A descoberta de galáxias com baixa luminosidade e grande quantidade de matéria escura indica que nós, da Via Láctea, somos minoria no Universo
Via Láctea
A Via Láctea, nosso endereço galáctico, é uma parte infimamente pequena do que o homem já desvendou no Universo. Descobrimos que somos ainda menores em 1999, quando astrônomos americanos e australianos comprovaram a existência de galáxias “fantasmas”. Elas são quase invisíveis, mesmo para os mais poderosos telescópios, porque produzem pouquíssima luz e possuem grande quantidade de matéria escura. Os astrônomos John Kormendy, da Universidade do Havaí, e Kenneth Freeman, do observatório australiano de Mount Stromlo, examinaram cerca de 40 galáxias com luminosidade bem inferior à das galáxias já catalogadas. Eles acreditam que esses conjuntos de estrelas sejam mais pesados e existam em maior número do que as galáxias luminosas, como a nossa Via Láctea. Conclusão: nós somos minoria no Universo, mas ainda não sabemos para o que estamos perdendo. Estima-se que menos de 10% de toda a matéria no Universo seja igual à nossa, composta de prótons, nêutrons e elétrons. Os 90% restantes ainda estão sendo estudados e continuam uma incógnita para os cientistas. Desde que essas galáxias “fantasmas” foram fotografadas, os observatórios apontaram as lentes de seus telescópios para dezenas de galáxias escuras. Constataram que as menores, com um centésimo da luminosidade da Via Láctea, têm apenas 1% de sua matéria em forma de estrelas. A Via Láctea, por exemplo, uma galáxia de grande porte, tem 50% de matéria luminosa.
Uma outra equipe de astrônomos encontrou evidências que corroboram o achado de Kormendy e Freeman. Durante dez horas, o telescópio Hubble captou imagens da distante galáxia chamada NGC 5907, a 40 milhões de anos-luz da Terra. “Esperávamos observar centenas de estrelas na galáxia, mas, na verdade, vimos muito poucas”, disse o pesquisador Michael Liu, da Universidade da Califórnia. A galáxia não tem suficientes estrelas visíveis para manter uma coesão gravitacional. Mas parece ter grande quantidade de estrelas-anãs de baixa luminosidade, cuja presença pôde ser detectada graças à influência gravitacional nos corpos celestes vizinhos. Embora diversas perguntas permaneçam sem resposta, a descoberta de galáxias distantes com matéria escura abundante oferece pistas de como elas se desenvolveram nos primórdios do Universo. E certamente já mudou aquele velho conceito que você aprendeu na escola – o de que as galáxias não passam de conjuntos de bilhões de estrelas.
Um passo no escuro
A matéria escura não é visível, mas pode ser "sentida"
Nos anos 30, o astrônomo suíço Fritz Zwicky observou o movimento de aglomerados de galáxias e constatou que há muito mais coisas no espaço do que podemos enxergar. O Universo é rico num tipo de matéria diferente daquela de que somos compostos – prótons, nêutrons e elétrons. Essa matéria foi batizada de escura porque não emite luz própria, como as estrelas. A matéria escura não é visível nem por telescópios poderosos como o Hubble, mas pode ser detectada por causa de sua massa, que atrai a matéria comum pela força da gravidade. Os astrônomos sabem que ela existe porque registram os seus efeitos sobre a matéria que brilha. Os conhecimentos sobre a matéria escura param por aí. Ninguém sabe precisar do que ela é composta. Sete décadas depois das observações de Zwicky, alguns cientistas propuseram que talvez as leis da física não sejam aplicáveis a todo o Universo. Outros acham que essa opinião seria jogar a toalha antes de tentar buscar uma explicação. Uma polêmica que, até agora, não tem vencedores.
O impacto da descoberta
É possível que as galáxias “fantasmas” sejam dominantes no Universo, superando as luminosas, como a Via Láctea. Isso reduziria incrivelmente nossa importância no espaço. Também ajudaria a entender os primórdios do Universo.
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