A detonação de uma supernova é um evento que se espera ver uma vez só. A estrela explode, temos nosso show pirotécnico, o brilho vai diminuindo até sumir, deixando para trás uma nebulosa e um cadáver estelar. Mas há uma supernova em particular da qual os astrônomos esperam uma reprise – para 2037.
Não, não será a mesma estrela explodindo de novo. Supernovas costumam mesmo ser eventos catastróficos únicos (embora tenham sido vistos casos em que o mesmo astro aparentemente detonou duas vezes, algo ainda não totalmente esclarecido). Aqui estamos falando de um truque diferente. É a mesma explosão, vista em dois momentos diferentes, não exatamente no mesmo lugar.
Entra em cena a relatividade geral de Einstein e a predição de que a gravidade curva raios de luz. A primeira demonstração da teoria, por sinal, foi obtida graças a isso, em 1919: astrônomos foram à Ilha do Príncipe, na África, e a Sobral, no Ceará, fotografar um eclipse solar, tentando registrar as estrelas de fundo. A ideia era contrastar suas posições durante o fenômeno com as que elas guardam no céu noturno, quando o Sol não está à frente delas para curvar seus raios de luz.
Deu certo, palmas para Einstein. Corta para hoje. Astrônomos estudam com afinco as chamadas lentes gravitacionais fortes, em que grandes e distantes aglomerados de galáxias, com massa total de muitos trilhões de sóis, curvam (e concentram) a luz vinda de objetos ainda mais afastados. Nesse processo, a luz de uma supernova que cruze o aglomerado por vários caminhos diferentes pode fazer com que o objeto apareça em várias posições distintas no nosso céu. E, claro, como a luz tem uma velocidade bem alta, mas finita, isso também implica que as imagens aparecerão em tempos diferentes, dependendo da distância total de cada caminho percorrido pela luz até chegar aos nossos telescópios.
Uma dessas lentes naturais incríveis é a do aglomerado de galáxias MACS J0138.0-2155. Ele foi fotografado pelo Hubble em 2016, e na imagem era possível ver três imagens distintas da mesma supernova. Em 2019, uma nova fotografia foi produzida, e as três haviam sumido. A luz da estrela explodida deve ter partido de seu ponto de origem há uns 10 bilhões de anos e foi curvada pelo aglomerado galáctico depois de 6 bilhões de anos de viagem.
O grupo de astrônomos liderado por Steve Rodney, da Universidade do Sul da Califórnia em Columbia, agora modelou a saga e calculou que uma nova imagem da detonação, a surgir do outro lado do aglomerado, deve pintar em 2037, com margem de erro de uns dois anos. A predição, publicada na Nature Astronomy, não é só vontade de ser bidu. Trata-se de um teste efetivo da modelagem da distribuição de massa no aglomerado, incluindo aí a contribuição da misteriosa matéria escura (que não sabemos o que é, mas podemos saber onde está, graças a fenômenos como esse). A conferir.
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