A vida no universo pode ser muito mais antiga do que se pensava, se formando apenas 15 milhões de anos após o Big Bang. Nesse cenário de início do universo, planetas rochosos nasceram das sobras de massivas estrelas primordiais que teriam sido aquecidas pelo calor de uma radiação que permeava todo o espaço, que era muito mais quente na época do que é agora. Um desses mundos antigos poderia ter água líquida em sua superfície independentemente da sua distância de uma estrela e, portanto, pode ter sido habitável para formas primitivas de organismos, assim como a Terra, explica Avi Loeb, que preside o Departamento de Astronomia de Harvard (EUA). Com a descoberta de exoplanetas, os cientistas estão começando a considerar seriamente que a vida-como-nós-conhecemos exista em outros lugares. “O que eu estou dizendo é que ela também pode ser estendida a outros tempos, anteriores ao nosso”, explica Loeb. Loeb afirma que, se comprovada, a sua ideia enfraqueceria a teoria do princípio antrópico. Esta teoria, popular entre muitos cientistas, postula que os valores das principais leis e constantes do universo, como a força eletromagnética, a massa de um nêutron e, talvez a mais importante, a densidade de energia do próprio espaço vazio, conhecida como a constante cosmológica, parecem estar bem afinados para sustentar a vida como a conhecemos. Caso contrário, ela não existiria.
Mas, se a vida pudesse se desenvolver em condições tão extremas e estranhas como as do início do universo, então, os cientistas precisam revisitar a ideia de que as condições em nosso próprio universo maduro são exclusivamente adequadas para abrigar a vida. “Há cosmólogos que argumentam que os valores da constante cosmológica que observamos hoje devem ser como são para que pudéssemos existir na superfície de um planeta como a Terra, em torno de uma estrela como o sol, em uma galáxia como a Via Láctea. Mas esse pode não ser o caso. A vida pode ter começado muito mais cedo, quando a constante cosmológica era muitas ordens de magnitude maior do que é hoje, durante um tempo que, de acordo com o princípio antrópico, a vida não poderia sobreviver”, contrapõe Loeb.
“Se for esse o caso, então o universo não foi projetado para nós existirmos nele. Podemos ser os retardatários e não o centro do universo biológico. A vida existia anteriormente. Não há nenhum problema nisso”, acrescenta. O que Loeb percebeu foi que a temperatura da Radiação Cósmica de Fundo em Microondas, uma relíquia radioativa deixada pelo Big Bang que permeia todo o universo, tem variado muito ao longo do tempo. Hoje, ela está perto de zero absoluto; 400 mil anos depois do Big Bang, durante uma era conhecida como “recombinação”, quando átomos de hidrogênio se formaram, ela estava quase tão quente quanto a superfície do sol. Mas, durante uma janela de tempo muito breve, entre 10 e 17 milhões anos após o Big Bang, a temperatura esteve em cerca de 26 graus Celsius, próximo à temperatura ambiente.
Este período também coincide mais ou menos com o que alguns cálculos teóricos sugerem que as primeiras estrelas do universo poderiam ter se formado. Quando essas estrelas antigas – que tinham a massa do nosso sol e uma expectativa de vida muito menor – morreram, elas teriam explodido como supernovas e semeado o espaço ao seu redor com os elementos pesados necessários para a criação de planetas rochosos. Uma vez formados, esses mundos iniciais não precisariam do calor de estrelas para aquecê-los, porque teriam sido envolvidos pelo espaço que foi aquecido pela Radiação Cósmica.
“Assim, a primeira vez que a vida pode ter começado foi cerca de 15 milhões de anos após o Big Bang. A idade atual do universo é cerca de 13,8 bilhões de anos, então estamos falando de uma época em que o universo tinha apenas um décimo de 1% de sua idade atual”, explica Loeb.
Greg Laughlin, astrônomo da Universidade da Califórnia, nos EUA, diz que a teoria de Loeb é muito “fora da caixa”, e que está quase certamente errada – mesmo porque a maioria das hipóteses científicas vêm a ser incorretas. “Eu não apostaria dinheiro que a vida existiu naquele início de tempo”, contrapõe Laughlin, que não esteve envolvido no estudo. No entanto, ideias como a que Loeb propõe são úteis, segundo Laughlin, porque ajudam a chegar no que é considerado possível. “Isso mostra que precisamos considerar os ambientes que são muito diferentes do que temos aqui na Terra. Eu acho que a ideia de que há planetas habitáveis que são exatamente iguais à Terra, orbitando estrelas como o sol, é ingênua. Esses tipos de especulações amplas fazem um trabalho muito bom ao ampliar a discussão de formas que são úteis”, conclui.
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