Uma notícia correu nos últimos dias dizendo que “cientistas australianos descobrem estrela mais antiga do universo”. Veja esse título aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, só para citar alguns locais na internet. Todos fizeram eco a uma má tradução de algo escrito pela Universidade Nacional da Austrália, ANU (sigla do inglês Australian National University), que publicou em seu site: “ANU astronomers discover oldest star“. Esse título deixa indefinido se a estrela em questão é a mais antiga do Universo ou a mais antiga já observada até o momento, o que é bastante diferente de ser a estrela mais antiga do Universo.
Por favor, sempre que você ler alguma reportagem científica, desconfie de coisas muito superlativas como “a mais do Universo”, “a menos do Universo”, ou de expressões que inspirem muita exatidão, como, “com precisão absoluta”, “absolutamente”, “o único do Universo”. Não conhecemos todas as estrelas do Universo. Portanto, como saber qual é a mais antiga de todas, se não conhecemos todas? O título do trabalho original dos Astrônomos, que pode ser lido aqui (em inglês), nem sequer sugere algo semelhante.
O que eles fizeram foi descobrir uma estrela que veio a ser uma das mais antigas já observadas, a SM0313 (uma abreviação de seu nome completo, SMSS J031300.36-670839.3). Ela está a uma distância de cerca de 6 mil anos-luz de nós na constelação da Hidra. Analisando o espectro da estrela, os astrônomos perceberam que ela não possui nenhum ferro ou uma quantidade abaixo do limite de 10-7,1 vezes a abundância de ferro no Sol. Comparando o perfil de abundâncias químicas dessa estrela com os modelos de evolução estelar e com os perfis de outras quatro estrelas conhecidas e muito pobres em elementos mais pesados que o hélio, os astrônomos concluíram que SM0313 nasceu de material enriquecido por uma supernova, essa, sim, membro da primeira geração de estrelas a se formarem após o big-bang. Os pesquisadores acham que apenas uma supernova esteve envolvida.
Em geral, supernovas são eventos que liberam muita energia. Mas essas supernovas da primeira geração de estrelas teriam sido eventos menos energéticos que as que acontecem na idade atual do Universo. Ainda assim, elas teriam produzido ferro e outros elementos mais pesados. Dada a baixíssima, ou ausente, quantidade de ferro em SM0313, os pesquisadores acreditam que essa supernova, que deve ter tido massa original de cerca de 60 vezes a do Sol, deu origem a um buraco negro para onde teria ido o ferro e os outros elementos mais pesados produzidos.
Não podemos dizer, de maneira nenhuma, que essa é a estrela mais antiga do Universo, mas podemos dizer com segurança que é uma delas. E ela nos permite conhecer a química das primeiras estrelas e até especular sobre supernovas originadas das primeiras estrelas de fato. Desconfie dos títulos muito pirotécnicos, mas nunca desconfie da maravilha de qualquer trabalho na Astronomia.
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