Os novos achados do Hubble encerram uma década de especulação e debate acerca da verdadeira natureza deste mundo antigo, que leva um século a completar uma órbita. O planeta tem 2,5 vezes a massa de Júpiter. A sua simples existência proporciona uma extraordinária prova de que os primeiros planetas se formaram rapidamente, menos de mil milhões de anos depois do Big Bang, o que leva os astrónomos a concluir que os planetas podem ser muito abundantes no Universo.
O planeta encontra-se perto do coração do aglomerado globular M4, situado a 5 600 anos-luz
na direcção da constelação
do Escorpião. Os aglomerados globulares são deficientes em elementos pesados, porque se formaram tão no início do Universo que esses elementos ainda não tinham sido produzidos em abundância pelas fornalhas nucleares das estrelas. Por essa razão, alguns astrónomos têm argumentado que os aglomerados globulares não podem conter planetas. Esta conclusão foi de certo modo fortalecida em 1999 quando o Hubble não encontrou planetas ao redor de estrelas do aglomerado globular 47 Tucanae. Agora, parece que os astrónomos estavam simplesmente a olhar para o sítio errado, e que mundos gigantes podem ser comuns em aglomerados globulares. Com efeito, o planeta encontra-se num sítio muito improvável, em órbita simultâneamente de uma anã branca
e de uma estrela de neutrões
, e próximo do povoadíssimo centro de um aglomerado globular. Num local como este, os frágeis sistemas planetários tendem a desfazer-se devido às interacções gravitacionais com estrelas vizinhas.
A história da descoberta deste planeta começou em 1988 quando se descobriu em M4 o pulsar B1620-26. Este pulsar é uma estrelas de neutrões
que gira quase 100 vezes por segundo e emite pulsos de rádio
como se fosse um farol. A anã branca foi rapidamente descoberta devido ao seu efeito sobre as pulsações do pulsar. Algum tempo depois os investigadores notaram outras irregularidades no pulsar que implicava a presença de um terceiro objecto a orbitar as duas estrelas. Suspeitou-se que o novo objecto fosse um planeta, ainda que também pudesse ser uma anã castanha
ou uma estrela de pequena massa. O debate acerca da sua verdadeira identidade continuou ao longo da década de 1990.
O debate foi agora resolvido pela medição da massa do terceiro corpo. Analisando dados do Hubble, obtidos em meados dos anos 1990 para estudar anãs brancas em M4, Steinn Sigurdsson, da Universidade Estatal da Pensilvânia (EUA), e os seus colaboradores foram capazes de detectar a anã branca que orbita o pulsar e de medir a sua cor e temperatura. Estas medições permitiram, com a ajuda de modelos de evolução estelar, determinar a massa da anã branca.
A comparação da massa da anã branca, com a variação do sinal do pulsar, permitiu calcular a inclinação da órbita
vista da Terra. Este resultado, uma vez combinado com estudos do pulsar realizados no rádio, permitiu também determinar a inclinação da órbita do planeta, o que por sua vez permitiu finalmente determinar a sua massa. Com uma massa de apenas 2,5 vezes a de Júpiter, o objecto é demasiado pequeno para ser uma anã castanha e tem de ser um planeta. O planeta é muito provavelmente um gigante gasoso sem uma superfície sólida.
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