No início do século 20, alguns astrônomos estavam certos de que seres inteligentes viveram em Marte. Foi o cientista americano Percival Lowell que popularizou a ideia de que os marcianos construíram canais para irrigar seu planeta. Já em 1965, a sonda Mariner 4 registrou as primeiras fotografias detalhadas do planeta vermelho, revelando uma superfície árida e cheia de crateras, parecida com a da lua. Mas como seria nossa vida se fossemos viver em Marte?
A missão Viking, de 1976, mostrou resultados negativos para a presença de micróbios em Marte, mas a descoberta de nuvens de metano na atmosfera do planeta foi recebida como uma pista tentadora, apontando para a vida subterrânea e aumentando a esperança dos especialistas.
O astrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Kepler Oliveira, explica que, hipoteticamente, se os humanos um dia decidirem viver no planeta vermelho, terão que superar diversos obstáculos. "Marte é um planeta rochoso, bem menor do que a Terra, com 10% da massa e metade do raio, mas como uma tênue atmosfera. Como está 52% mais distante do Sol do que a Terra, recebe 43% da luz solar que nós recebemos, ficando por isso a -23ºC", afirma.
"A vida seria possível desde que o homem resolvesse o problema da atmosfera, seja usando tanques de ar, seja produzindo uma atmosfera lá", explica. "Só seria possível modificar o planeta, para que ficasse mais parecido com a Terra, em termos de alguma atmosfera e temperatura, com uma enorme doma, ou várias. Nada pode se fazer quanto à gravidade menor", diz.
Para recriar o ambiente da Terra, seria preciso contar com grandes plantações. Os humanos também estariam limitados na escolha de roupas. "Sem atmosfera e com o frio, teríamos que manter a roupa especial", lembra o cientista. Mas nada disso seria para o futuro próximo. Conforme o astrônomo, o homem está a centenas de anos de distância desta possibilidade.
Passado diferente
Marte já foi uma planeta bem diferente, quente e úmido. Analisando sua superfície, pode-se constatar a presença de vales ligados entre si, marcas gigantescas de erosão, paredes de crateras desgastadas e enormes canais, formados por um dilúvio catastrófico que ocorreu há 3,8 bilhões de anos e semelhante ao que formou a região de Channeled Scabland, no estado de Washington, nos Estados Unidos.
Imagina-se que rios gigantescos, de mais de 100 km de largura, com cerca de 500 m de profundidade e com água correndo a 200 km por hora, deram a Marte um oceano que continha mais água que o Caribe e o Mediterrâneo juntos. Como se não bastasse, a maior evidência do que Marte já foi um dia veio a tona em novembro de 2004, com uma descoberta feita pelo robô Opportunity. Ele encontrou no planeta depósitos de Gipsita - sulfato de cálcio que só pode ser formado quando desidratado, ou seja, retirando a água da composição.
Após anos de chuvas torrenciais e ininterruptas, a água de Marte começou a se alojar no subsolo, congelar e evaporar da superfície. O mar virou deserto, os vulcões adormeceram e o vento solar levou o resto de atmosfera que o planeta tinha, deixando a sua superfície fria, seca e exposta demais para suportar vida.
Futuro
O processo de envelhecimento do Sol pode mudar esta história. Conforme declarações de Chris McKay, cientista da agência espacial americana (Nasa), o mesmo processo que irá acabar com a vida na Terra pode trazer o renascimento de Marte. Isso porque o Sol queima o hidrogênio que está no seu núcleo há cerca de 4,5 bilhões de anos, e quando este elemento terminar, daqui a 1,5 bilhão de anos, o núcleo entrará em colapso, aumentando sua temperatura e fazendo as camadas exteriores se expandirem por um fator de cerca de 100 vezes.
Enquanto evaporar os oceanos da Terra, o Sol também poderá derreter a água hoje congelada em Marte. "Se considerarmos que temos água congelada lá, e que o sol ficará mais quente, o solo de Marte poderá subir em temperatura e a água derreter. O gelo pode virar oceano, Marte poderá ter um ambiente rico em água e este processo disparar uma emissão de CO2 muito rapidamente. Isso aconteceria num estágio que o Sol estivesse duas ou três vezes mais brilhante do que é hoje", diz McKay.
"No fim, a temperatura iria de muito fria para muito quente, e não seria uma solução de longo-prazo. Nenhum lugar será eternamente apropriado para vida", completa o astrônomo.
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