Especialistas como o físico teórico britânico Stephen Hawking acreditam que a única chance que a humanidade tem de sobrevivência no novo milênio é espalhando-se pelo espaço.
O argumento de Hawking é de que a população e seu uso dos recursos finitos do planeta Terra estão crescendo exponencialmente, junto com sua capacidade técnica para mudar o ambiente, para bem ou para mal. Porém, como nosso código genético ainda carrega os instintos egoístas e agressivos que foram nossa vantagem de sobrevivência no passado, é provável que consigamos evitar um desastre nos próximos cem, mil ou um milhão de anos.
Para os futuristas, cenários apocalípticos abundam – de desastres ambientais à superpopulação e uso de armas nucleares, parece que nosso fim é desgraça e tristeza.
No entanto, de acordo com os colaboradores do “Starship Century” (coleção de argumentos e ficção científica sobre viagem interestelar) Freeman Dyson, Martin Rees e Geoffrey Landis, a ciência que nos trouxe à beira da destruição também pode conter as sementes da salvação. Descobrir como construir uma nave espacial capaz de sobreviver a viagens interestelares também pode nos ajudar a compreender como sobreviver na Terra, se o ambiente se tornar hostil à vida como a conhecemos.
Marc Millis, criador da Fundação Tau Zero e ex-chefe da física de propulsão da NASA, disse que a investigação inicial necessária para determinar o foco e escopo de um programa espacial interestelar pode ser feita com pouco dinheiro. “Nós provavelmente estamos falando de um investimento de menos de US$ 10 milhões (cerca de R$ 23 mi) por ano”, disse.
Mas os esforços para colocar novas teorias em prática, construir e testar veículos espaciais podem rapidamente adicionar trilhões de dólares a essa conta. Robert Zubrin, engenheiro aeroespacial e cofundador da Mars Society, estima que poderia custar US$ 125 trilhões de dólares (cerca de R$ 283 tri) para construir uma nave capaz de viajar a 10% da velocidade da luz, levando algumas dezenas de humanos.
Devemos então concluir que a viagem interestelar está fora do nosso alcance com base apenas no seu custo absurdo?
O futurista Peter Schwartz, um dos pioneiros em planejamento de cenários, acredita que não necessariamente. Ele estabelece panoramas pelos quais fundos poderiam se materializar para a realização de viagens interestelares. Por exemplo:
Estados-nação podem ter que responder à crise. As coisas podem ficar tão ruins na Terra que os governos das principais nações serão estimulados a agir. Coalizões de países ricos reunirão seus recursos e lançarão naves a planetas habitáveis. Esse cenário funciona com naves nas quais os seres humanos viajam em “estase” (o estado no qual o fluxo normal de um líquido corporal para, por exemplo, o fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos), ou naves de geração, onde os seres humanos vivem até que, de geração em geração, lentamente, seus parentes chegam a outra galáxia.
Religiões do mundo podem assumir a liderança. Superpopulação é acompanhada por um crescimento da religião organizada. Cidades podem ser substituídas por arcologias, enormes habitats autossustentáveis. Enquanto isso, nós finalmente encontraremos sinais de vida inteligente em outros lugares do universo. As maiores religiões competirão para lançar projetos missionários interestelares.
Trilionários e seus brinquedos podem entrar em ação. Uma população cada vez menor controla um planeta extremamente rico. É uma época de computação quântica, reatores de fusão, biologia sintética e energia solar altamente eficiente. O crescimento médio global de 5% pode levar a uma duplicação da riqueza a cada 15 anos, enquanto avanços na extensão da vida levam a pessoas que vivem além de 150 anos. Por 2200, o mundo será mil vezes mais rico do que é hoje, e terá metade do número de pessoas. Assim como os ricaços atuais voltam sua atenção para projetos espaciais e de extensão da vida, também farão os trilionários de amanhã.
Ao falar sobre cenários para o financiamento de viagens interestelares, é difícil escapar da ficção científica. Ainda assim, como Schwartz lembra, ninguém teria imaginado há dez anos os papéis predominantes que magnatas de negócios como Richard Branson, Jeff Bezos e Elon Musk estão desempenhando em programas espaciais atualmente. Sendo assim, nem tudo é fantasia.
“Há muitos cenários possíveis, com diferentes motivações, formas de propulsão, níveis de população”, disse Schwartz. “Há muitas maneiras de se fazer isso. Não há uma única resposta certa”.
É esperar para ver (ou viver).
Nenhum comentário:
Postar um comentário