O telescópio espacial Gaia, dedicado ao mapeamento da Via Láctea, identificou grupos de estrelas primitivas no centro da nossa galáxia, que estavam ali quando estava se formando há mais de 12 bilhões de anos, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (21).
Imagem da Via Láctea capturada pelo satélite Gaia, fornecida pela agência espacial europeia em 25 de abril de 2018 ©
Estas duas "correntes de estrelas", com um movimento de rotação ordenado e que contêm, cada uma, a massa de 10 milhões de sóis, se assemelham aos "primeiros blocos de construção" do antigo coração da Via Láctea, onde as primeiras estrelas surgiram antes de a galáxia crescer e adquirir o atual formato em espiral", disse à AFP Khyati Malhan, do Instituto Max Planck de astrofísica, na Alemanha.
"Esta é a primeira vez que conseguimos identificar fragmentos desta protogaláxia", denominados Shakti e Shiva, nomes dos deuses hindus, "cuja união deu origem ao cosmos", diz o principal autor do estudo, publicado no The Astrophysical Journal.
A sonda Gaia, da ESA (Agência espacial europeia), que opera a 1,5 milhão de quilômetros da Terra há dez anos, forneceu em 2022 um mapa em 3D das posições e movimentos de mais de 1,8 bilhão de estrelas.
Este mapa facilitou identificar uma população de estrelas denominada "pobre velho coração" por sua antiguidade relacionada com uma frágil metalicidade (indicador químico de idade estelar) e sua situação central.
Era uma etapa importante para a arqueologia galática, que trata de reconstituir as diferentes épocas da história da Via Láctea, "assim como os arqueólogos reconstroem a história de uma cidade", destacou, em nota, o Instituto Max Planck.
O modelo da evolução da Via Láctea se assemelha a "uma velha cidade central cercada de bairros mais novos", segundo o instituto.
Porém, "quanto mais se recua no tempo e no espaço, mais o quadro da história galática fica embaçado", ressalta Khyati Malhan.
Os astrônomos investigaram esse coração arcaico, identificado em 2022. Eles tomaram uma amostra de 6 milhões de estrelas, estudaram sua química e sua posição, recorrendo especialmente à inteligência artificial.
Assim, localizaram duas "correntes estelares", Shakti e Shiva, formadas entre 12 e 13 bilhões de anos, nos primórdios da Via Láctea.
E, surpresa: suas estrelas têm uma metalicidade anormalmente elevada para sua antiguidade. Este é um sinal provável de que surgiram de uma geração de estrelas anterior. Ao morrer, estas últimas liberaram elementos químicos que "inocularam" o gás interestelar do qual saíram as estrelas de Shakti e Shiva.
"Esclarecer a infância da nossa galáxia é uma das missões de Gaia, e está conseguindo", comemora Timo Prusti, encarregado científico do projeto na ESA.
No entanto, é difícil "encontrar o embrião" original da Via Láctea, acrescentou Khyati Malhan.
MSN
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