Vida na lua Europa
A lua Europa, de Júpiter, é o principal candidato à busca pela vida em nosso Sistema Solar, e seu oceano profundo de água salgada tem cativado os cientistas há décadas. Ocorre que esse oceano é envolto por uma concha gelada que pode ter de alguns quilômetros a dezenas de quilômetros de espessura, tornando coletar amostras de sua água uma perspectiva fora do alcance das nossas tecnologias espaciais.
Contudo, ao estudar o gelo permanente da Groenlândia, cientistas encontraram indícios de que a camada de gelo de Europa pode não ser uma barreira, mas um sistema dinâmico e um local de potencial habitabilidade por si só, eliminando a necessidade de perfurar toda a crosta de gelo para encontrar a hipotética vida nas profundezas da lua.
Observações de radar de penetração no gelo capturaram a formação de uma "dupla crista" na Groenlândia, similar às que são comuns na superfície de Europa, sugerindo que a camada de gelo da lua pode ter uma abundância de bolsões de água abaixo de saliências semelhantes.
"Por estar mais perto da superfície, onde você obtém substâncias químicas interessantes do espaço, de outras luas e dos vulcões de Io, existe a possibilidade de que a vida tenha uma chance [de prosperar] se houver bolsões de água na concha [de gelo]," disse Dustin Schroeder, da Universidade de Stanford, nos EUA . "Se o mecanismo que vimos na Groenlândia é como essas coisas acontecem em Europa, isso sugere que há água lá em todos os lugares."
Estudando uma lua na Groenlândia
O processo de formação das bolsas de água no gelo da Groenlândia bate com as características superficiais da lua joviana. [Imagem: Riley Culberg et al. - 10.1038/s41467-022-29458-3]
Aqui na Terra, os pesquisadores analisam as regiões polares usando instrumentos geofísicos para entender como o crescimento e o recuo das camadas de gelo podem afetar o aumento do nível do mar. Grande parte dessa área de pesquisas ocorre em terra, onde o fluxo de mantos de gelo está sujeito a uma complexa hidrologia - como lagos subglaciais, lagoas de derretimento de superfície e condutos de drenagem sazonais -, tudo contribuindo para a incerteza nas previsões do nível do mar. Como uma subsuperfície terrestre - solo embaixo do gelo - é totalmente diferente do oceano subsuperficial de água líquida de Europa, os pesquisadores afirmam ter ficado surpresos quando notaram que as formações que riscam a superfície de Europa parecem extremamente semelhantes a uma pequena formação na superfície do manto de gelo da Groenlândia - uma camada de gelo que o grupo estudou em detalhes.
"Nós estávamos trabalhando em algo totalmente diferente, relacionado às mudanças climáticas e seu impacto na superfície da Groenlândia, quando vimos essas pequenas cristas duplas - e pudemos ver as cristas passarem de 'não formadas' para 'formadas'," disse Schroeder.
Após um exame mais aprofundado, a equipe concluiu que a crista em forma de "M" na Groenlândia, conhecida como crista dupla, poderia ser uma versão em miniatura da formação mais proeminente da lua Europa.
Bolsões de possível vida perto da superfície
As cristas duplas de Europa aparecem como cortes dramáticos ao longo da superfície gelada da lua, com cristas chegando a quase 300 metros, separadas por vales com cerca de 800 metros de largura. Os cientistas conhecem essas formações desde que a superfície da lua foi fotografada pela sonda espacial Galileo, na década de 1990, mas ninguém havia conseguido pensar em uma explicação definitiva de como elas foram formadas.
Por meio de análises de dados de elevação da superfície e de radar de penetração no gelo, coletados de 2015 a 2017, os pesquisadores revelaram como o cume duplo no noroeste da Groenlândia foi produzido quando o gelo se fraturou em torno de um bolsão de água líquida pressurizada, que estava congelando novamente dentro do manto de gelo, fazendo com que dois picos se elevassem em um perfil muito característico.
"Na Groenlândia, esse cume duplo se formou em um lugar onde a água dos lagos e córregos da superfície frequentemente drena para a superfície e congela novamente," disse Riley Culberg, membro da equipe. "Uma maneira de formar bolsões de água rasa semelhantes em Europa pode ser através da água do oceano subterrâneo sendo forçada para dentro do manto de gelo por meio de fraturas - e isso sugere que poderia haver uma quantidade razoável de troca acontecendo dentro do manto de gelo".
Estes resultados endossam o envio de radares de penetração para Europa, para detectar rapidamente esse processo de formação de crista dupla. Um instrumento desse tipo está entre os instrumentos atualmente planejados para explorar Europa a partir de sondas espaciais orbitadoras, que não pousarão na lua. Para pousar, com base no que se conhecia até agora, o projeto envolve robôs aquáticos e submarinos.
Fonte: Site Inovação Tecnológica
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