Os cientistas da missão Juno da NASA descobriram um ponto quente vulcânico no hemisfério sul da lua de Júpiter, Io. O ponto quente não só é maior do que o Lago Superior da Terra, como também emite erupções seis vezes superiores à energia total de todas as centrais elétricas do mundo. A descoberta deste fenómeno gigantesco é cortesia do instrumento JIRAM (Jovian Infrared Auroral Mapper) da Juno, contribuído pela Agência Espacial Italiana.
Um enorme ponto quente - maior do que o Lago Superior da Terra - pode ser visto logo à direita do polo sul de Io nesta imagem anotada obtida pelo gerador de imagens infravermelhas JIRAM a bordo da Juno da NASA no passado dia 27 de dezembro de 2024, durante um "flyby" pela lua joviana. Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/ASI/INAF/JIRAM
"A Juno fez dois 'flybys' muito próximos de Io durante a sua missão estendida", disse o investigador principal da missão, Scott Bolton do SwRI (Southwest Research Institute) em San Antonio, Texas, EUA. "E ao passo que cada passagem forneceu dados desta lua atormentada que excederam as nossas expetativas, os dados desta última - e mais distante - realmente deixaram-nos espantados. Este é o evento vulcânico mais poderoso alguma vez registado no mundo mais vulcânico do nosso Sistema Solar - o que quer dizer alguma coisa".
A fonte do tormento de Io: Júpiter. Mais ou menos do tamanho da nossa Lua, Io está extremamente próxima do gigante gasoso e a sua órbita elíptica fá-la girar em torno de Júpiter uma vez a cada 42,5 horas. À medida que a distância varia, também varia a atração gravitacional do planeta, o que faz com que a lua seja incessantemente espremida. O resultado: a imensa energia resultante do aquecimento por fricção derrete partes do interior de Io, resultando numa série aparentemente interminável de plumas de lava e cinza expelidas para a atmosfera pelos cerca de 400 vulcões que se encontram na sua superfície.
Passagens rasantes
Concebido para captar a luz infravermelha (que não é visível ao olho humano) que emerge das profundezas de Júpiter, o JIRAM sonda a camada meteorológica do gigante gasoso, espreitando entre 50 a 70 quilómetros abaixo do topo das nuvens. Mas desde que a NASA prolongou a missão da Juno, a equipa também tem utilizado o instrumento para estudar as luas Io, Europa, Ganimedes e Calisto.
Durante a sua missão estendida, a trajetória da Juno passa por Io de duas em duas órbitas, sobrevoando sempre a mesma parte da lua. A nave espacial passou perto de Io em dezembro de 2023 e em fevereiro de 2024, aproximando-se a 1500 quilómetros da sua superfície. O último "flyby" teve lugar dia 27 de dezembro de 2024, colocando a nave espacial a uma distância de cerca de 74.400 quilómetros da lua, com o instrumento de infravermelhos focado no hemisfério sul de Io.
O calor de Io
"O JIRAM detetou um evento de extrema brilho infravermelho - um enorme ponto quente - no hemisfério sul de Io, tão forte que saturou o nosso detetor", disse Alessandro Mura, coinvestigador da Juno do Instituto Nacional de Astrofísica em Roma. "No entanto, temos evidências de que o que detetámos são, na verdade, alguns pontos quentes espaçados que emitiram ao mesmo tempo, o que sugere um vasto sistema de câmaras magmáticas subterrâneas. Os dados suportam que esta é a erupção vulcânica mais intensa alguma vez registada em Io".
Imagens de Io, captadas em 2024 pela câmara JunoCam a bordo da sonda Juno da NASA, mostram alterações significativas e visíveis na superfície (indicadas pelas setas) perto do polo sul da lua joviana. Estas alterações ocorreram entre o 66.º e o 68.º perijove, ou seja, o ponto da órbita da Juno em que esta está mais próxima de Júpiter. Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS; processamento por Jason Perry
A equipe científica do JIRAM estima que a característica ainda sem nome se estende por 100.000 quilómetros quadrados. O anterior detentor do recorde era Loki Patera de Io, um lago de lava com cerca de 20.000 quilómetros quadrados. O valor total da potência do brilho do novo ponto quente mede bem mais de 80 biliões de watts.
A característica foi também captada pela JunoCam, a câmara visível da missão. A equipa comparou as imagens da JunoCam das duas passagens anteriores de Io com as que o instrumento recolheu dia 27 de dezembro. E embora estas imagens mais recentes tenham uma resolução mais baixa, uma vez que a Juno estava mais longe, as mudanças relativas na tonalidade da superfície em torno do ponto quente recém-descoberto eram claras. Tais mudanças na superfície de Io são conhecidas na comunidade científica planetária por estarem associadas a pontos quentes e atividade vulcânica.
Uma erupção desta magnitude é suscetível de deixar assinaturas de longa duração. Outras grandes erupções em Io criaram características variadas, tais como depósitos piroclásticos (fragmentos de rocha expelidos por um vulcão), pequenos fluxos de lava que podem ser alimentados por fissuras e depósitos de plumas vulcânicas ricas em enxofre e dióxido de enxofre.
A Juno vai usar um próximo "flyby" mais distante de Io, dia 3 de março, para observar novamente o ponto quente e procurar mudanças na paisagem. Também podem ser possíveis observações terrestres desta região da lua.
"Embora seja sempre ótimo testemunhar eventos que reescrevem os livros de recordes, este novo ponto quente pode potencialmente fazer muito mais", disse Bolton. "A característica intrigante pode melhorar a nossa compreensão do vulcanismo não só em Io, mas também noutros mundos".
Astronomia OnLine
Nenhum comentário:
Postar um comentário