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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Dois buracos negros vão colidir na constelação de Virgem




A COLISÃO DE DOIS BURACOS NEGROS PROPAGA ONDAS GRAVITACIONAIS PELO TECIDO DO ESPAÇO-TEMPO (FOTO: SWINBURNE ASTRONOMY PRODUCTIONS | REPRODUÇÃO)

Em uma região muito distante da Terra, nas profundezas da constelação de Virgem, dois buracos negros monstruosos estão prestes a se chocar. O evento cataclísmico vai ocorrer a 3,5 bilhões de anos luz daqui, e quando digo que eles estão “prestes a se chocar”, não se engane - estou falando em termos cósmicos. A colisão deve acontecer só daqui a 100 mil anos. Para a escala de tempo humana, isso é uma eternidade, mas quando o papo é sobre estrelas ou buracos negros, esse período não passa de um piscar de olhos.

 tem mais: no momento crítico em que as duas estruturas colidirem, tamanha violência deve liberar uma grande quantidade de ondas gravitacionais, que são deformações propagadas pelo tecido do espaço-tempoprevistas pela teoria da relatividade geral de Einstein. Até agora, muitos tentaram, mas ninguém conseguiu detectar essas perturbações. Este é um dos motivos pelos quais os astrônomos estão bastante empolgados com a chance de acompanhar a colisão, mas existem outros.  
“Assistir esse processo atingir seu ápice pode nos dizer se os buracos negros e as galáxias crescem no mesmo ritmo, e em última análise uma propriedade fundamental do espaço-tempo: sua habilidade de carregar vibrações chamadas ondas gravitacionais, produzidas no último, mais violento estágio da fusão”, explicou em um comunicado Zoltan Haiman, astrônomo da Universidade Columbia e um dos autores do artigo que descreve os objetos, publicado nesta terça-feira (16) na revista Nature. Até então, os dois buracos negros mais próximos entre si observados por cientistas estavam a uma distância de 20 anos-luz um do outro. Este par está separado por apenas uma semana-luz.



ONDAS GRAVITACIONAIS PRODUZIDAS POR UMA COLISÃO (FOTO: REPRODUÇÃO)

Pesquisadores conseguem identificar esses buracos negros binários porque eles emitem de tempos em tempos uma grande quantidade de luz visível e ultravioleta - são os chamados quasares. Os dois objetos em rota de colisão na constelação de Virgem formam o quasar PG 1302-102. No início de 2015, cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltch) descobriram que o brilho que ele emite aumenta 14% a cada cinco anos. Intrigados com a constatação, Haiman e seus colegas desenvolveram um modelo teórico para explicar a variação repetitiva e acabaram obtendo informações mais detalhadas sobre o quasar.

Antes do estudo, os astrônomos trabalhavam com uma estimativa vaga de 10 mil a muitos milhões de anos até a colisão. A nova técnica reduziu a previsão para 20 mil a 350 mil anos, sendo que a maior probabilidade é de que o choque ocorra daqui a 100 mil anos. O mais interessante é que o modelo pode ser aplicado a outros buracos negros binários, que vêm sendo descobertos aos montes.

Vinte pares já foram confirmados, e a mesma equipe do Caltech reportou mais 90 candidatos. O cenário é promissor para que uma colisão seja identificada ainda na próxima década e, consequentemente, para que as elusivas ondas gravitacionais possam, enfim, ser detectadas. “A detecção das ondas gravitacionais nos permite sondar os segredos da gravidade e testar a teoria de Einstein no ambiente mais extremo de nosso universo - buracos negros”, afirmou o principal autor do estudo, o estudante de graduação Daniel D’Orazio, também de Columbia. “Chegar lá é o santo graal de nosso campo.”

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