por culpa da própria equipe que opera o conjunto de radiotelescópios no Chile). Ao passar por uma recalibração, o sinal da fosfina ainda se mantinha, segundo a equipe da descoberta original, mas em quantidade bem menor – e mais facilmente explicável por mecanismos não biológicos.
Agora entre em cena mais uma peça do quebra-cabeça. Em artigo publicado no periódico Geophysical Research Letters, o grupo de Rakesh Mogul, da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, reanalisa dados do espectrômetro de massa da espaçonave americana Pioneer Venus.
Além de um orbitador, essa missão de 1978 contou com sondas que entraram na atmosfera venusiana colhendo dados, em 9 de dezembro daquele ano. O espectrômetro de massa colheu amostras do ar e as analisou.
Pouca atenção se deu então aos gases-traço, presentes em quantidade mínima na atmosfera. O que levou à reanálise agora, concentrando-se numa altitude entre 64,1 e 51,3 km. E aí surgiram potenciais evidências de fosfina.
Os dados também sugerem presença de sulfeto de hidrogênio, ácido nitroso, ácido nítrico, cianeto de hidrogênio e possivelmente amônia. E os pesquisadores lembram que várias dessas moléculas têm papel importante, na Terra, no ciclo do nitrogênio, fundamental para a vida por aqui. O próximo passo? Os pesquisadores querem mais dados in situ, e lembram que a missão DaVinci+, em estudo pela Nasa, seria um excelente passo na direção dessa meta.
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