Dois pesquisadores de universidades australianas lideraram o mais completo trabalho de arqueologia estelar já realizado sobre a galáxia Andrômeda. Em seu artigo publicado na revista "Nature" dessa semana, Dougal Mackey, Geraint Lewis e mais 13 pesquisadores conseguiram determinar dois grandes eventos de que Andrômeda tenha praticado 'canibalismo galáctico', ou seja, 'engolido' outras galáxias.
Na pesquisa, o grupo de astrônomos analisou um total de 92 aglomerados globulares – trata-se de um conjunto de estrelas que, juntas, apresentam um formato esférico, mantendo no centro uma grande densidade de estrelas antigas.
Através das suas propriedades dinâmicas, como a velocidade, por exemplo, foi possível determinar que esses aglomerados são na verdade restos de galáxias engolidas no passado.
Ao que tudo indica, houve dois eventos distintos. Um ocorreu há “apenas” um bilhão de anos, e o outro é muito mais antigo. A dificuldade em se estabelecer a idade exata desses eventos se deve ao fato de que, bem depois de se formar, Andrômeda deve ter engolido uma das principais galáxias do 'Grupo Local'.
Esse grupo é na verdade o conjunto de 36 galáxias, incluindo Andrômeda e a nossa Via Láctea.
Nesse evento de 'canibalismo galáctico', a quarta ou quinta galáxia mais massiva do grupo deve ter virado refeição. Isso, hoje, seria o equivalente a Via Láctea jantar a Grande Nuvem de Magalhães!
Imagem das Nuvens de Magalhães - duas pequenas galáxias satélites em órbita ao redor da Via Láctea — Foto: Mark Gee
Há ainda algumas galáxias que não está claro se fazem parte do grupo, ou mesmo se podem ser classificadas de fato como galáxias! Esses objetos, na maioria das vezes, já perderam todo o seu gás e se parecem muito com um aglomerado globular. Só nas proximidades da Via Láctea há pelo menos 5 casos desse tipo.
Como uma galáxia consegue engolir outra?
O Grupo Local é dominado por duas grandes galáxias, a nossa Via Láctea, uma espiral com uma barra central, e a galáxia espiral de Andrômeda, que fica a uma distância de 2,5 milhões de anos luz. Como ambas concentram a maior parte da matéria do grupo, a maioria das demais galáxias podem ser encontradas nas proximidades das duas. Andrômeda e Via Láctea são muito parecidas, mas mapeamentos recentes de estrelas na nossa galáxia mostraram que a Via Láctea tem mais massa que sua irmã.
Por causa da predominância de ambas, é natural esperar que galáxias menos avisadas sejam atraídas e engolidas. Na atualidade, temos do Fluxo Estelar de Virgem, um verdadeiro riacho de estrelas, outrora uma galáxia, sendo assimilado pela Via Láctea. Esse processo de destruição e assimilação de uma galáxia por outra é o processo que cientistas chamam de canibalismo galáctico.
Não pense que isso acontece apenas com galáxias grandes engolindo as pequenas. Andrômeda e Via Láctea estão em rota de colisão, e daqui uns 4 ou 5 bilhões de anos elas devem se encontrar.
Mas não haverá exatamente uma colisão: uma deve iniciar um processo de deformação da outra, destruindo o padrão espiral de ambas. Elas devem até atravessar uma a outra, para depois de alguns bilhões de anos formarem uma única galáxia, provavelmente esferoidal.
O passado de Andrômeda
Nós sabemos que a Via Láctea já fez e está fazendo esse canibalismo galáctico há bilhões anos. Mas o estudo publicado nesta semana traz mais detalhes sobre nossa galáxia irmã, e se ela teve um passado como o nosso.
O passado de Andrômeda é bastante turbulento. Para se ter uma ideia, sua principal galáxia satélite, M32, pode ser uma galáxia espiral que teve todos os seus braços arrancados, deixando-a elíptica. O que restou dela seria na verdade seu bojo mais interno.
Esse estudo é bastante interessante para mostrar como procurar restos de galáxias na Via Láctea. É muito mais fácil aprender vendo casos ocorridos em outras galáxias do que estudando a nossa própria. O motivo é bem simples: estamos dentro dela!
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