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sábado, 7 de junho de 2014

O Kepler está morto. Longa vida ao K2!

Em sua nova missão, o telescópio espacial buscará planetas nas constelações do zodíaco


Depois de pifar e ter sido desenganado pela Nasa no ano passado, o satélite caçador de planetas Kepler voltará oficialmente à ativa a partir desta sexta-feira. Os pesquisadores envolvidos com o projeto desenvolveram uma técnica para operá-lo mesmo defeituoso, e a agência espacial americana acaba de aprovar um orçamento de dois anos para a iniciativa, batizada de K2. É basicamente uma nova missão, com um velho telescópio espacial. Em sua operação original, o Kepler ficava o tempo todo apontado para a mesma região do céu, na direção das constelações de Cisne e Lira. Agora, ele apontará em diferentes direções do céu a cada época do ano. “A missão K2 irá observar campos-alvo ao longo do plano da eclíptica, a trajetória orbital dos planetas em nosso Sistema Solar, também conhecido como zodíaco”, afirma Charlie Sobeck, gerente da missão da Nasa. Cada campanha de observação terá cerca de 75 dias. Esse é o tempo que o satélite terá para identificar planetas que passem à frente de suas estrelas — os chamados trânsitos planetários. Na prática, isso quer dizer que o K2 está limitado a descobrir mundos com órbitas curtas, menores que a de Mercúrio no Sistema Solar.

UMA SOLUÇÃO ENGENHOSA
Lançado em 2009, o Kepler foi originalmente equipado com quatro dispositivos destinados a mantê-lo apontado de forma estável no espaço. Pelo menos três dessas chamadas rodas de reação eram necessárias para controlar o satélite nos três eixos de apontamento (X, Y e Z). Como dois deles pifaram, só restaram outros dois, o que fez a Nasa decretar o fim da missão original, em agosto de 2013. Então, os engenheiros tiveram uma ideia. E se eles usassem a pressão da radiação solar no lugar da terceira roda de atuação? Ela faria a estabilização num dos eixos, e os outros dois dariam conta do resto do serviço. Nascia o conceito da missão K2.

Como o telescópio espacial está numa órbita em torno do Sol, a direção de onde vêm as partículas do vento solar muda com relação ao satélite ao longo do tempo. Por isso ele precisa ser “reapontado” a cada 80 dias, mais ou menos, para se realinhar com o Sol e manter a estabilidade. Por isso foi preciso mudar a estratégia de observação. Em vez de manter um único campo de visão o tempo todo, ele vai alternando o campo conforme avança em sua órbita ao redor do Sol. A Nasa fez testes entre fevereiro e março e mostrou que é possível controlar a espaçonave desse modo. Perde-se um pouco da sensibilidade original (ficou mais ou menos em um terço da original), mas ainda assim o potencial é para muitas descobertas.

PERDAS E GANHOS
Estima-se que, a cada bateria de observações, o Kepler monitore cerca de 10 mil estrelas simultaneamente. É bem menos que na missão original (150 mil), mas ainda assim um número suficiente para um bom número de detecções. Os pesquisadores estimam que o satélite consiga descobrir nos próximos dois anos cerca de 200 planetas com tamanho similar ao da Terra (com diâmetro entre 80% e 200% do terrestre) em torno de estrelas anãs vermelhas (menores e menos brilhantes que o Sol), com alguns deles na zona habitável — onde em tese pode haver água líquida. Uma consequência interessante dessa mudança de planos é que, ao sair de seu campo de visão original, o caçador de planetas estudará estrelas mais próximas — o que, por sua vez, gerará alvos adequados para futuras observações de caracterização dos mundos descobertos.

Em suma: poderemos procurar sinais de vida em sua atmosfera com equipamentos como o Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble agendado para voar em 2018. Antes mesmo de ter seu orçamento de dois anos aprovado, a missão K2 já fez uma campanha de teste (denominada C0), que acaba de terminar. Embora a primeira bateria de observações efetivamente científica vá começar agora, no dia 30, é certo que os esforços preliminares já produzirão novas descobertas. A C0 aconteceu na direção da constelação de Gêmeos. Ainda em 2014, a C1, primeira campanha com foco científico, vai mirar entre Leão e Virgem, e a C2 apontará para Escorpião e Ofiúco. Não sei quanto a você, mas já estou ansioso pelas novas descobertas!

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