A sonda Cassini da NASA revelou a presença de vulcões de gelo em Titã, lua de Saturno. Tratam-se de vulcões criogênicos que ejetam gelo de forma que lembra os da Terra, que expelem rocha derretida.
Os dados topográficos de Titã e sua composição superficial permitiram aos cientistas encontrar o melhor exemplo até agora no Sistema Solar exterior de uma formação vulcânica que expele gelo. Os resultados foram apresentados esta semana na reunião da União Americana de Geofísica em São Francisco.
“Quando observamos o nosso mapa tridimensional da região de Sotra Facula em Titã, ficamos surpresos com as semelhanças dos criovulcões de Titã com vulcões terrestres como o Monte Etna na Itália, o vulcão Laki na Islândia e até outros cones vulcânicos menores”, disse Randolph Kirk, que liderou o trabalho de desenvolvimento do mapa em 3-D, membro da equipe que opera o radar da Cassini e geofísico do Centro Científico de Astrogeologia do USGS (U.S. Geological Survey) em Flagstaff, Arizona, EUA.
Criovulcões
Os cientistas tem debatido há anos sobre a natureza e características dos vulcões de gelo, também chamados de criovulcões, em luas ricas em gelo. A teoria atual pressupõe a existência de alguns tipos de atividades geológicas sub-superficiais que aquecem o ambiente sub-superficial gelado, derretendo parte do interior da lua e liberando água congelada e outros materiais através de aberturas à superfície. Assim o material ejetado pelos criovulcões é bem diferente dos componentes expelidos nos vulcões na lua de Júpiter, Io, e nos vulcões terrestres, que derramam lava de silicato.
Alguns criovulcões conhecidos têm poucas similaridades com vulcões terrestres, tais como os das listas de tigres na lua de Saturno, Enceladus, onde longas fissuras expelem jactos de água e partículas de gelo que deixam poucos traços na superfície lunar. Em outros locais, as erupções de materiais mais densos “constroem” picos vulcânicos ou fluxos parecidos a dedos. Mas quando esses fluxos foram avistados em Titã no passado, as teorias explicaram-nos como processos não-vulcânicos, tais como rios que depositam sedimentos. Em Sotra, Titã, no entanto, o criovulcanismo é a melhor explicação para dois picos com mais de 1.000 metros de altura, com profundas crateras vulcânicas e fluxos ‘tipo-dedo’.
“Esta é a melhor evidência, até agora, da topografia vulcânica já documentada em um satélite gelado,” afirma Jeffrey Kargel, cientista planetário da Universidade do Arizona. “É possível que as montanhas sejam de origem tectônica, mas a interpretação da presença de um criovulcão é muito mais simples e a explicação associada mais consistente.”
Mapas de Titã em 3D
Kirk e colegas analisaram novas imagens de radar da Cassini. O seu grupo do USGS criou mapas topográficos e tridimensionais de Sotra Facula. Os dados do espectrômetro da Cassini revelaram que os fluxos têm uma composição diferente da superfície vizinha. Os cientistas não detectaram pistas sobre atividades recentes em Sotra, mas planejam monitorar esta área na busca por evidências de vulcanismo.
Esta imagem mostra a localização da área conhecida como Sotra Facula na lua de Saturno, Titã. As partes pretas e brancas mostram dados obtidos pelo radar da sonda Cassini. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona.
“Os criovulcões ajudam a explicar as forças geológicas que esculpem alguns destes lugares exóticos no nosso Sistema Solar,” afirmou Linda Spilker, cientista do projeto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. “Em Titã, por exemplo, o criovulcanismo pode explicar como é que o metano pode ser continuamente reabastecido na atmosfera enquanto que a luz solar quebra estas moléculas constantemente.”
A Cassini foi lançada a 15 de Outubro de 1997 e começou a orbitar Saturno em 2004. Saturno tem mais de 60 luas conhecidas, sendo Titã a maior delas. A missão Cassini-Huygens é um projeto de colaboração entre a NASA, a ESA e a Agência Espacial Italiana (ASI), gerenciada pelo JPL da NASA.
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