Impressão de artista da superfície de Plutão, com uma neblina atmosférica, e Caronte e o Sol no céu. Crédito: ESO/L. Calçada
Aconchega-te, Plutão. O planeta anão, frio e distante, pode partilhar uma fina manta atmosférica com a sua maior lua. As simulações mostram que a atmosfera de azoto (ou nitrogénio) de Plutão pode fluir sobre a sua lua, Caronte. Se isto for confirmado, Plutão e Caronte serão o primeiro exemplo conhecido de um planeta e lua que partilham uma atmosfera. Caronte tem quase metade do tamanho de Plutão e orbita muito mais próximo do planeta anão do que a nossa Lua orbita a Terra. Estudos feitos na década de 1980 sugeriram que os dois corpos podiam ser capazes de trocar gases, mas essa investigação assumiu que a atmosfera de Plutão era composta principalmente por metano, e que o gás escapava a velocidades relativamente altas.
Usando telescópios terrestres, os astrónomos estudaram mais detalhadamente a luz reflectida por Plutão à procura de pistas da composição do planeta. A atmosfera de Plutão consiste principalmente de azoto, um gás mais pesado que o metano, e esta taxa de escape é mais baixa. "As pessoas pensavam que mesmo que Caronte ganhasse uma atmosfera graças a este processo, era demasiado fina para ser detectada," afirma Robert Johnson da Universidade da Virgínia em Charlottesville, EUA.
Agora, Johnson e a sua equipa actualizaram os modelos da atmosfera superior de Plutão, tendo em conta o modo como as moléculas de azoto movem-se e colidem umas com as outras. As suas simulações mostram que a atmosfera do planeta anão pode ser mais quente do que se pensa, e assim poderá ser até três vezes mais espessa do que se previa anteriormente. Isto significa que pode estender-se longe o suficiente no espaço para algum deste gás ser puxado pela gravidade de Caronte, dando-lhe uma cobertura ténue. A sonda New Horizons da NASA tem passagem prevista para o sistema plutoniano em Julho de 2015.
Segundo Alan Stern, o líder da missão no Instituto de Pesquisa do Sudoeste, em Boulder, no estado americano do Colorado, ela transporta instrumentos que podem detectar qualquer atmosfera presente em torno de Caronte e determinar a sua composição. O conhecimento das identidades e concentrações dos gases em torno de Caronte será essencial para a determinar se a atmosfera da lua é "emprestada" por Plutão ou criada por outros meios. Também é possível que gás do interior de Caronte esteja a escapar através de geysers ou aberturas para criar uma atmosfera fina. E o estudo mais recente de Stern sugere que impactos de cometas na superfície da lua podem libertar nuvens de gás e criar uma atmosfera transitória.
Mas caso Plutão e Caronte realmente partilhem uma atmosfera, o sistema pode fornecer um exemplo real de transferência gasosa entre dois corpos, ajudando a refinar modelos do fenómeno em outras partes da Galáxia. "Pensa-se que seja muito comum na astronomia, como no caso de estrelas binárias ou exoplanetas localizados muito perto das suas estrelas," afirma Johnson. "Os cálculos e modelos de computador são uma coisa. Mas temos uma sonda que vai passar por lá e testar directamente as nossas simulações, o que é muito emocionante."
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