A quase impossibilidade da astronomia observacional nunca foi tão clara. Com astrônomos tendo registrado tantos eventos em tantos instrumentos diferentes, simplesmente apontar telescópios para as estrelas tem proporcionado retornos decrescentes.
Para que continuemos avançando, precisamos nos voltar a eventos mais incomuns e até violentos do universo, a fim de conquistar dados verdadeiramente novos. Não é apenas uma questão de paciência, uma vez que a indústria do espaço não pode configurar telescópios suficientes para olhar para todos os lugares ao mesmo tempo. Com tanta coisa esperando pelo zoom certo, poderia parecer uma causa perdida tentar capturar eventos inesperados de curta duração.
Buracos negros podem ser portais para outros universos
E, no entanto, esta semana, um evento importante aconteceu em algum lugar do universo, agora denominado GRB 130427A, e uma “armada de instrumentos” em todo mundo o viu produzir uma explosão de raios gama mais poderosa do que o que muitos pesquisadores acreditavam ser teoricamente possível.
Aparentemente, vimos o colapso de uma estrela gigante e o nascimento de um buraco negro, evento descrito como um “momento de pedra de Roseta” para a astronomia – em referência ao fragmento de uma coluna monolítica que permitiu que os hieróglifos egípcios fossem decifrados. Ele enviou informações que os astrônomos ainda estarão estudando por muitos anos, e, por mais que ainda seja cedo para chegar a qualquer conclusão, já existe uma excitação generalizada sobre a absoluta novidade no fenômeno.
E, no entanto, o GRB 130427A só durou cerca de 80 segundos com intensidade observável. Com tanto espaço vazio de para monitorar, como é que os astrônomos conseguiram observar o evento, quanto mais documentá-lo tão profundamente? A resposta está no Novo México (EUA), nos Laboratórios Nacionais de Los Alamos, na forma de seis câmeras robóticas referidas coletivamente como RAPTOR ou RAPid Telescópios de Resposta Óptica.
Os telescópios RAPTOR são interligados em rede e todos obedecem um cérebro de computador central. Entre seu hardware de computação dedicado e suas estruturas robóticas giratórias, eles podem se virar para ver qualquer ponto no céu em menos de três segundos.
Buraco negro é flagrado engolindo planeta gigante pela primeira vez
Como são os dispositivos mais rápidos do mundo em “resposta óptica”, os telescópios do RAPTOR têm um grande dever: ter certeza de que você não perca as coisas grandes quando elas acontecem, porque em astronomia não há segundas chances. Acredita-se que esta explosão de raios gama seria a mais brilhante das últimas décadas, talvez do século, e se os astrônomos a tivessem perdido, é bem provável que ninguém trabalhando hoje teria tido a chance de capturar uma novamente.
Os aparelhos cumpriram seu objetivo. Quando um dos telescópios vê uma sinal de algo interessante, ele e os outros rapidamente se reorientam e dão zoom para capturar os pormenores. Os telescópios têm diferentes especializações – por exemplo o RAPTOR-T, que vê todos os eventos através de quatro lentes alinhadas com quatro filtros de cor diferentes. Ao olhar para as diferenças na distribuição de cor na amostra, o RAPTOR-T pode fornecer informações sobre a distância de um evento ou sobre alguns elementos do seu ambiente.
No entanto, o GRB 130427A também foi visto por uma série de outros instrumentos, detectores de raios gama e telescópios de raios-X que são muito mais lentos do que o RAPTOR. Os satélites Fermi, NuSTAR e Swift, da Nasa, conseguiram ver alguma parte do evento durante o seu desenrolar, porém a maioria dos telescópios se juntou para ver o chamado arrebol do evento – uma espécie de persistência luminosa que fica no céu depois de um episódio como este. Este foi um acontecimento extremamente violento e lançou detritos ao longo de um grande raio. Todo este raio brilhou por várias horas e os astrônomos observaram quando ele desapareceu.
Dimensões extras: se elas existem, buracos negros e pulsares podem nos ajudar a descobrir
A intensidade dos raios gama de alta energia naquele arrebol desapareceram junto com suas emissões de luz convencionais. Esse é a primeira destas ligações que os astrônomos encontraram entre raios gama e fenômenos ópticos. E é apenas o começo das descobertas que virão desta Pedra de Roseta da astronomia. Podemos esperar por uma série de atualizações emocionantes ao longo dos próximos meses, à medida que os astrônomos desvendarem as implicações de terem testemunhado o nascimento de uma singularidade sem precedentes.
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