Astrônomos obtiveram as primeiras observações inequívocas de que está acontecendo formação de luas ao redor de um exoplaneta no sistema PDS 70, a uns 370 anos-luz de distância daqui, na constelação do Centauro.
PDS, no caso, não é o velho partido de Paulo Maluf, mas ainda assim é do Brasil-sil-sil. Trata-se da sigla para Pico dos Dias Survey, um catálogo de astros jovens identificados pelo Observatório Pico dos Dias, em Brazópolis (MG), a partir de 1989.
O sistema PDS 70, em particular, tem tido grande destaque. Os dois planetas conhecidos, PDS 70b e c, foram descobertos por observação direta com o VLT (Very Large Telescope), também no Chile, em 2018 e 2019. E no ano passado um grupo internacional usou o Telescópio Espacial Hubble para medir o processo de acreção (crescimento) do mais interno deles, o PDS 70b. Eis o motivo pelo qual o sistema atrai tanto o interesse dos astrônomos: com uns 5 milhões de anos, ele é jovem a ponto de a formação dos planetas ainda estar em andamento.
Agora, as novas observações, feitas com o conjunto de radiotelescópios Alma e lideradas por Myrian Benisty, da Universidade do Chile, trazem um elemento a mais para o interesse no sistema: a detecção clara de um disco de gás e poeira ao redor de um dos planetas, PDS 70c, reproduzindo em microescala a formação planetária. Os pesquisadores estimam que haja massa suficiente ali para formar três luas como a da Terra, e o disco em si é enorme, comparável à distância Terra-Sol, 150 milhões de km.
Com o achado, os pesquisadores poderão estudar “em tempo real” como se formam luas em torno de planetas gigantes, investigação que também deve ajudar a explicar como nascem os próprios planetas. E, para além disso, o resultado confirma que o processo de formação de luas é de fato comum, como seria de se esperar.
Diferentemente da formação de planetas, que durante muito tempo contou com um único exemplo conhecido, a geração de luas se ofereceu aos astrônomos de cara como um processo comum, dado que todos os planetas gigantes do Sistema Solar trazem evidências de que algo assim tenha ocorrido, há 4,5 bilhões de anos. Claro, muitas das luas de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são meramente asteroides ou cometas capturados pela gravidade, mas algumas delas, maiores e organizadas em órbitas sobre o equador planetário, sugeriam uma origem local, a partir de um disco de gás e poeira –uma versão em miniatura do nascimento dos planetas ao redor do Sol.
Ainda assim, temos pouquíssimas evidências de exoluas maduras. Os dados dos satélites caçadores de planetas até agora se mostraram insuficientes para detectá-las com convicção (embora haja candidatos fortes, como o bizarro Kepler-1625b, mas isso é conversa para outro dia). Com o novo estudo, aceito para publicação no Astrophysical Journal Letters, resta a conclusão de que nos falta apenas procurar melhor.
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