Um foguete lançado pela Space X pode colidir com a Lua nas próximas semanas, de acordo com especialistas espaciais. O impacto pode deixar uma cratera no lado oculto do satélite.
Desenvolvido pela empresa de Elon Musk, o Falcon 9 foi colocado em órbita em 2015 para impulsionar o Observatório Climático do Espaço Profundo dos EUA (DSCOVR, sigla em inglês) para o ponto do sistema Terra-Lua. Desde então, o foguete flutua a mais de 1 milhão de km de distância do planeta.
De acordo com os cálculos de Bill Gray, pesquisador independente focado em dinâmica orbital que foi o primeiro a divulgar a colisão iminente, uma parte do foguete provavelmente atingirá o astro um pouco ao norte de seu território, às 7h26 do dia 4 de março. Gray também reforçou que a forma como o objeto está se movendo dificulta a localização exata, embora seja provável que mude apenas alguns quilômetros.
"No momento, não podemos obter mais dados porque o objeto está bem próximo do Sol. Em 7 e 8 de fevereiro, teremos uma breve oportunidade de examiná-lo e obter mais dados, e informações como a hora e o local serão melhor determinados", disse Gray à CNN.
A NASA compartilhou uma declaração na última
quinta-feira (27) sobre o rastreamento do foguete.
"A agência está monitorando a trajetória de um segundo estágio do SpaceX Falcon 9, que apoiou o lançamento da Força Aérea dos EUA da missão do Observatório Climático do Espaço Profundo (DSCOVR) em 2015", disse Karen Fox, chefe de comunicações científicas da NASA. "Essa missão é uma parceria entre a NASA, Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e a Força Espacial dos EUA. Depois de completar seu voo, o foguete foi colocado em sua órbita de eliminação heliocêntrica de escape da Terra. Esperamos que agora o impacto ocorra no lado oculto da Lua em 4 de março", acrescentou.
Embora as naves espaciais às vezes sejam lançadas intencionalmente em direção à Lua no final de uma missão, por exemplo, detritos espaciais que atingem aleatoriamente o satélite natural são incomuns, disse Holger Krag, chefe do Escritório de Detritos Espaciais da Agência Espacial Européia.
Por outro lado, o especialista defende que é mais seguro o foguete de 15 metros de comprimento colidir com a Lua do que fazer uma entrada descontrolada na atmosfera da Terra. "O foguete seria descartado permanentemente. Do ponto de vista da segurança, esta é realmente a melhor saída. Deixá-lo à deriva em uma órbita ao redor do Sol não garante que ele não será capturado novamente pela Terra um dia", disse Krag. "Gerir a reentrada do foguete na atmosfera de forma controlada e segura é extremamente complexo. O descarte na superfície lunar ainda é a melhor alternativa".
Excesso de objetos no espaço
Existem cerca de 30 a 50 objetos perdidos no espaço profundo, entre eles a base do foguete Falcon. Mas nenhuma agência espacial sistematicamente acompanhou detritos espaciais tão distantes da Terra, apontou Jonathan McDowell, astrônomo do Observatório Astrofísico Smithsonian, operado pela Universidade de Harvard.
"Esta é a primeira vez que algo não direcionado à Lua foi notado acidentalmente, mas isso está ocorrendo principalmente porque não estávamos prestando atenção neste objeto até recentemente", explicou.
"Colisões não intencionais de partes de foguetes com o astro podem ocorrer com mais frequência no futuro", declarou Holger Krag, com mais missões fazendo uso de pontos de Lagrange — pontos de equilíbrio a mais de 1 milhão de quilômetros da Terra, onde as forças gravitacionais do Sol e do planeta são mais ou menos equilibrados. Naves espaciais, como o recém-lançado Telescópio James Webb , são frequentemente implantadas nesses pontos, onde não precisam de muitos impulsos para permanecer em órbita.
Já McDowell classificou a órbita dos detritos do Space 9 como "caótica", pois foi afetada ao longo do tempo pelas gravidades da Lua, do Sol e da Terra.
Tanto Krag quanto McDowell disseram que não há diretrizes claras para agências e empresas espaciais para lidar com essas situações, e é difícil descartar esses lançadores e as espaçonaves e satélites que eles entregam.
"O tráfego no espaço profundo está aumentando", disse McDowell. "E não são apenas os EUA e a Rússia enviando coisas para o espaço profundo, são muitos países e até empresas comerciais como a SpaceX. Não significa que a empresa americana fez algo 'ruim', pois é uma prática perfeitamente padrão abandonar coisas em órbita profunda", acrescentou.
Oportunidade de novas descobertas
As nuvens de poeira resultantes de um impacto podem ser analisadas em busca de pistas sobre a composição da superfície lunar.
De acordo com Bill Gray, os orbitadores como o indiano Chandrayaan-2 também podem tirar imagens da cratera gerada pela colisão, dando então uma rara chance de olhar abaixo da superfície da lua.
O Lunar Reconnaissance Orbiter, nave espacial robótica da NASA, que circula a lua desde 2009, não estará em posição de observar o impacto, declarou a agência. "No entanto, a equipe da missão está avaliando se podem ser feitas observações sobre possíveis mudanças no ambiente lunar associadas ao impacto e posteriormente identificar a cratera que pode ser formada", disse Karen Fox.
"Este evento único apresenta uma oportunidade de pesquisa empolgante. Após o impacto, a equipe pode usar suas câmeras para identificar o local do incidente, comparando imagens antigas com as novas. A busca pela nova cratera será desafiadora e pode levar de semanas a meses para ser concluída", finalizou.
FONTE: UOL
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