É muito cedo para dizer com certeza, mas os astrônomos podem ter descoberto uma nova pista para a natureza da matéria escura – material cósmico invisível com pelo menos cinco vezes a massa de todas as estrelas e galáxias visíveis juntas. A pista vem sob a forma de raios gama, um tipo de luz que o olho humano não consegue detectar, proveniente de uma galáxia anã recém-descoberta chamada Reticulum 2. A Reticulum 2, que paira para além da borda da Via Láctea, a cerca de 98 mil luz-anos da Terra, é fascinante à sua maneira: ela tem não mais do que alguns milhares de estrelas (em comparação com a centena de bilhões ou mais da Via Láctea) incorporadas em um aglomerado de matéria escura, o que é semelhante às primeiras galáxias pequenas que surgiram depois do Big Bang.
O mistério da matéria escura remonta até a década de 1930, quando o lendário astrônomo Fritz Zwicky notou pela primeira vez que as galáxias em aglomerados pareciam estar se movendo sob a gravidade de alguma substância estranha e invisível. Mas até agora ninguém descobriu o que ela realmente é. A Reticulum 2, juntamente com outras oito galáxias anãs recentemente descobertas, são intrigantes pelo que podem dizer aos cientistas sobre como pode ter sido o início do universo. Mas elas também são lugares muito bons para tentar descobrir o que é a matéria escura, porque têm mais dessa substância em comparação com a matéria visível do que uma galáxia grande, como a Via Láctea.
Raios gama e matéria escura
Os astrofísicos estavam especialmente interessados em ver se a galáxia estava emitindo raios gama, porque se a matéria escura for realmente um tipo de partícula elementar ainda não descoberta, como muitos cientistas suspeitam, então os raios seriam produzidos quando as partículas e suas antipartículas se encontram e se aniquilam mutuamente. Então, várias equipes começaram a vasculhar dados do Telescópio Espacial Fermi de Raios Gama, da Nasa, a procura de algum sinais reveladores vindo da direção da Reticulum 2. Uma das equipes encontrou os raios gama que estava procurando. “Os vimos quase que imediatamente”, conta Matthew Walker, da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, coautor de um artigo sobre a descoberta que foi enviado para a revista “Physical Review Letters”. Se a equipe estiver certa, o mistério milenar de Zwicky pode ter sido resolvido.
Porém, somente se o grupo estiver certo. Uma equipe diferente fez a sua própria análise e declarou, em seu próprio artigo, submetido à “Astrophysical Journal Letters”, que, enquanto parece existir um excesso de raios gama provenientes da Reticulum 2, o nível não chega a ser significativo. “O nosso grupo tende a ser mais conservador em nossas interpretações”, diz o principal autor, Alex Drlica-Wagner, do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi, que é formalmente afiliado ao telescópio Fermi. “[Grupos de pesquisa] externos tendem a ser mais ousados”. No passado, astrônomos alegaram ter visto evidências de partículas de matéria escura e tais afirmações foram derrubadas na sequência. Contudo, Drlica-Wagner não descarta a ideia de que novas observações e análises poderiam convencer os conservadores de que os raios gama são mais significativos do que eles acreditam no momento. Mais cedo ou mais tarde, os astrônomos vão descobrir o que a matéria escura é realmente. Há uma chance de que isso possa estar acontecendo agora.
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