Nesta coluna das "Mulheres das Estrelas", a astrônoma Ana Carolina Posses explica o que se sabe sobre as regiões do Universo que abrigam galáxias com comportamentos peculiares
Nesta coluna, eu, Ana Carolina Posses, irei contar um pouquinho sobre meu trabalho. Tenho um grande fascínio pelas galáxias; descobri essa paixão ainda na graduação, quando estudei galáxias que estão em processo de colisão. E agora vou falar sobre minha tese de mestrado que defendi no Observatório Nacional, Rio de Janeiro.
A Via Láctea faz parte do Grupo Local, que é formado por ela, mais duas galáxias massivas e dezenas de galáxias anãs. Porém, existem regiões no Universo com centenas e até milhares de galáxias próximas com comportamentos bastante peculiares comparados aos que observamos aqui na nossa vizinhança. Essas regiões são chamadas de aglomerados de galáxias e são as maiores estruturas que observamos no Universo!
Mas que comportamentos peculiares? As galáxias dos aglomerados passam por processos muito hostis: elas se movimentam mais rapidamente do que as galáxias do Grupo Local e, quando elas se aproximam, a violenta interação gravitacional retira de cada galáxia as estrelas velhas e o gás (combustível para formar novas estrelas), que se depositarão no meio intraglomerado.
Esse meio pode chegar à temperatura de 100.000.000 °C, emitindo bastante raios X. As galáxias com gás remanescente frio podem interagir com esse meio quente e perder mais gás. Como consequência, nós observamos que a maioria das galáxias de aglomerados é avermelhada (com formas elípticas e lenticulares) e tem pouca formação estelar recente.
Nos meus estudos, procurei saber mais sobre essas interações. Para isso, estudei as galáxias do aglomerado de nome grande e esquisito RX J0152.3-1357. Ele é composto de grupos menores de galáxias que estão em processo de fusão para formar um único aglomerado bastante massivo.
Como ele está muito distante de nós, a luz que detectamos saiu de lá quando o Universo possuía metade de sua idade. Nosso grupo de astrônomos usou imagens de dois grandes telescópios terrestres com espelhos de 8 metros chamados Subaru (no Havaí) e VLT (no Chile). Além disso, contamos com a ajuda dos telescópios espaciais Galex e Hubble.
Durante anos de estudos, percebemos como as galáxias de aglomerados podem se modificar drasticamente com o tempo. Descobri que cada grupo do aglomerado já possui uma grande quantidade de galáxias vermelhas no seu centro, o que nos mostra que essas violentas transformações ocorrem mesmo antes de o aglomerado se formar completamente. Compreender o que está acontecendo nesse aglomerado nos ajuda a compor as peças de todo o grande quebra-cabeça que é entender como as galáxias evoluem.
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