Apesar das enormes diferenças entre as características e as composições das atmosferas de Vênus e da Terra, os cientistas descobriram que há mecanismos muito semelhantes a produzir relâmpagos nestes dois mundos.
A freqüência das descargas, a intensidade e a distribuição espacial dos relâmpagos são comparáveis e assim os pesquisadores foram buscar um melhor entendimento sobre a química, dinâmica e a evolução das atmosferas dos dois planetas.
A história da pesquisa
Missões anteriores, como as das sondas Venera, seguidas posteriormente pela Pioneer Venus Orbiter e mais recentemente pela espaçonave Galileu, relataram evidências de ondas óticas e eletromagnéticas produzidas Vênus que podem ter sido originadas em tempestades de raios. Isto foi também confirmado por telescópios terrestres que capturaram relâmpagos em Vênus. Mas as diferenças nas duas atmosferas levaram alguns cientistas a afirmar que os relâmpagos em Vênus seriam talvez improváveis e o tópico foi considerado controverso. O lançamento da Venus Express com seu magnetômetro (construído no Space Research Institute em Graz, Áustria) providenciou uma ótima oportunidade para confirmar definitivamente a ocorrência de relâmpagos em Vênus e para estudar em detalhes seu campo magnético em altitudes na faixa dos 200 a 500 km.
“Pequenos pulsos fortes dos sinais esperados a serem produzidos por relâmpagos foram vistos quase imediatamente após a chegada da sonda em Vênus, apesar da normalmente desfavorável orientação do campo magnético para a entrada dos sinais oriundos da ionosfera de Vênus nas altitudes das medições da sonda Venus Express,” afirmou o Dr. Russell da Universidade da Califórnia, EUA. As ondas eletromagnéticas que Russell e equipe observaram são fortemente guiadas pelo campo magnético venusiano e podem ser detectadas pela sonda apenas quando o campo magnético oscila horizontalmente por mais de 15º. Isto é muito diferente da situação verificada na Terra, onde os sinais dos relâmpagos são auxiliados pelo campo magnético quase vertical em sua entrada na ionosfera.
Formação de novas moléculas
Quando as nuvens se formam, na Terra ou em Vênus, a energia que o Sol depositou no ar pode ser liberada em uma descarga elétrica muito forte. À medida que as partículas das nuvens colidem, estas transferem as cargas elétricas das partículas grandes para as partículas menores. A seguir, as grandes partículas se precipitam enquanto as partículas menores são transportadas para cima. A separação dessas cargas é o que provoca os relâmpagos. Este processo é importante para uma atmosfera planetária porque eleva a temperatura e a pressão de uma pequena fração da atmosfera para um valor extremo, o que permite a formação de novos compostos químicos, o que não seria possível de ocorrer sob temperaturas e a pressões atmosféricas normais. Esta é uma das razões pela qual alguns cientistas sugerem que os relâmpagos poderão ter ajudado ao nascimento da vida na Terra.
Planetas gêmeos?
No nosso planeta ocorrem em média cerca de 100 relâmpagos por segundo, mas a partir de certa localização nós vemos muito menos. Similarmente, em Vênus não conseguimos observar todo do planeta de uma só vez e temos que estimar a ocorrência total através de extrapolações. Graças a novos dados da Venus Express, Russell e seus colegas foram capazes de mostrar que os relâmpagos são semelhantes em força na Terra e em Vênus considerando as mesmas altitudes. “Analisamos 3,5 anos terrestres de dados dos raios em Vênus usando os dados de baixa-altitude da Venus Express (10 minutos por dia). Pela comparação das ondas eletromagnéticas produzidas nos dois planetas, descobrimos sinais magnéticos mais poderosos em Vênus, mas quando convertidos para fluxos energéticos descobrimos forças de relâmpagos muito semelhantes,” realça o Dr. Russell. Também parece que os relâmpagos são mais predominantes no lado diurno do que no noturno e acontecem com mais regularidade em latitudes venusianas mais baixas, onde a entrada de luz solar na atmosfera é mais forte.
“Vênus e a Terra são normalmente denominados planetas gêmeos devido ao seu tamanho, massa e estrutura interior semelhantes. A produção de relâmpagos é mais outra maneira pela qual Vênus e a Terra são gêmeos fraternos”, conclui Russell.
Nenhum comentário:
Postar um comentário