Um grupo internacional trabalhando com observações de arquivo do Telescópio Espacial Hubble identificou a presença de vapor d’água na tênue atmosfera da lua joviana Ganimedes.
Trata-se da maior lua do Sistema Solar, um pouquinho maior que Titã, de Saturno, e maior também que o planeta Mercúrio (embora menos densa). Mas falar em atmosfera nesse caso merece uma qualificação: melhor seria dizer exosfera, uma presença muito tênue de gases, que não se compara aos invólucros mais densos mesmo de atmosferas rarefeitas, como a de Marte (que por sua vez tem um centésimo da densidade da terrestre).
Em 1998, um espectrógrafo do Hubble fez as primeiras imagens em ultravioleta de Ganimedes e revelou um padrão de emissões que indicava a presença da exosfera e de um campo magnético, com padrões similares aos de auroras. Foi detectado oxigênio molecular, O2, e imaginou-se que houvesse também oxigênio atômico, para explicar a distribuição das faixas de emissão sobre a lua.
Novas observações foram colhidas em 2010 e 2018 (nessa última ocasião com um instrumento diferente) e então combinadas às feitas anteriormente. O processamento não revelou a presença de oxigênio atômico, e sim de vapor d’água, H2O. O resultado não é de todo inesperado, levando em conta a composição da lua. Ela é coberta por uma espessa crosta de gelo, sob a qual se esconde um oceano global de água líquida (mantido nesse estado pelo efeito de maré poderoso proporcionado por Júpiter).
A equipe de Lorenz Roth, do Instituto Real de Tecnologia KTH, na Suécia, constatou que há locais próximos ao equador em que a temperatura pode subir a ponto de sublimar um pouco do gelo, convertendo-o em gás, e alimentando a exosfera. Nessas regiões, há predominância de vapor d’água, em contraste com áreas mais frias, onde predomina o oxigênio molecular.
O trabalho foi publicado na Nature Astronomy e já serve como um esquenta para futuras missões a Ganimedes, como a europeia Juice, que será lançada em 2022 e deve chegar ao sistema de Júpiter em 2029. Sigla em inglês para Exploradora das Luas Geladas de Júpiter, a espaçonave em construção pela empresa Airbus visitará também Calisto e Europa, antes de entrar em órbita definitiva ao redor de Ganimedes, em 2034.
O principal objetivo da Juice será investigar o potencial de Ganimedes para abrigar vida. Nesse sentido, a melhor aposta segue sendo Europa. Ambas têm oceanos subsuperficiais, mas o de Europa está em contato direto com um leito rochoso e fontes hidrotermais (um possível análogo do local onde a vida primeiro surgiu na Terra). Já o oceano de Ganimedes está ensanduichado entre duas camadas de gelo, acima e abaixo. Por sorte, tem para todo mundo, já que a Nasa também prepara uma nova missão joviana, a Europa Clipper. Ela deve partir em 2024 e chegar lá um pouquinho depois da Juice, em 2030.
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