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terça-feira, 31 de março de 2020

Onde estaria Nêmesis?

Um objeto sombrio pode estar se espreitando nos confins do nosso Sistema Solar e atirando cometas em nossa direção há milhões de anos. Esse objeto seria o responsável pelos eventos de destruição em massa na Terra, bem como pelo tráfego de cometas que aparecem inesperadamente vez ou outra. Mas quem seria essa presença sinistra? Batizado de Nêmesis, ou estrela da morte, esse objeto seria uma estrela do tipo anã vermelha, mas poderia ser uma anã marrom ou mesmo um planeta com várias vezes a massa de Júpiter.

De onde vem uma ideia tão sinistra como essa? A história é antiga.


Originalmente, a hipótese de existir Nêmesis foi sugerida para explicar os episódios de extinção em massa na Terra. Os paleontologistas David Raup e Jack Sepkoski afirmam que nos últimos 250 milhões de anos a vida na Terra sofreu extinção em ciclos de 26 milhões de anos de período. Alguns astrônomos sugerem que essas catástrofes são causadas por impactos de cometas. 

Um caso famoso é o impacto de um asteróide há 65 milhões de anos que promoveu a extinção dos dinossauros, ou o evento de Tunguska na Rússia em 1908, com efeito equivalente a uma bomba atômica cem vezes mais poderosa que a de Hiroshima, que e derrubou 80 milhões de árvores, devastando uma área de mais de mil quilômetros quadrados. A sorte, nesse caso, é que a explosão se deu sobre a Sibéria. Fosse na Europa ou nos Estados Unidos…

Questão é que o nosso Sistema Solar é rodeado por uma vasta coleção de corpos gelados chamada de Nuvem de Oort, restos da nuvem que colapsou para formar nosso Sol e, por consequência, os planetas. Se o Sol faz parte de um sistema binário (veja a explicação no diagrama acima), certas configurações nas órbitas do par deveria dar um puxão gravitacional nesse objetos gelados da Nuvem de Oort, arrancando um deles na direção do Sistema Solar. A hipótese do Sol ter uma companheira é estranha, mas não é absurda. Na verdade, mais de um terço das estrelas da nossa Galáxia estão em sistemas com pelo menos duas estrelas. O difícil aqui é provar isso.

Um planeta-anão que está onde não deveria estar

Sedna pode ser uma pista. O planeta-anão Sedna, aquele mesmo que propiciou a discussão e o posterior rebaixamento de Plutão, é um objeto esquisito. Segundo Mike Brown, seu descobridor, ele não deveria estar onde está. Segundo Brown, não há como explicar sua órbita, pois ele nunca está próximo o suficiente para ser afetado pelo Sol, mas também nunca está longe o suficiente para ser afetado pelas outras estrelas. Em suma, o que prende Sedna ao Sistema Solar? Além disso, a maioria dos cometas que chegam ao Sistema Solar interior (para “dentro” da órbita da Terra) parece vir de uma mesma região da Nuvem de Oort. 

Esses fatos dão força à hipótese de Nêmesis, que teria de ter entre 3 e 5 massas de Júpiter no mínimo. Para esse limite de massa, ou mesmo para algumas dezenas de vezes a massa de Júpiter, esse objeto seria um planeta massivo ou uma anã-marrom. Em ambos os casos, seria praticamente indetectável no visível, mas muito brilhante no infravermelho. Mesmo Mark Brown já admitiu que esse objeto, se existir, seria muito pequeno, estaria muito longe e seria muito lento. Facilmente ele passaria desapercebido nas suas observações.

Satélite Wise reforça o time

Mas essa história pode mudar. Em janeiro deste ano entrou em operação o satélite Wise da Nasa, que está mapeando o céu todo em infravermelho. Com um campo de visão bem amplo e uma sensibilidade fantástica, o satélite tem por objetivo detectar mil anãs-marrons a distâncias de até 25 anos-luz da Terra. O problema é que, para detectar Nêmesis, será preciso esperar por duas imagens do Wise para que se possa compará-las e identificar o objeto que se moveu de uma para outra. 

Isso só deve acontecer em meados de 2012 e, ainda assim, leva um ano para analisar as imagens e pedir tempo em telescópios na Terra que possam fazer a confirmação. Essa história de Nêmesis é bem antiga e controversa, indo e vindo com o passar do tempo. Na verdade, a última vez que eu ouvi alguma coisa sobre o assunto foi há muito tempo – e na verdade para enterrá-lo. Agora ele volta a ser discutido e pode ser efetivamente comprovado em alguns anos. O negócio é aguardar!
Fonte: http://colunas.g1.com.br/observatoriog1

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