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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Novo estudo esquenta discussão sobre a habitabilidade das nuvens de Vênus

 



Um novo estudo sugere que as nuvens de Vênus, a despeito de terem temperatura e pressão adequadas para a vida, provavelmente não abrigam microrganismos. O motivo? Falta água. O novo trabalho é liderado por John Hallsworth, da Universidade da Rainha em Belfast, no Reino Unido, e Chris McKay, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, e foi publicado na última edição da Nature Astronomy.

É mais uma pesquisa que mostra como o interesse por nosso planeta vizinho mais próximo (e completamente inóspito à superfície, com temperaturas de 460° C) se reacendeu em tempos recentes, sobretudo após a detecção de fosfina (possível, ainda que não provável, marcador biológico nas nuvens venusianas) pelo grupo de Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, no ano passado. No mês passado, Nasa e ESA anunciaram novas missões direcionadas a Vênus para os próximos anos.

Muito do interesse é a perspectiva de que aquele mundo pode ter sido plenamente habitável, com oceanos e tudo mais, no passado remoto. Num ambiente assim, a vida teria condições para surgir. Conforme o planeta se ressecou, microrganismos poderiam ter estabelecido morada definitiva nas nuvens da alta atmosfera, onde as condições são mais aprazíveis, ainda que extremamente ácidas e com pouquíssima água. É aí que entra o estudo da equipe de Hallsworth e McKay.

Baseados em princípios químicos básicos, envolvendo composição, temperatura e pressão da atmosfera, os pesquisadores exploraram um índice conhecido como “atividade da água”, que contrasta a pressão parcial de vapor d’água em uma solução com um valor padrão. O grupo calculou a atividade da água nas soluções de ácido sulfúrico das nuvens de Vênus e concluiu que ela fica em 0,004, menos de um centésimo da requerida pelas formas de vida mais extremas da Terra nesse quesito, 0,585.

Isso levou os autores a tratar a questão de forma categórica, proclamando as nuvens venusianas “inabitáveis”. Outros especialistas, contudo, pedem cautela. O problema não são os resultados, e sim as premissas que levam a eles. “O trabalho é sólido no sentido de que os cálculos parecem ter sido feitos corretamente”, diz David Grinspoon, astrobiólogo da Universidade do Colorado (EUA). “Entretanto, as conclusões do estudo são excessivamente confiantes, porque sabemos menos sobre a atmosfera de Vênus e sobre a natureza da vida do que os autores pressupõem.”

Grinspoon aponta que há indícios não só de que as nuvens venusianas não sejam só ácido sulfúrico com um pinguinho de água, como o trabalho supõe, mas também de que elas não sejam homogêneas, oferecendo ambientes bem diferentes do que sugeriria uma média simplificada. Em suma, faltam dados.

Diante disso, como resolver a questão? Só tem um jeito: teremos mesmo de fazer mais observações e mandar novas sondas até lá para colher mais dados.


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